Estou aqui para contar minha história,
Transpassando minha dor venho escrever.
Da memória isso não me sai,
Para desabafar é que vim a renascer.
Bobby é meu nome,
O que me aconteceu foi um ato de coragem,
Por causa de uma briga,
Foi perdida aquela viajem.
Uma viajem sem volta,
Para um lugar sem luz,
Fui para um caminho sem vida,
Carregava em mim uma cruz.
Mas antes não sabia,
Eu ainda não me tocava,
Que por um ato de descuido,
Minha família toda chorava.
Antes do acontecimento,
Eu era tão contente,
Só eu e meu piano,
Seguia as notas acusticamente.
Eu gostava de tocar,
Minha família era toda unida.
Mas o que aconteceu,
Me deixou uma eterna divida.
Eu tinha meu avô,
Ele gostava de guerrear,
Na época das guerras,
Ele deu o que falar.
Como qualquer parente,
Ele queria isso pra mim,
Mas eu sou pianista,
Não queria morrer assim.
Um certo dia eu estava,
Na varanda, com ele conversando,
Ele começou a me dizer,
Que queria que eu estivesse guerreando.
Eu logo disse não,
Não podia deixar minha família,
Tinha meus pais e minha mulher,
E além disso minha filha.
Começamos a discutir,
Ele fico chateado,
Após alguns segundos,
Seu coração estava parado.
Um homem bateu em minha porta,
Para um convite me fazer.
Após ouvir suas palavras,
Senti que meu fim ia se anteceder.
O que ele me falou,
Me deu um aperto no peito,
Mas disse “sim” para ele,
E o trato já estava feito.
Não gostava muito disso,
Mas foi por honra que o fiz.
Meu avô iria se orgulhar,
E mesmo morto estaria feliz.
Aproveitei o máximo que pude,
Brinquei todos os dias com minha menina,
Eu disse que voltaria,
E mesmo que fosse eu ainda a amaria.
Com minha mulher foi o mesmo,
A noite eu a abraçava forte,
E ao abraçá-la percebi,
Eu era um homem de sorte.
Eu contei para minha mãe,
Ela sentou no chão a chorar,
E chorando me dizia,
“Você não pode me deixar”
Meu pai também sofreu,
Apesar de sentir orgulho,
O filho dele estava sendo homem,
E para ele era o melhor presente do mundo.
Mamãe sofreu demais,
Aquilo começou a doer,
Mas logo ela aceitaria,
Se eu desistisse o resto da vida iria sofrer.
Eu chorei com minha velha,
Eu tentei lhe explicar,
O que com o vô aconteceu,
E eu teria que me enfrentar.
Eu estava com muito medo,
Mas eu não queria chorar,
Deixei pra chorar depois,
E só tentei aproveitar,
Falei a minha mulher,
Que era pra ela se cuidar,
E cuidar de nossa filha,
Que maior ia ficar.
A pequenina do pai,
Ia até se acostumar,
Ela iria crescer,
E eu não ia acompanhar.
Avisei a todos que estava decidido,
Eu teria que lutar,
Pelo meu avô querido,
Todo tiveram que suportar.
Passou-se alguns meses,
Chegou o esperado dia,
Eu iria viajar,
E deixar minha família.
O pior momento de minha vida,
Eu estava a vivenciar,
Eles choravam muito,
Eu não conseguia aguentar.
Toquei em meu piano,
Do meu rosto lágrimas escorriam,
As notas me davam saudade,
Enquanto meus familiares se despediam.
Eu não poderia mais tocar,
Não ouviria mais o som do piano,
Isso doeu demais em mim,
Pois meu sonho estava se afastando.
Ser um ótimo pianista,
Acho que eu nunca vou ser,
Minha notas se já foram,
Estou aqui a escrever.
Se eu tivesse um piano,
Poderia até tocar,
Acalmaria minha alma,
Conseguiria aceitar.
Não sabia o que fazer,
Até pensei em desistir,
Mas o trato estava feito,
Eles não tinham que insistir.
Não voltei atrás,
E eu subi no avião,
A cada quilometro percorrido,
Doía em meu coração.
O meu medo de altura,
Já não era importante,
Com saudade de minha filha,
Meu coração estava palpitante.
Lembrava de seu belo sorriso,
Singelo, de uma criança.
A imagem que me restou dela,
Me dava mais esperança.
As pessoas que me cercavam,
Queriam me ensinar,
Se eu não ia desistir,
Eu teria que lutar.
E me mostravam alguns golpes,
Mesmo ainda sem saber,
Que se usasse aqueles movimentos,
Ai sim ia morrer.
Minha família tão querida,
Só queria amenizar,
A dor que eu sentia,
E que só iria piorar.
Pessoas que não conhecia,
Começaram me rodear,
Todas de uniforme,
Vieram me ensinar.
Me treinaram muito,
Para que eu pudesse aprender,
Mas eu nem pensava nisso,
Só queria minha família poder ver.
Eu até fiz alguns amigos,
E tudo ficou menos complicado,
Pois pra viver naquele lugar,
Só com amigo do lado.
De certa forma isso era ruim,
Pois eu estava me apegando,
Eu poderia morrer com eles,
E isso estava só me machucando.
No dia daquela guerra,
Horrível, cheia de dor.
Me deparei com muito sangue,
Era ruim, mas por meu antecessor.
A guerra acontecendo,
E de minha família lembrei,
Os queria do meu lado,
Foi a única coisa que enxerguei.
Eu estava atordoado,
Algo ruim ia acontecer,
E a promessa que fiz para minha filha,
Poderia se desfazer.
Em meio a tudo aquilo,
Muita gente morrendo,
O barulho daquelas bombas,
Estavam me corroendo.
No meio daquela guerra,
Parei e olhei pro lado,
Eu vi um lindo piano,
Todo desfigurado.
Ele só deve ter aparecido,
Para me aliviar,
Fiquei bem mais calmo,
Quando comecei a tocar.
Um homem todo sujo,
Parado atras de mim estava,
Uma arma apontando pra mim,
E mesmo sem adiantar, eu chorava.
Antes que eu pensasse,
Em mim ele atirou,
E pensei comigo então:
“Meu avô se decepcionou”.
Porém eu já sabia,
Minha família também se decepcionou,
A promessa que fiz a minha filha,
Do nada se evaporou.
Em meio ao meu sangue,
Uma bala dentro de mim,
Eu já havia morrido,
Descansava, enfim.
Aquela guerra toda,
Não mudou em nada,
Só acabou com minha vida,
E deixou minha família magoada.
Meus amigos também morreram,
Isso me dói de mais,
Por que existe a guerra,
Se poderia existir a paz?
Ainda pra piorar,
Toda a situação,
Na mídia isso fica,
E espalha sem direção.
Com essa mídia maluca,
Minha família sofreu mais,
Pois assim souberam,
Que eu fiquei pra trás.
Na TV, sem remorso,
Aquele apresentador,
Anunciou friamente,
Que o outro lado ganhou.
Minha filha ainda não entende,
Porque o papai não volta pra lá,
Mas filha eu estou aqui,
E eu pra sempre vou te amar.
E essa é minha história,
Que acaba de forma ruim,
Só lembro de meu piano,
E que eu era feliz assim.
Quando eu tocava,
Via a vida de outra forma,
Naquelas notas de piano,
Eu não seguia nenhuma norma.
Eu não queria nada,
Além de poder tocar,
Sorrir com minha família,
E com todos eles ficar.
Não tenho orgulho disso,
Não era pra ser assim,
Eu sinto em dizer,
Mas esse foi meu fim.
O pior de tudo é saber,
Que não tinha nenhum piano,
Eu não toquei em nada,
Estava só delirando.
Aquelas notas vazias,
Que pensei que havia tocado,
Tinham me acalmado,
Mas tudo foi acabado.
Me mataram sem nem ter dó,
E o piano não existiu,
Em meio aquela guerra,
Só tinha mesmo dor e frio.
E nada valeu a pena,
Era só uma miragem,
O piano desfigurado,
Só estava de passagem.
Passagem em minha mente,
Só no subconsciente,
Ele não existiu,
Eu que via diferente.
Mas eu tentei,
Por meu avô eu fui a luta,
Essa é minha história,
Que acaba de forma bruta.
Eu só espero,
Que quando minha menina crescer,
Ela lembre de seu pai,
E não fique a sofrer.
Agora vou me despedir,
Mais uma vez vou partir,
E pra vocês eu digo tchau,
E tente apenas sorrir.
Se poderes escolher,
Siga o seu sonho,
Não deixe de realizá-lo,
Ou isso se tornará medonho.
Eu morri, mas volto aqui,
Para lhe avisar,
Que se você tem sonho,
Siga até realizar.
Agora eu vou partir,
Pela segunda vez vou morrer,
Mas pense: “eu morri e fui feliz,
E você, continuará ai pra sofrer?”
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