Misteriosamente,
os pincéis do tempo
modificam a pintura,
incessantemente,
como trabalham
os ponteiros do relógio.
Da vigorosa estréia
no quadro da vida terrena,
pinceladas multi coloridas,
seguem evolução
até o declíneo retratado
na palidez mortífera.
Montanhas altivas
diminuem perdendo terra.
Corpos atléticos encurvam,
atrasando passos.
Peles viçosas enrugam,
encobrindo beleza.
Raízes outrora férteis
apodrecem tombando árvores.
Vozes comunicativas se calam
e ouvidos ensurdecem,
isolando na solidão.
Nascentes secam,
matando rios.
Corações saudáveis adoecem
desqualificando o viver.
Definha a mente ativa,
por vezes, causando
perda do eu.
Mãos fortes
tornam se tremulas,
gesticulando por ajuda.
O medo, sem poder,
nada interfere nas pinceladas
que levam às margens do quadro.
Nela, as cores vão descolorindo,
até sumirem com a pincelada final.
Tempo, determinante da vida aqui,
só não apaga o brilho do "amor incondicional."
Pois esse amor é mais forte que a morte.
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