Os anjos estão empoleirados
no alto das igrejas,
tocam os sinos com seus badalos,
parecem meninos enojados
com os brinquedos da terra,
riem seus dentes amarelos
e pelo espaço erram
como aves sem nenhum destino;
de longe parecem origamis
empoeirados, em queixumes...
Mas, o que iriam querer com os da terra,
homens que mal sabem que encerram
parábolas e sentenças e máximas,
vagam pelo deserto de suas mentes
como fossem seres estranhos e indolentes
que se apegam a templos e igrejas,
agem como se tivessem toda a certeza
do que fazem com as coisas do mundo,
sabem que um dia passarão como passa o tempo,
que irão para a casa de onde vem o vento,
mas ainda creem em poder e reinados,
se vestem em púrpura e linho puro
mesmo sabendo que nasceram pelados,
meio moles, meio duros...
Saltimbancos e palhaços é que se fiam
nas incertezas e caem nos braços do acaso;
procuram viver e sabem que mais dia menos dia
a dama da noite os terão em seus braços...
Ninguém desceu do céu com uma sacola nas mãos,
nem virá o arauto cantar a canção da sorte;
sabe o silêncio que o ouro da ilusão
é o invisível tesouro da morte...
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