Não tenho um livro sequer em minha casa;
não por não querer, apenas por tê-los lido,
a outros servirão, outros olhos,
páginas abertas e vidas modificadas...
Nunca pensei em ter uma biblioteca,
descobri que a minha é toda esta cidade,
cada pessoa é um livro que leio,
cada olhar uma frase escondida,
cada lábio um significado,
poesias diferentes a cada dia,
sentido aguçados e luminosidade,
a cidade é vasta como as prateleiras
que enfileiram livros
e homens sobem escadas
para apanhá-los como apanho mangas
nesta manhã de domingo...
Do chão seco arranco
a última folha de relva,
lâmina verde e rugosa, gosto amargo,
a cidade me prepara uma nova edição
dos fatos que se movem nos acontecimentos,
nesta tarde tiro proveito das palavras
que passeiam no parque
ditas por quem sabe que partir
é como chegar, mesmo que sonhemos
com a eternidade desse instante...
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