Você sabe,
pensam que poesia é uma coisa interior,
que fala do perfume e não das pétalas da flor,
que sabe dos minérios mas não das balas,
que mora no quarto e não visita a sala,
que arrepia quem a sente por dentro,
nada parecido com arrepio de vento,
dizem que poesia é apologia ao mantra,
que busca a nascente onde a criança
que um dia fomos mora ainda, feliz,
vive escondida e torce o nariz
para versos gritados
pelas metralhadoras dos soldados...
Você não sabe,
a poesia, outro dia a vi
fazendo cócegas no caqui,
nadando com os peixinhos no aquário
como fosse um atum de mostruário,
subia e descia pela montanha
e, mais ainda, coisa estranha,
se deitava no papel em branco
deixando marcas um tanto quanto
profundas nas nervuras da celulose,
trazendo à tona rimas ricas e pobres,
pobre e rica poesia,
misto de tristeza e alegria,
a servir os homens e seus grafites sob tensão,
dando ao mundo um outro sentido
à cada coração...
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