ENTRE O RUMOR DAS SELVAS SECULARES.
Entre o rumor das selvas seculares, Ouvistes um dia
no espaço azul, vibrando, O troar das bombardas nos
combates, E, após, um hino festival, soando.
Salve Pátria, Pátria amada! Maranhão, Maranhão,
berço de heróis, Por divisa tens a glória. Por nome,
nossos avós.
Salve a Pátria! Maranhão! Onde a brisa beija e
balança os corações. É pele negra refletida na
porcelana portuguesa dos azulejos de São Luís.
E na estrada esplendente do futuro, Fitas o olhar,
altiva e sobranceira, Dê-te o porvir as glórias do
passado. Seja de glória tua existência inteira.
Quem sou eu?
Serei feito da areia e assombrações, em noite de lua
cheia, pras bandas do Boqueirão?
Ou serei a serpente descendo o Beco Catarina Mina,
quando ainda dorme a Manguda e a Mula Sem
Cabeça?
Serei Hermes, o mensageiros dos deuses do Olimpo?
Sou Igni, o mensageiro Hindu?
Não, não, esses não sou eu.
Sou maranhense da gema, gema amarela, cor do sol
nascente.
Sou amigo de Mãe Andressa, de Dilu Melo, Dom José
Floriano, Averequete, Jorge da Fé Deus, de Michol e
tantos outros.
Sou aquele que gosta de um Cuchá com bastante
pimenta de cheiro. De peixe, frito na hora, com tira-
gosto da Tiquira. Na hora do almoço não dispenso o
sururu no paletó, o feijão com verduras e o mocotó.
Não gosto de língua de boi – isso é coisa de Catirina,
nem da língua do falador que vive fazendo sofre, dia
e noite, a vida do curador.
Vocês já sabem quem eu sou?
Antes, porém, de me apresentar, vos i-lo-íeis contar
uma história.
Diziam que pras bandas da Praia Grande, próximo ao
Cais da Sagração, ergueram um prédio, meio
estranho, cheio de espelhos que assustavam até as
assombrações; pintado de azul em homenagem aos
azulejos ludovicenses. No início, alguns acharam que
era uma quimera passageira. Dentro do bicho tinham
homens e mulheres bonitos que recebiam as pessoas
com sorriso e prestavam serviços com qualidade e
eficiência. O ambiente era todo iluminado que parecia
o camarim de Carmem Miranda, tudo era bonito
como uma alegoria de Joãozinho Trinta.
Dizem até que buscaram um Pinheiro, forte e
viçoso, que serviu de coluna de sustentação...
Porém, os ventos e as trovoadas de Ikú fizeram
surgir uma névoa que encantou o lugar e o mesmo
afundou para o Reino da Cobra que rodeia a ilha dos
Tupinambás.
Eu fiquei abalado como os sons dos sinos da São
Pantaleão, foi quando o Guriatã das matas do
Maracanã me falou desse lugar. Só acreditei porque
Aloroke ,Princesa Flora e João de Una me garantiram
que era verdade.
É por esse motivo que estou aqui, senhoras e
senhores.
Pra bater cabeça, tocar maracá e relembrar, porque o
que se guarda nas memórias do coração, tem raízes
eternas.
Não foi um sonho, nem assombração, foi real, foi
fruto do trabalho de muitas pessoas.
E quem sou eu?
E quem sou eu?
Sou aquele que a névoa não pode destruir, nem
transmutar. Sou pedra de cantaria dos Navios
Negreiros. Cachaça do alambique. Sou do Povo do
Gavião. No alto mar, sou tubarão das correntezas do
Batata. Sou santo, sou Divino. Divino de Alcântara.
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