Entendo o castelo como forma de sonho,
como se criasse a própria prisão o dono
que, enclausurado em sua masmorra,
o sino da tristeza, só, tange e toa...
Que ao abrir-se a quem passa, curioso,
mostra o engenho do corpo da pedra
que se amontoa sobre a outra e, furioso,
o rei à porta, que à tudo engendra...
Resta a quem vive
de acordo com o sol poente
prestar-lhe tributo como fazem aos mortos
sem nem pensar em roubar o ouro dos dentes,
careados, vis, empalhados, tortos...
Entendo a ruína do castelo como a realidade
que se apresenta como copeira
e rouba todos os talheres,
instaura a suprema verdade
como realidade verdadeira,
que sempre mal aos homens faz
e bem à todas as mulheres...
Digo isso por aparentar o castelo
à junção do corpo feminino ao másculo
corpo do homem, que a um é cutelo
e ao outro o receptáculo...
Assim,
comparo o castelo ao sonho de Kafka,
que se viu à voltas com a carta
escrita grão a grão
e nunca recebida pelo pai,
que é o castelo que aprisiona
e não liberta jamais...
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