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C R A V O S - Parte 2
EMANNUEL ISAC

A cada dia a fama do homem da Galileia aumentava; uns diziam que ele era o Messias que havia de vir como Isaías profetizara; outros que era mais um enganador do povo como muitos que surgiram, e ainda, que era um dos profetas antigos. Mas a verdade era que a fama do Profeta de Nazaré, provocou ódio e inveja nos chefes de Israel e a perseguição por eles à sua presença, aumentou com o tempo.

     Os companheiros de Asher após voltarem da pescaria e lavarem as redes, se dirigiram à sua casa, traziam notícias sobre o Nazareno e aguardavam o dia em que ele fosse estar em uma cidade circunvizinha para o levarem até à sua presença.

     Asher ouvia as histórias e cada vez mais seu coração se enchia de esperança em ser curado. Conhecera o irmão de um homem que era cego desde a nascença e que fora lhe restituída as vistas pelo Profeta de Nazaré. O seu testemunho vivificou a sua fé no Deus de seus pais, como ele mesmo dizia. Começou a planejar junto com os amigos, a maneira como iria se aproximar dele:

     - Não podemos levá-lo carregado, a posição machucaria por demais as suas costas! - concluiu Hanan, depois de ouvir as opiniões dos amigos;
     - Podemos colocá-lo sobre um jumento. A caminhada seria mais rápida! - disse Menasseh;
     - Ótima ideia Menasseh! - Abiel concordou com ele, seguido dos demais.

     Hasya estava sentada ouvindo as opiniões dos amigos de seu esposo, esperou que eles terminassem de falar, e opinou:          

     - Sei que procurais a melhor forma de ajudar Asher, mas ele não suportará as dores mesmo sendo carregado sobre uma montaria!
     - O que faremos então? - perguntou Elijah; Asher olhou para os amigos e falou:
     - A única maneira em que não sinto muitas dores, é esta em que vocês estão me vendo; deitado!
     - Pronto! Levaremos você até o profeta, em seu próprio leito! - disse Hanan;
     - Como assim? - indagou Abiel;
     - Somos em número de quatro; cada um se encarregará de sustentar um lado da cama! - concluiu Hanan.

           -----------------------------------------------------

     As notícias chegaram à Corazim de que, aquele agora a quem as multidões chamavam de MASHIAH (o ungido), encontrava-se nas aldeias próximas. Os amigos de Asher então resolveram não partir para o mar por aqueles dias; ficariam na expectativa do Nazareno entrar novamente na cidade.

     Não se passaram muitos dias e souberam eles que o Mashiah estava em Cafarnaum, na casa de um de seus discípulos, logo, reuniram-se e foram em busca de Asher. Conforme o combinado carregaram-no em seu próprio leito e foram para onde se encontrava o profeta. Após caminharem quase quatorze estádios, cerca de quase dois quilômetros e meio, não conseguiram se aproximar da casa quando chegaram por causa da multidão que ali estava. Abiel e Menasseh foram tentar encontrar um caminho alternativo, enquanto Hanan e Elijah aguardavam junto ao leito de Asher:

     - Me levem de volta! - pediu Asher desanimado após um tempo de espera;
     - Chegamos até aqui, vamos esperar os outros voltarem! - disse Elijah.

     Abiel e Menasseh retornaram e fizeram o relato da situação:

     - Tentaremos chamar a atenção do profeta! - disse Menasseh;
     - Como nos dará atenção, se os Fariseus e os Escribas das aldeias de toda a Galileia estão com ele? - quis saber Abiel;
     - Não reparastes?
     - O quê?
     - Quando sondávamos a casa, o telhado?
     - Vamos aguardá-lo em cima do telhado? - indagou Abiel;
     - Não! Vamos baixá-lo por ele!
     - De que jeito?
     - Tomamos algumas cordas emprestadas e amarramos as extremidades do leito! - concordaram todos com a ideia de Menasseh, e foram em busca das cordas.

     Asher esperou junto com Abiel o retorno dos outros três amigos e cada vez mais, a multidão aumentava. Não demoraram e pouco tempo depois, Elijah, Hanan e Menasseh voltaram com as cordas nas mãos. Carregaram o leito de Asher e subiram no telhado, após prenderem firmemente as extremidades da cama, retiraram partes do telhado e começaram a baixar Asher por entre eles.

     Um dos discípulos do Nazareno chamou-lhe a atenção para o que estava acontecendo e ele simplesmente limitou-se a dizer:

     - A obra dos cravos está para se realizar!

     Quando a cama chegou ao chão, o Mashiah olhou para o alto para onde se encontrava os amigos de Asher, e pode ver a esperança e a fé nos seus olhos. Voltou o olhar para a cama e contemplou em uma visão futura, a missão que aquele homem teria em seu destino:

     - Filho, perdoado estão os teus pecados! - uma paz invadiu Asher.

     Aquelas palavras causaram um alvoroço entre os que ali presentes estavam. Após ouvir o Nazareno argumentar e falar alguma coisa com os Fariseus e os Escribas, Asher só pode escultar aquela voz suave, calma e branda, mas com firmeza, lhe dizer:

     - Levanta-te, toma o teu leito, e vai para tua casa!

     Queria ficar ali aos pés daquele homem, mas a ordem foi imperativa e ele só conseguia obedecer; levantou-se, tomou a cama em suas mãos e seguiu para sua casa, sendo acompanhado por seus amigos...

                 -----------------------------------------------------

     Haviam se passado dois anos desde que Asher tivera aquele encontro com o Mashiah. Voltou a trabalhar forjando as peças de bronze e ferro para as portas e embarcações, mas a sua vida nunca mais foi a mesma: passou a ser mais amável e paciente com as pessoas, seu temor a Jeová cresceu e trabalhava com diligência na obra da caridade. Sempre que o Mashiah visitava as aldeias vizinhas ou a própria Corazim, ele deixava tudo o que estava fazendo para ir ouvir os sermões do Mestre; era grato!

     Certo dia, próximo a festa da Páscoa, ele estava fundindo algumas peças de ferro quando recebeu um pedido do posto militar de Cafarnaum, para encaminhar à Jerusalém cravos quadrangulares com o tamanho de quase cinco côvados romanos. Asher indagou-se da razão para tantos cravos com aquele comprimento de doze centímetros e meio: “será que eles irão crucificar alguém em plena Páscoa”? Perguntou a si mesmo.

     Asher trabalhou na fabricação dos cravos e resolveu ele mesmo levá-los a Jerusalém, já que iria participar da festa da Páscoa. Juntou-se a ele e a sua esposa seus quatro amigos, e partiram rumo a cidade santa.

                 ----------------------------------------------------

     As ruas estavam repletas de peregrinos por todas as partes, mal se conseguia caminhar pelas vielas estreitas de Jerusalém e foi com muita dificuldade que Asher conseguiu chegar ao Pretório para entregar os cravos:

     - O Procurador não irá crucificar ninguém em plena Páscoa, não? - perguntou ele ao capitão da guarda;
     - O que isso importa? Não fazemos parte de suas tradições! - respondeu-lhe de maneira áspera. Ele deu meia volta e resolveu seguir para o templo para cumprir com as suas obrigações naquele dia.

     À noite, Asher e seus amigos montaram uma tenda próxima ao Jardim do Getsêmani, no pé da colina do Monte das Oliveiras pois não haviam vagas nas hospedagens e nem casas para tantas pessoas. Aquela noite fazia frio e ele estava dormindo próximo à fogueira. Acordou de súbito com o barulho de vozes, tentou enxergar no escuro o que se passava e com dificuldades, pode perceber que os soldados do Sumo Sacerdote Caifás conduziam um homem maniatado pelas mãos e pelos pés:

     - O que houve? - perguntou Hanan a ele, assim que os soldados se foram;
     - Um homem sendo conduzido pelos soldados do templo! - respondeu ele sem reconhecer o preso;
     - Deve ter feito alguma coisa contra a Lei!
     - Provavelmente! Vamos voltar a dormir; com certeza ficaremos sabendo o que houve quando chegarmos no templo amanhã.

     No dia seguinte, ao chegar no templo perto da hora terça, Asher e seus amigos encontraram um alvoroço entre o povo; ficaram sabendo então, que o Sinédrio havia julgado e condenado à morte o homem a quem havia lhe curado.

     Asher sentiu o seu coração apertar; como é que eles podiam tê-lo condenado? Aquele homem altruísta que só havia feito o bem, que curou vários enfermos e até mortos fez ressuscitar? Ele mesmo que fora testemunha de vários destes milagres, não entendia a razão e o motivo para tanta inveja. Sim, era inveja daqueles hipócritas e falsos doutores da Lei! Um sentimento de revolta tomou conta de Asher. Descobriu que o Mashiah estava sendo conduzido pela segunda vez para a casa do Procurador Pôncio Pilatos, e seguiu para lá com seus amigos.

     Chegou ao pátio da casa do Procurador, queria testemunhar a favor do Mashiah, mas era tarde; ele havia sido sentenciado! Viu quando o zelote Barrabás passou por ele sorrindo com aquelas roupas que mais pareciam farrapos; a multidão havia trocado o bem pelo mal, o amor pelo ódio, a luz pela escuridão! Seguiu o Mashiah atrás dos príncipes dos sacerdotes até a coluna de flagelação que ficava em frente de uma das arcadas do mercado, ao norte do palácio de Pilatos e não longe do posto da guarda.

     Observou estarrecido quando os carrascos arrancaram-lhe as veste e puxaram o seu corpo para cima da coluna, os seus pés amarrados em baixo à coluna, quase não tocavam o chão deixando-o com o corpo completamente esticado mas com as costas encurvada, pronta para receber os açoites.

     Não pode suportar mais olhar após a décima vez, quando o carrasco desceu o flagrun feito com tiras de couro, bolas de metal e lascas de ossos nas pontas, que ao se enroscar no peito do profeta, penetrava e esfolava a sua pele, provocando grande hemorragia ao atingir os seus músculos e seus ossos.

          Asher baixou as vistas e chorou. Podia ouvir o sibilar do chicote cortando o ar e terminando naquele baque seco ao encontrar-se com o corpo do seu benfeitor. Ergueu as vistas somente quando tudo terminou, pode ver ainda quando os soldados romanos arrastavam o profeta para o interior do Pretório, deixando um rastro de sangue pelo caminho. Por sempre forjar as peças para o Posto Militar Romano de Jerusalém, Asher conseguiu acesso a uma câmara próxima de onde o Nazareno estava. Entre a abertura de uma arcada e outra, pode ver o escárnio em que os soldados romanos o tratavam, como eles cachinavam dele.

     Sua dor foi maior quando notou um soldado se aproximar de uma espinheira e retornar nas mãos com uma corôa feita dos seus espinhos. Após colocarem um manto escarlate sobre as costas dilaceradas do Mashiah, puseram a corôa em sua cabeça e com um pedaço de cana, batiam sobre ela para fixá-la, fazendo com que seus espinhos penetrassem mais fundo ainda em seu crânio; o sangue escorreu por sua face como se fossem pequenos filetes de águas correntes. Não suportou tanta perversidade; retirou-se para fora e encontrou amparo nos ombros de seus amigos...


EMANNUEL ISAC

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