Um copo de água
Um golinho
Uma fração de água limpa
Mendigam milhões planeta afora
Água.
Nem ouro, nem prata
Essa água que ainda rega nosso jardim.
Potável
Limpa
Pura.
Milhões de pessoas
Quase bilhão
Mendigam, brigam, trabalham.
Mas não tem.
Não conseguem
Não merecem.
Subdesenvolvidos
Sub-classificados
Sub-humanizados.
Alguns milhões de crianças
Dessas que morreriam de fome adiante
Antes morrem de sede
E de água suja.
Contaminada de coliformes
De metais
De ganância e indiferença
E de poder.
Poder sobre a vida e a morte
Poder sobre a água
Senhores das águas.
Mães secas
Sem água e sem leite
Amamentam de ar filhos moribundos
Quase natimortos
Não por condição
Mas antes
Por destino
Sorteio celeste
Nascer onde não se deve.
Sabemos disso
Os poderosos
E nós
Todos sabem
E, como antes,
Ou sempre,
Continuamos não fazendo nada.
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