Histórias de assombração, fantasmas e almas penadas sempre me encantaram. Eram narradas pelos mais idosos nas gélidas noites de inverno da minha cidade natal e ajudavam a realçar os cenários assustadores que as mentes infantis fantasiavam á partir dos casarões centenários e das ruas antigas, estreitas e nevoentas da minha Rio Grande de São Pedro. A lenda urbana do fantasma da Moron continua sendo até hoje, a minha história de assombração preferida. Pois aconteceu que, em meados do século passado, um insólito acontecimento impactou a pacata comunidade da velha cidade, pois algo começou a assombrar uma casa da Rua Moron, provocando medo e comoção aos moradores e vizinhos daquela rua. Aparecendo durante as madrugadas do rigoroso inverno do Rio Grande, o fantasma, como passou a ser chamado o misterioso ente que circulava entre as casas e telhados da Moron, jamais foi identificado e espalhou pânico entre a população, muito embora ninguém tenha sido ameaçado ou ferido pelo misterioso ser, que se limitava a vagar misteriosamente pelos telhados e quintais das redondezas durante as madrugadas. O estranho ente era descrito das mais variadas formas por aqueles que o diziam ter visto: para uns, o fantasma aparecia como um vulto alto, vestido de negro e possuía incríveis poderes de locomoção, saltando de um telhado a outro com grande facilidade; para outros, surgia envolto em fumaça ou assumia a forma de animais, para logo depois, desaparecer sem deixar rastros entre os telhados, aproveitando a escuridão das madrugadas. Em várias ocasiões, a população se mobilizou para tentar resolver o mistério, com cercos ao misterioso ente organizados pela polícia e pelos moradores das redondezas, nada daí resultando. O imaginário popular logo adotou a aparição, se bem que nem todos concordassem com a fantasmagórica hipótese. Para uns, era um lobisomem! Para outros, tratava-se de um vampiro ou do próprio diabo... Fantasma, lobisomem, diabo ou vampiro, o certo é que as rigorosas "campanas" e investigações policiais da época,chefiadas pelo Inspetor Nery, deram em nada. Assim como aparecia, o fugidio personagem desaparecia repentinamente na escuridão da noite, sempre escapando de tudo e de todos e realimentando dia após dia, a lenda urbana. Nunca soube o que aconteceu na Rua Moron, quase centro da antiga cidade do Rio Grande. O que, ou quem era o misterioso personagem noturno? Qual missão ou finalidade tinha o fantasma? O que pretendia em suas andanças noturnas pelas casas e telhados da Moron? De nada serviram as infindáveis novenas realizadas pelas beatas, as bênçãos dos piedosos irmãos da Paróquia de Fátima, capitaneados pelo valente Padre João, os inúmeros “trabalhos” dos umbandistas nas encruzilhadas e terreiros das redondezas e as veementes pregações dos pastores evangélicos, todos fervorosamente empenhados em eliminar o diabólico fenômeno. Por muito tempo o fantasma circulou impunemente pelas cercanias e telhados da Moron, até desaparecer um certo dia para nunca mais voltar. As autoridades e os políticos da cidade vieram a público e deram várias explicações racionais para o fato tentando acalmar a população, o que não convenceu a comunidade local e muito menos as crianças da época, entre as quais me incluo. Se alguém souber o que foi que aconteceu e o que ou quem era o fantasma, por favor não me contem nada..... Quero guardar comigo este mistério para sempre.... Afinal, continuo sendo um guri que teve que crescer.
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