Por João Calvino
“Não apagueis o Espírito.” (I Tessalonicenses 5.19)
“Não extingais o Espírito”. Essa metáfora é derivada do poder e natureza do Espírito; porque, como é o próprio ofício do Espírito iluminar o entendimento dos homens, e como ele é por causa disso chamado a nossa luz, é com propriedade que nos é dito que nós o extinguimos, quando fazemos nula a sua graça. Há alguns que pensam que é a mesma coisa que é dita nesta cláusula e a que a sucede. Assim, de acordo com eles, extinguir o Espírito é precisamente o mesmo que desprezar as profecias. Como, porém, o Espírito é apagado de várias maneiras, eu faço uma distinção entre essas duas coisas - que temos uma declaração geral, e uma particular. Pois, embora o desprezo de profecias é uma forma de apagar o Espírito, mas também extinguem o Espírito aqueles que, em vez de aumentarem, como deveriam, cada vez mais, pelo progresso diário, as faíscas que Deus acendeu neles, pela sua negligência, anulam os dons de Deus. Esta advertência, portanto, para não extinguir o Espírito, tem uma extensão mais ampla de significado do que aquele que o aplica apenas a não desprezar profecias. O significado do primeiro é: "Ser iluminado pelo Espírito de Deus. Veja que você não perca a luz através de sua ingratidão." Esta é uma advertência extremamente útil, pois vemos que aqueles que uma vez foram iluminados (Hebreus 6.4) quando rejeitam tão precioso dom de Deus, ou, fechando seus olhos, se deixam conduzir seguindo a vaidade do mundo, são atingidos com uma cegueira terrível, de modo a se tornarem um exemplo para os outros. Devemos, portanto, estar em guarda contra a indolência, pela qual a luz de Deus é sufocada em nós.
Aqueles, porém, que inferem a partir disso que se trata da opção do homem, apagar ou acalentar a luz que lhe é apresentada, detratam, deste modo, a eficácia da graça, e exaltam os poderes do livre arbítrio, baseando-se em falsos fundamentos. Pois, embora Deus trabalhe eficazmente em seus eleitos, e não se limita a apresentar a luz a eles, senão que faz com que eles vejam, abrindo os olhos do seu coração, e os mantendo abertos, todavia, como a carne é sempre inclinada à indolência, tem necessidade de ser agitada por exortações. Mas o que Deus manda pela boca de Paulo, ele realiza interiormente. Nesse meio tempo, é nossa parte pedir ao Senhor, que ele forneça óleo para as lâmpadas que ele acendeu, para que ele possa manter o pavio puro, e até aumentá-lo.
Traduzido e adaptado por Silvio Dutra.
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