Prefácio
Não importa se eu perder minha vida sabendo que ao meu lado está á pessoa pela qual eu á daria. Sei bem que minhas decisões eram fatais, mais pelo menos assim, minha existência faria sentido. Amando incondicionalmente - a chaga prazerosa- que me sustenta mesmo roubando-me a vida.
SONHADO-Primeiro capítulo.
Eu estava de pé paralisada em cima do imenso farol, avistando a imensidão das águas, enquanto minhas mãos tocavam a construção de alvenaria e por detrás algo brilhante se aproximava de mim. Não dava para distinguir o que era mais eu o senti tocar primeiro em minhas mãos e depois acariciar com um leve toque o meu rosto e então afastar-se rapidamente; Um homem? Uma mulher? Não sabia dizer mais nunca em minha vida senti um toque tão delicadamente bom; a luz que vinha de encontro com meus olhos me cegou, então os fechei e mergulhei na escuridão que minhas pálpebras abaixadas estavam me proporcionando naquele momento de ausência de nítida visão. Com os olhos fechados impedidos de abrir pela intensa luz vinda da minha frente, me orientei por minha agora aguçada audição. Ouvi passos se aproximando de mim, minha intuição fluiu sobres meus membros fazendo-os instintivamente recuar, porém fui impossibilitada de prosseguir quando meus calcanhares tocaram as paredes de alvenaria do farol, estabelecendo um limite para eu continuar a retroceder. Os passos cessaram. Numa tentativa frustrada, abri os olhos para tentar ver de quem se tratava, contudo continuei na mesma cegueira de quando estava com eles fechados. Lágrimas indesejadas floresceram nos meus olhos pela forte luz que vinha de encontro com eles, então escoaram lentamente pela minha face até se perderem no chão vazio, de onde meus pés estavam. Entretanto, minha aguçada audição se fez presente mais uma vez e me deu a localização exata dos sons dos passos que vinham em minha direção, logo após terem parado por um longo momento. Sua aproximação ficava cada vez mais evidente para mim, ate suas duas mãos tatearem ambos os lados do meu rosto e seus lábios pousarem lentamente sobre os meus e deslizarem amavelmente para os lados, mas mesmo querendo continuar, eu tentei fugir dos lábios que estavam sobre os meus- ignorando qualquer possibilidade de continuar o beijo inesperado- Pude ouvir da sua boca após conseguir me afastar de seus convidativos lábios, o pronunciamento de um nome de uma forma silábica, soletrando letra por letra ate finalmente formar o nome Savannah Down.
Acordei muito agitada. Os olhos de minha mãe estavam frente a frente com os meus, em seu rosto sua expressão de curiosidade para me perguntar o que estava acontecendo, estava iminente.
-O que houve minha filha, você teve um pesadelo? O tom de seu olhar mudou de curioso para preocupado num ligeiro instante, mais a resposta que ela queria nem mesmo eu sabia, pois de uma forma estranha, tinha se apagado rapidamente da minha memoria o sonho que tive.
-Apenas um pesadelo mamãe. –Sussurrei.
De todos os embaraçados sonhos que eu já tivera, esse com certeza era o que se destacava dentre todos. Era um mistério angustiante que me dominava.
Em setembro passado eu era simplesmente uma garota normal, que fazia coisas normais como de qualquer outro estúpido adolescente, porém, algo de novo mudou-me durante este mês.
A presa olha fixamente para os olhos do predador buscando nas profundezas daqueles olhos cruéis, uma distração para poder escapar e nesse mesmo olhar está á determinação de matar sem a menor piedade. Acordo de um pesadelo horrível, de repente eu me vi novamente no lugar daquela indefesa presa prestes a ser morta, um calafrio percorre meu corpo inteiro, os pequenos mais perceptíveis pelos de meu corpo se levantam instintivamente, olho para a janela escancarada e sou saudada com o nascer do sol, os primeiros raios solares atingem o quarto clareando-o por completo.Levanto-me da cama e com arrastados passos sigo para o banheiro.
Depois de me despir, entrei devagar no chuveiro e deixei a água morna tomar conta de toda minha pele, passei lentamente o sabonete com aroma de pêssego sobre todo o corpo, e mais uma vez entrei debaixo do chuveiro; enxaguei-me, toda espuma instalada sobre a pele foi sendo expulsa pela água aos poucos, ate fazer seu curso para o ralo do banheiro. Minhas mãos sobrevoaram meus lábios e os tatearam, meus olhos novamente se fecharam, minha cabeça inundou-se de tantas lembranças agora resgatadas nos mínimos detalhes sobre o beijo, e então transbordaram deixando brotar sobre meus olhos minhas lagrimas, que se misturavam com a água que jorrava do chuveiro. A água vinda do chuveiro cessou quando eu o fechei, minhas mãos primeiramente, abriram o boxe em minha frente e depois buscaram minha velha e já bastante usada toalha roxa. Fui passando-a sobre cada parte do meu corpo, braços, pernas... Rosto. Meus cabelos ensopados foram embalados pela toalha, agora um pouco molhada por ter sugado a água depositada na pele, e que lentamente escoria pelo meu corpo ate o tapete e outra parte dela, evaporava e se perdia no ar. Ao sair do banheiro fui recepcionada por uma brisa inesperada que entrava da janela aberta, as cortinas ficavam graciosamente dançando, indo e voltando com uma onda no mar. O tempo foi passando e o maravilhoso sol se pôs terminando sua tarefa diária de nos fornecer luz. O jantar foi rápido e a louça ficou para eu lavar mais uma vez. Os ponteiros do relógio voaram e a madrugada logo se fez presente. Deitei na cama do modo como eu gostava de dormir, debruço e com a cabeça sempre virada para um dos lados disponíveis e confortáveis; o sono chegava como um convidado mais do que bem vindo. Antes de pegar no sono, pesquei na memoria todas as sensações possíveis do meu último sonho para tê-las novamente mais nítidas no sonho de hoje. Eu sabia que poderia fracassar mais ao menos tentaria, mesmo que eu não viria a ter o meu objetivo alcançado. E depois de alguns minutos eu estava inconsciente, meus braços se esticaram e tomaram conta de toda cama. E como esperado eu sonhei de novo com o mesmo rapaz.
Minhas pernas não obedeciam ao meu comando, mesmo assim forcei-as para continuar me sustentando e prosseguindo com meus arrastados passos, uma guerra interna se formou dentro de mim; de um lado os fortes e resistentes nervos que eu ainda possuía, lutava pela minha obstinada vontade de saber o que era aquela intensa luz vinda do farol desativado. E do outro lado; o meu vergonhoso medo de continuar a minha busca desvairada pela satisfação da minha curiosidade. E ela estava aumentando cada vez mais, tinha como principal fonte de alimentação a pergunta que ecoava na minha cabeça. –De onde vem essa luz? –Meu coração agitava-se dentro de mim com violência, como um brado retumbante querendo impor-me um limite de emoções, mais as mais diversas delas se espalhava facilmente pelo meu corpo, a adrenalina me cercava cada vez que meus olhos via a grande torre iluminada pelo desconhecido. Novamente meus membros se recusaram a me obedecer, não correspondiam quando eu imitia a ordem de mexê-los, um grito entrou em erupção em minha garganta mais o reprimi antes que pudesse sair. Isso me custou uma breve perda do equilíbrio, que foi recuperado rapidamente assim que cheguei frente a frente com a construção almejada. De um modo estranho tive uma descarga de encorajamento, que percorreu todo o meu corpo deixando os lerdos membros agora imediatamente avivados. Meus pés tomaram a dianteira da minha caminhada ate o topo da construção, porém meu interior foi consumido pelo já conhecido e indesejado medo, permitindo ser sua prisioneira. Meus olhos varreram cegamente a parede da construção, tentando achar a porta de entrada para poder ter acesso ás escadas que davam no topo. Os dedos que a mim pertenciam se estalaram na maçaneta encontrada e pressionou-a para baixo na tentativa de abrir a porta e com o mais absoluto sucesso consegui penetrar na grande torre iluminada.
O som emitido do despertador que estava na minha cômoda ao lado da cama soou como um estrondo, meu corpo se recusou a obedecer ao chamado, contudo juntei todas as forças que tinha e num pulo levantei-me da cama e me joguei debaixo do chuveiro, tentando despertar de vez todos os meus sentidos ainda sonolentos. O tempo que fiquei no banho meu tomou todo o resto do que eu ainda possuía, por esse motivo não quis tomar o café da manha. Porém, tive que passar pela cozinha e dar um bom dia para meus pais. O pão torrado e o café com leite sobre a perfeita mesa eram incrivelmente convidativos, atribuído com o delicioso queijo cortado em pedaços colocados com delicadeza num prato transparente, e também, a pouca distancia de uma cesta de frutas tropicalíssimas, e por fim um suco de uva quase trasbordando no copo. Em minha boca a saliva acumulada se debatia dentre os dentes na tentativa de fazer eu me render ao majestoso café da manha, meu estomago se contorcia reprendendo a minha decisão de sair sem comer nada, fui vencida pela tortura visual.
Então me sentei, a cadeira de madeira vazia ganhou vida e seus pés rangeram quando sobre ela minhas partes espalhadas confortavelmente se instalaram. Todos nós silenciosamente quietos, usufruímos de tudo que o estava ao alcance de nossos dedos. Antes de recolher minha mochila jogada no sofá e sair em disparada para o colégio, minha mãe me fez dar beijinhos rápidos nos ambos os lados do seu rosto, e meu pai também me obrigou a repetir tamanha vergonha. Certifiquei-lhes que eu já havia saído com á batida da porta.
Um novo vizinho se instalou na casa ao lado da minha, pela primeira vista que tive dele, ele era incrivelmente bonito.
Como sempre fui dar um mergulho para relaxar, meu corpo estava implorando por água, não para beber e sim para que tomasse conta de cada mínimo espaço dele, passando pelos longos e hidratados fios do meu cabelo, molhando os quase imperceptíveis pelos em todo corpo, entre os dedos dos pés, deixando minha pele submersa sobre si.
A água estava mais do que agradável, estava esplendida. Meu corpo se encolhia e esticava, empurrando a água e avançando aos poucos na imensidão ao meu redor. Então fiquei flutuando, inalando o máximo de ar que meus pulmões suportavam para continuar minha trajetória á nado, respirei o suficiente e mergulhei novamente, meus olhos fecharam, tentei apreciar a escuridão mais apenas achei a angustia, por isso, desesperadamente abri os olhos e pude perceber que algo prendia o meu pé, o meu corpo estava sendo impedido de voltar á superfície. Meus pulmões suplicavam por ar, meu coração acelerou brutalmente se debatendo tentando achar escapatória, meu pé solto agitava-se violentamente contra o que estava prendendo o outro, mais a força que sobre caía no pé preso era absurdamente forte demais para uma batida fraca conseguir solta-lo. Inesperadamente a lembrança do sonho veio, e deixei-a tomar conta dos últimos instantes de vida que eu ainda possuía, porém fui interrompida por um fato que se alastrou na minha cabeça mais forte do que a lembrança; eu estava morrendo, meu corpo pereceria em poucos minutos. Então definitivamente fechei-os, meus pulmões estavam ardendo por ar, e estavam sendo inundados aos poucos pela água. A morte é o sopro do fim, nada pode pará-la, sempre intrusa nos momentos mais primorosos da vida, principalmente quando se está amando alguém que te ama. O que ela não pode destruir é as memorias que continuam cravadas na mente daqueles que permanece vivos. Entretanto, ela é o fim.
SEGUNDO CAPITULO 02
Beijada
-Ei, acorda! –Uma mão batia levemente no meu rosto. Tentei abri os olhos para poder ver quem era e o que estava acontecendo comigo, mais toda força exercida por mim foi insuficiente. Senti repetidas vezes lábios tocando os meus, uma respiração ofegante em meu rosto. Instintivamente minha boca se abriu e por ela escorreu um pouco da água que meus pulmões haviam recebido no momento que me faltava ar, expirei bruscamente e mais um pouco de água se acumulou na boca e foi lançada para fora. Meus pensamentos estavam confusos, ate eu entender o que estava acontecendo. Ótimo eu não havia morrido. Momento antes de ser retirada do mar eu estava me debatendo submersa na água, tentando desprender o que tinha prendido meu pé, impossibilitando de eu voltar á superfície. Cheguei então na mais absoluta certeza; eu havia sido salva e quem me salvou estava diante de mim, naquele momento já consciente deixei meus olhos se encontrarem com os do salvador da minha vida. O tempo deu uma breve pausa e pude minuciosamente analisá-lo. Seu rosto era perfeito como de um anjo; sua pele parecia ter sido feita do mais primoroso tecido, seus olhos se destacavam ainda mais; um azul perfeitamente igual ao das águas cristalinas que realçavam seu olhar que era também mortalmente atraente. Seu corpo era também formoso, membros fisicamente bem definidos. Suas expressões eram ilegíveis, ele simplesmente permanecia parado olhando a criatura que contemplava o íntimo espetáculo que havia acabado de ocorrer. Por um único e tortuoso momento olhei para os dois lados para me certificar de que ninguém havia visto o meu vexame, comemorei internamente, pois, não havia ninguém a praia estava completamente vazia; apenas eu e o charmoso salvador estávamos ali. Perguntei-me interiormente se o excesso de água tinha trazido alguma alucinação pra mim, mais fui ligeiramente interrompida. O som do meu coração estava ensurdecedor, meus pulmões estavam agora expandindo e se encolhendo rapidamente, inalando e exalando o saudoso ar, fui tomada por uma pergunta corrosiva. –Por que eu estou desse modo? –Acalme-se. –Eu disse ao meu coração, que por meio dos meus olhos se alegrava ao ver a criatura em minha frente, tocando agradavelmente em minhas mãos e descendo lentamente para beijar-me novamente. Seus lábios tocaram fervorosamente os meus, como um imã fortemente atraído. –Por que ele estava me beijando? -E porque eu estava incrivelmente gostando? -Depois de longos minutos nossos lábios se afastaram, eu me depositei na areia e meus pensamentos cessaram. Eu estava completamente focada no beijo que eu havia acabado de receber. Eu ainda estava deitada sobre a areia, tentando equilibrar dentro de mim, um turbilhão de emoções. Porém, o meu salvador era inacreditavelmente bonito e tortuosamente charmoso.
-Você está bem? -Perguntou-me ele. -Estou, obrigada! -Respondi envergonhada.
-Você tem algum compromisso hoje á noite? -Ele pergunta, sem ao menos deixar de me cravar com seus intensos olhos azuis.
-Na verdade não! -Eu admito.
-Podemos nos encontrar aqui amanhã então? -Ele pergunta.
-Vamos sim.-Eu disse. O desespero em minha voz fica evidente.
Interiormente eu estava confusa com meus sentimentos. -Por que eu estava confusa? Isso não é normal, eu mal o conheço. De um modo estranho o coração que permanecia calmo dentro de mim, começou a agitar-se violentamente de novo, entretanto o motivo era outro; Aborrecimento. Eu estava prestes a me despedir de Christopher e o coração teimoso estava me repreendendo quanto isso. Porém o ignorei e prossegui com minha despedida. Fiz então a coisa mais educada que poderia fazer depois de alguém ter salvado á minha vida, ou pelo menos, o que estava ao meu alcance naquele instante. –Obrigada, por ter salvado á minha... –Disse educadamente, contudo, fui interrompida antes mesmo de terminar meu agradecimento. –É meu dever salva-la. Christopher deixou as palavras saírem sem ao menos pensar no que estava dizendo, era como se ele tivesse decorado palavra por palavra há muito tempo, para então usa-las agora comigo, seus olhos azuis fixaram-se nos meus enquanto as palavras se formavam e saíssem naturalmente da sua boca. Novamente meu coração estremeceu e minhas pernas bem dispostas enfraqueceram rapidamente ao ouvir o som de a sua voz entrar melodicamente em meus atentos ouvidos. Para não parecer paranoica eu ignorei o pensamento com a mais absoluta força.
As horas passaram e eu voltei pra casa, ás duas lembranças mais intensas estavam martelando na minha cabeça; o beijo e a minha quase morte. Porém deixei-as de lado quando me espalhei na minha confortável cama e fui tomada pelo sono; se findava ali o meu quase infindável dia.
Ainda inconsciente espalhada na cama confortavelmente dormindo, eu tive o esclarecimento de tudo; parecia que dentro de minha cabeça havia erguido um paredão entre eu e minha anteriores lembranças para que eu não chegasse ao óbvio que estava diante de mim. Era Christopher o rapaz que eu sonhava todas as noites, era ele que agradavelmente me beijava, tocava amavelmente em meus lábios e deixava-os com o vestígio da sua saliva. O já conhecido medo me fazia novamente sua prisioneira. Um homem misteriosamente atraente, charmoso e mortalmente apaixonante era que me dominava e me deixava viciada em tê-lo comigo ao meu lado.
Levantei rapidamente, as gotas de suor em minha testa escorriam para a minha camiseta grudada com minha pele. Os raios de sol me saudavam clareando o quarto por inteiro, despertando-me para um novo amanhecer.
Hoje era o dia em que iria confronta-lo e mostrar que não existe mera coincidência ao conhece-lo, ele está aqui por um só único motivo; me matar ou me proteger. Ou me amar.
O sol brilhava intensamente sobre o caminho cimentado por onde meus passos passavam, fui então em direção á Christopher que repousava serenamente no seu confortável Chevrolet. Ele simplesmente atingiu-me com seu olhar penetrante e insondável, e então sussurrou:
-Siga-me se tiver coragem ou se tiver em seu estado normal, corra!
(QUEM GOSTOU DO TEXTO COMENTE!, TERÁ UMA SEQUENCIA..)
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