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Metrô
Pandora Agabo

Choramingando no banco do metrô, com os olhos perdidos na paisagem através da janela, Vanessa não conseguia tirá-lo da cabeça. Porque todas as suas tentativas de fazer acontecer foram frustradas e ela simplesmente não conseguia entender o porquê de ele não tê-la correspondido. Ora, ele nem é bonito. Ela também não, mas... Não importa, Vanessa acreditava que merecia a paixão dele e o simples fato de nunca ser sua "a guria" a tortura há dias. 

Com os fones de ouvidos nas alturas, Otávio se imaginava tocando na bateria que seu pai acreditava ter escondido bem na garagem. "Óbvio que ela é de presente pra mim". E era mesmo. Otávio sabia que estava um tanto velho para começar as aulas, mas isso não importava. Por quanto tempo ele desejou aquilo? Na cabeça de Otávio, desde sempre. 

Vanessa sabia que ele não cumpria com os requisitos que ela sempre colocou em suas listinhas imaginárias do homem perfeito. Ele nem era tão engraçado assim ou tão romântico ou atencioso. Ele era como era e ela o aceitava exatamente desse jeito. Ela queria que ele soubesse disso, mas algo lhe dizia que mesmo que se ele soubesse, nada mudaria, porque ela simplesmente nunca seria "a guria" dele. 

Por mais que a bateria seja um sonho antigo, Otávio sabia que havia tirado esse desejo do fundo do baú porque ele tinha em mente, a todo instante, que ela adora um cara de baquetas e que não-há-nada-mais-sexy-no-mundo-que-um-baterista. Otávio gostaria de não ter de fazer tanto esforço para chamar a sua atenção e antes o esforço fosse proporcional a atenção recebida, mas tudo o que ela lhe disse foi um "nossa, que legal" e continuou babando naquele otário, que a trata pior que um tapete de boteco. 

Parecia tudo tão certo. Vanessa tinha certeza de que dessa vez ela teria a chance de se permitir apaixonar. Não que ela nunca tenha se permitido antes, mas é que dessa vez parecia tanto que ela seria correspondida. Mas ele já disse: nada de relacionamentos sérios. Tudo bem, ela poderia se adaptar a isso. Só que, de repente, ele não parecia nem mesmo interessado em relacionamentos não-sérios. Ela estava disposta a oferecer-lhe algo mais casual, porque a humilhação chegou a tal nível, que Vanessa fez um trato consigo mesma e se conformaria em ter somente isso, mas ele também não demonstrou interesse nessa proposta. Como superar tamanha rejeição? 

Não fazia o menor sentido. Otávio a ouviu falando com as amigas, reclamando da falta de atenção que os rapazes dão, de como eles parecem ter medo de carinho ou algo mais fixo. Como tudo aquilo parecia hipócrita! Otávio não tinha medo de carinho e nem de nada fixo. Na verdade, quem parecia ter medo disso era ela, que insistia num cara que jamais daria o que ela parecia estar querendo. Otávio sim, ele tinha tudo para dar pra ela. E ela? Bom, ela não parecia interessada no que Otávio tinha a oferecer... Ou estava interessada no que ele oferecia, mas não por quem oferecia. 

Fazer cara de coitada. Sentir pena de si. Olhos ardendo pelas lágrimas que quase se formavam, mas não a ponto de extravasarem as pálpebras. "Ele podia tanto me ver assim". Será que ele saberia que Vanessa estava mal por ele? E se soubesse, será que ele se importaria? 

Tudo bem, não havia pressa. Otávio ouviu com muita clareza: ela tem uma queda impressionante por bateristas, não tinha como errar o tiro. Ou tinha?

__ Estação Terminal Central, acesso a Rodoviária do Plano Piloto. Solicitamos a todos que desembarquem. 

Vanessa se levantou do lugar da janela. 

Otávio saiu porta à fora. 

Vanessa subiu correndo pelas escadas. 

Otávio optou pelas escadas rolantes. 

Vanessa já estava na fila para atravessar a roleta. 

Otávio parou logo atrás. 
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O que te faz acreditar que os dois teriam um encontro de olhares e se apaixonariam? Eles nem se conhecem. 


Este texto é administrado por: Sabrina Queiroz
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