“A culpa é minha e eu a boto em quem eu quiser.” Não, não é piadinha, não; assim pensam muitos.
Recentemente, li um artigo sobre culpa escrito por um psicólogo e, na concepção do escritor, “errar é humano, botar a culpa nos outros é estratégico.”
Será? Mas o autor concluiu seu artigo esclarecendo que “a culpa é inerente ao humano e colocá-la no outro também. Tudo teve início com a criação da humanidade, lá em Gênesis, no Jardim do Éden, e perpetua até os dias atuais.” Aí achei interessante.
Adão colocou a culpa em Eva. Esta, por sua vez, culpou a serpente, que se pudesse, provavelmente, teria culpado o Criador.
Hoje, culpa é da mãe, do pai, do professor, do governo, do médico, do cônjuge, do chefe ou de quem estiver disponível no momento.
Desde muito cedo se aprende a escolher um culpado para nossas falhas. Quando crianças, é quase automático apontar o dedinho inquisidor para a outra: “Foi ela quem começou!”
Millôr Fernandes disse que "errar é humano, colocar a culpa nos outros é mais ainda." Infelizmente, muitos não perdem uma oportunidade para colocar a culpa nos outros, seja nas mais simples até nas mais complexas ações.
Afinal de contas, apontar um culpado é muito mais fácil; custoso mesmo é assumir a danada da besteira feita, sustentar o erro e admitir sua culpa.
Todos erram; no entanto, admitir o erro e ter a coragem de corrigi-lo não é nada vergonhoso, pelo contrário, demonstra sinal de aprendizado, de amadurecimento e de fibra. Colocar a culpa nos outros é indecente e evidencia a incompetência, egoísmo e imaturidade da pessoa.
Erros fazem parte da vida. Errar não é sinônimo de fraqueza. Bravura é assumir seus erros e aprender com cada desacerto, ainda que não seja seu.
Para alguns, culpar alguém resolve todos os problemas. O culpado que justifique o equívoco.
“Um rapaz, que estava dirigindo alcoolizado, morreu ao ultrapassar um sinal fechado e bater em um poste. Seu pai, muito triste, e ao mesmo tempo revoltado, disse à esposa que iria descobrir o local onde o filho esteve bebendo na noite do acidente, pois iria processar o dono do estabelecimento. Ao abrir o armário para pegar seu casaco, o homem encontrou um bilhete do filho, que dizia: “Pai, peguei algumas bebidas da sua adega para comemorar a vitória do nosso time. Espero que o senhor não fique bravo comigo. Até mais tarde!”
Principalmente quando causa dor, a caça ao culpado torna-se mais evidente. Infelizmente, esquecemo-nos de analisar se o nosso comportamento não contribuiu para aquela situação.
Antes de culpar alguém, é necessário tomar muito cuidado para não ser injusto.
De outro lado, existem os que passam a vida se chicoteando, batendo no peito e repetindo a máxima “minha culpa, minha tão grande culpa”, e vivem arrastando-se como se todos os problemas do mundo acontecessem pelo simples motivo de sua existência.
O desejo de aliviar o sentimento de culpa dá uma vontade enorme de viajar no tempo e voltar ao passado para ter a chance de remediar as bobagens cometidas no presente. É uma pena, mas isto é possível apenas nas produções cinematográficas.
Na verdade, revirar o passado em busca de alternativas parece que livrará do fardo que faz perder o sono, mas isso é mera ilusão, porque provavelmente teria que retornar ao passado do passado para resolver outras questões, e assim sucessivamente.
Como isso não é possível, o melhor é cuidar do que nos resta: a oportunidade de aprendizado.
Ficar martelando dia e noite se não teria sido diferente se tivesse mudado de caminho, se tivesse dito ou não aquela palavra, se tivesse cedido, não trará nenhum conforto; pelo contrário, a loucura, cedo ou tarde, baterá à sua porta.
“A culpa se senta como um urubu nos ombros de todos nós" − disse o psicólogo. − "Ninguém está livre de sentir culpa, ela é inerente a nossa vida.”
Muito bem, se não podemos nos livrar dela, também não precisamos nos crucificar por causa dela. Mesmo porque, com culpa ou sem culpa, é a necessidade é que faz o sapo pular.
Então, aproveite a ocasião para converter a danada da culpa em algo mais construtivo, como a responsabilidade, por exemplo.
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