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No Anno Domini 1312, na Walaquia, após dois anos da independência do Reino da Hungria graças a Basarab I, a região tentava se adaptar a sua nova realidade, principalmente em relação ao peso de sua autonomia. Seu exercito exultado após a vitória heróica contra o poderoso contingente do Rei Charles I da Hungria, estava enfraquecido forçando o novo reino a submeter-se a vontade do Patriarcado Ecumênico da Constantinopla, uma das várias ramificações da Irmandade Bizantina, poderosa organização religiosa.
Essa ramificação era responsável pela proteção da região oriente do continente europeu, principalmente em tempos tão sombrios onde a peste negra levava a morte grande parte da população do continente e a Irmandade ainda não havia encontrado a origem de tal doença.
O monastério de Cotmeana, localizado no coração do novo reino abrigava refugiados da guerra e pobres viajantes que buscavam caminho para o oeste europeu, lá os monges do patriarcado também cuidavam dos enfermos acometidos pela peste.
A medicina ainda era desconhecida pelo povo dessa região, ainda enraizada nos velhos costumes. Naquele tempo um dos responsáveis por estudar o desenvolvimento da doença era Nicholas Alexandru, um camponês com grandes conhecimentos em ervas medicinais que fora selecionado pelo patriarcado para ajudar seus monges a encontrar a cura.
Durante a primavera daquele ano os casos da doença aumentaram drasticamente na região, o que levou a desconfiança o trabalho de Alexandru e seus colegas monges.
O patriarcado preocupado com a reação do povo enviou a Walaquia um de seus mais distintos conselheiros para investigar o trabalho realizado no monastério.
Após um longo tempo de perícia o conselheiro encontrou vestígios de magia em uma sala secreta num dos aposentos utilizados por Alexandru e seus colegas para pesquisas. Imediatamente culparam o pobre camponês pelo uso de magia, já que ele viria de uma família de curandeiros, e por isso estaria usando de meios proibidos para encontrar a cura da doença e muito pior estava corrompendo seus colegas forçando-os a utilizar magia negra.
Com a prisão do pobre homem, as pesquisas passaram a ser realizadas por Mikail braço direto de Alexandru e monge fiel ao patriarcado.
Mikail não só assumiu o posto de seu antigo superior, mas também assumiu toda a sua herança, perdida pela excomunhão pelo uso de magia negra, deixando o único filho de seu mestre Vlad na miséria.
Vlad passou a perambular pelos arredores do monastério, esperto e treinado por seu pai no conhecimento de ervas conseguiu sobreviver sozinho buscando na floresta seu alimento, carregando dentro de si a certeza de que seu pai era inocente e que um dia provaria isso a todos.
O garoto um dia conseguiu entrar escondido no monastério e acessar o lugar onde fora usado magia, para a sua surpresa o lugar estava repleto de escritas estranhas e desenhos, mas um em especial chamou sua atenção era a de um cavaleiro montado em um cavalo negro.
Logo o menino procurou o ancião da vila e contou o que havia visto naquele lugar. O velho então revelou que num passado distante as pessoas daquela região veneravam um ser chamado Derzelas, o cavaleiro metamorfo.
Segundo as lendas ele teria o poder de curar qualquer doença, mas que por sua essência ser maligna teria sido aprisionado em algum lugar no subsolo daquela região.
Vlad entusiasmado com a descoberta passou a estudar mais sobre aquela criatura e acabou por descobrir que havia um viajante não muito distante dali, hospedado em um mosteiro ao norte do país e que provavelmente poderia dar-lhe mais informações.
O garoto então viajou por três dias até encontrar o local informado, e na porta principal do mosteiro estava um homem maltrapilho sentado observando os monges cuidando de uma pequena plantação ao redor daquela construção.
O menino aproximou-se e sentou ao lado do estranho.
-Senhor, você é aquele em que as pessoas chamam de “O andarilho”?
O homem sem ao menos olhar para o menino respondeu:
-Sim, e você criança o que faz tão longe de casa?
Vlad então olhou para o por do sol e contou ao estranho tudo o que havia acontecido com seu pai e principalmente sobre os símbolos que vira no monastério onde seu pai trabalhara.
O Andarilho então disse ao garoto.
-Volte para casa, logo irei até sua vila e conversarei com o responsável do lugar.
-Não conte a ninguém sobre minha visita e principalmente não faça nada antes que eu te encontre novamente.
O garoto correu de volta para casa, porém em umas das vilas próximas ao monastério ele recebeu a notícia que seu pai havia sido sentenciado a morte e sua execução seria na noite seguinte.
Ele não tinha tempo a perder ao chegar a sua própria vila procurou ajuda, entretanto todos se negavam a ajudar um excomungado com medo de punições do patriarcado.
A execução seria feita de portões fechados, isso intrigou o garoto, afinal praticamente todas as penas de morte eram executadas em praça pública, alguma coisa estava errada.
Naquela noite Vlad invadiu sorrateiramente o monastério com a intenção de salvar seu pai e ignorando totalmente os avisos do andarilho.
Ele adentrou o local e do segundo andar do salão principal ele viu todos os monges usando hábitos negros e recitando um cântico em uma língua estranha,o menino reconheceu certas palavras daquele idioma. Os dácios povo que habitou a região até o ano de 106 a.C vindos dos Balcãs utilizavam idioma muito parecido.
Por um momento Vlad observou aterrorizado no centro do circulo formado pelos monges seu pai amarrado de cabeça para baixo e um homem guiando o cântico era ele Mikail.
Então o ele ouviu Mikail proclamar:
-Hoje irmãos! Iremos triunfar onde Alexandru falhou!
-E ele mesmo será responsável pela nossa glória!
-Traremos das profundezas deste monastério a salvação da humanidade! A cura para a enfermidade que destrói o nosso mundo!
-Hoje traremos de volta um deus!
Uma salva de palmas foi ecoada pelo monastério, o jovem menino em prantos correu pela escada tortuosa até o andar onde tudo acontecia, mas a única coisa que pode fazer foi ver seu pai sendo atravessado por uma espada portada por Mikail.
O garoto soltou um grito que acordou a pequena cidade vizinha ao monastério, mas era tarde. O sangue que escorria do ferimento de seu pai tornava-se negro ao tocar nos símbolos posicionados no chão.
Uma terrível sombra pairou sob o lugar, ignorando o garoto Mikail continuou sua celebração e do chão surgiu um poço de sangue negro e de dentro dele ouvia-se guinchos de cavalo e brandir de espada.
Porém antes que o celebrante pudesse terminar sua apresentação funesta, os portões da sala onde estavam foi destroçado e do meio dos escombros uma figura distorcida apareceu, o andarilho havia chegado.
Era tarde demais outra sombra se erguia do poço negro de sangue era Derzelas. O mendigo agilmente pulou sobre o monstro disforme e num movimento rápido danificou o símbolo principal usando as mãos, que envolvia o monstro.
O impacto jogou todos os presentes para longe do circulo, e fazendo com que Mikail derrubasse a adaga do ritual no chão. Quando a poeira baixou o herói percebeu que era tarde demais, mesmo impedindo o final da cerimônia o monstro ainda estava de pé e com parte de seus poderes restaurados.
Vlad recobrou a consciência tempo o suficiente para presenciar o embate de titãs entre o andarilho e o cavaleiro metamorfo. Enquanto o intrépido mendigo demonstrava uma incrível força física, apesar da aparência franzina o seu adversário usava de uma incrível habilidade de alternar sua forma em um lobo negro gigante e um bando de morcegos para evitar os ataques recebidos e contra-atacar.
Em um momento de descuido o herói recebeu uma investida devastadora que o derrubou, Derzelas assumiu sua forma original e colocou sua lança no pescoço do andarilho e esboçou um terrível sorriso.
Porém antes que pudesse ferir gravemente o homem o monstro caiu de sua montaria e das suas costas jorravam o sangue negro que havia absorvido de Alexandru permanecendo algum tempo de joelhos com o olhar inerte e finalmente tombando derrotado.
Nesse momento foi revelada a figura de Vlad portando a adaga usada para na cerimônia e ainda embebedada com o sangue de seu falecido pai.
O andarilho sorriu e sussurrou:
-Garoto esperto... o mesmo sangue que trouxe a vida pode leva-la de volta...
Algo inacreditável aconteceu do corpo inerte de Derzelas uma luz surgiu e envolveu o garoto que sentiu um calor intenso, o mendigo observava tudo atento sem nenhuma estranheza. Quando a luz cessou um grande lobo branco tomou o lugar do menino,o animal foi até o homem caído e deitou-se.
O homem então viu magicamente o lobo voltar a ser o menino que assustado perguntou:
-O que aconteceu comigo?
O andarilho abraçou o garoto e sussurrou.
-Descanse, pela manhã darei todas as respostas que procura.
Na manhã seguinte todos os integrantes da cerimônia macabra foram presos e levados à corte da Irmandade Bizantina para serem julgados. Vlad foi levado por seu amigo até uma velha cabana na floresta onde recobrou novamente a consciência.
-Onde esta meu pai?
O homem de costas enquanto mexia em algumas ervas respondeu.
-Seu pai não resistiu, porém com a descoberta da verdade ele foi inocentado e assim poderá ser enterrado em solo sagrado conforme a tradição.
O garoto enxugando as lagrimas respondeu soluçando.
-Era exatamente isso que ele gostaria fosse feito.
-Mas e eu? O que aconteceu comigo?
O andarilho pegou o chá que preparou e entregou ao garoto e disse:
- A partir de agora você é um atemporal.
Vlad perplexo perguntou.
- E o que é isso?
O homem colocou a mão sobre a cabeça do menino.
- A partir de agora o tempo não afetará você da mesma maneira que afeta os outros.
O menino ficou pálido com o que seu amigo disse-lhe, e continuou.
- Então agora eu sou imortal?
O andarilho riu da pergunta do menino.
- Não, você não é imortal.
- Existem duas medidas de tempo. Chronos que é o tempo terreno, o tempo que afeta todas as coisas terrenas desde humanos, animais e plantas.
-E existe Kairós o tempo que afeta os astros,o tempo da oportunidade, que afeta aqueles que se auto denominam deuses. Kairós passa extremamente devagar em comparação a Chronos. Agora esse será seu relógio biológico.
O garoto sentou-se e escutou atentamente seu mestre continuar.
-Quando você matou aquele ser você ganhou como prêmio algumas habilidades que ele possuía, elas irão aparecer com o tempo. O tempo será sua fonte de poder.
Vlad se ajeitou na cama feita de palha e perguntou.
-Tempo, tempo e tempo não consigo entender muito bem o que você disse, estou perdido não tenho mais ninguém.
O andarilho refletiu por alguns minutos.
-Eu ficarei aqui até você atingir sua maturidade e entender a complexidade daquilo que te espera daqui para frente, vou ajudá-lo a entender suas habilidades e aperfeiçoa-las.
- Eu serei seu mestre.
Durante um ano mestre e discípulo treinaram e nesse período de tempo o menino envelheceu dez anos atingindo a maioridade e o auge do poder que havia recebido, o andarilho explicou que naquele momento em diante ele não mais envelheceria rapidamente e que já dominara todas suas habilidades de transformação. Agora o menino teria de procurar suas respostas sozinho, pois a permanência de seu mestre atrapalharia seu desenvolvimento e que todo conhecimento que precisava estaria dentro dele.
O mendigo deixou o garoto agora homem para enfrentar suas próprias escolhas, e principalmente o que fazer com as dádivas que recebera. Foi exatamente assim que fizeram com o mestre e da mesma maneira ele agiu com seu discípulo.
Assim o homem deixou o monastério de Cotmeana e seguiu para as terras geladas do norte.
O andarilho continuou sua peregrinação, porque ele não possui um lar, porque ele está aqui e ali, porque ele sempre esteve aqui.
Isso é o fim... ou talvez não...
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