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A Influência Social
Resenha crítica ao filme O Enigma de Kaspar Hauser
Samara Esttácio

Resumo:
FILME RESENHADO: JEDER für sich und Gott gegen alle (filme). Direção de Werner Herzog. Alemanha Ocidental 1974. 1videocassete (110min.). Legendado. Port. REFERÊNCIA: Livro: THOMPSON, John B., A Mídia e a Modernidade: Uma teoria social da mídia, Petrópolis, Vozes, 1998, 261 p.


       Mesmo sendo criado em um ambiente impróprio e sendo submetido a métodos coercitivos, Kaspar Hauser desenvolveu habilidades que o ajudaram na adaptação ao mundo social. Conforme havia transmissão de conhecimentos e técnicas ele reproduzia as formas e expressões usadas pelos demais seres humanos que convivia. Isto é, o que Thompson definiu por “poder simbólico”. “O poder cultural ou simbólico, nasce na atividade de produção, transmissão e recepção do significado das formas simbólicas.” Sendo assim, a atividade simbólica, ou seja, a reprodução da vida social foi exibida fidedignamente ao longo do filme.


       O que é intrigante é a capacidade de fácil adaptação de Kaspar em relação à repetição de ações, à medida que, havia relações com outros seres humanos. O indivíduo que não sabia identificar elementos básicos, como o perigo, ou o medo, passa a experimentar e vivenciar situações que o faz até emocionar-se. As ações que, outrora, não eram intencionais, e sim instintivas, passam a ter significado, pois a partir daí ele começa a seguir padrões de acordo com o contexto social. Inicia-se assim, a vida social de Kasper Hauser.


     Uma das dificuldades que ele tinha era lidar com a percepção. Já que não havia vivido situações de perigo, ou tido contato com fogo por exemplo. O medo começa a surgir quando passamos a ter experiências desagradáveis ou lidamos com o desconhecido. A questão é: em meio a tanta coisa nova, o que fez com que kaspar não tivesse medo de brincar com um gato ou com um pássaro e outrora ficasse tão assustado com uma galinha? Bom, talvez ele tivesse associado à imagem da galinha com alguma situação de perigo, ou até mesmo a pressão dos outros indivíduos que tinham a finalidade de assustá-lo naquele momento.

       
       Evidentemente, o mundo social impõe sobre Kaspar Houser formas comportamentais e de pensamento que convém a sociedade. Ensinar-lhe a segurar um talher, pronunciar algumas palavras, ou ensinar-lhe a andar são apenas pequenos detalhes, quando comparados ao controle de pensamento que a igreja e a sociedade da época o exigiam.


       A igreja, uma forte instituição presente no ensinamento de Kaspar, induzia posições e formas de pensamentos, na qual, ele deveria ocupar-se. A informação, traduzida através do conhecimento que tanto a igreja quanto as pessoas letradas detinham, e ainda nos dias atuais detêm, foi e ainda é usado para a intervenção e manipulação da forma de pensar e de questionar-se. A grande dificuldade de Kaspar era exatamente lidar com essas “regras” que a própria sociedade impunha, mas nem ao menos se sabe qual a finalidade. Afinal, porque somente as mulheres podiam tricotar? Esse era o tipo de indagação que os indivíduos daquela época não faziam.


       Ele tinha um conhecimento prévio da linguagem oral, assim como também conhecia pouco a linguagem escrita. Porém, já havia desenvolvido elementos essenciais para a conversação. Tudo isso só foi possível, graças à boa memória que Kaspar tinha. Ao aprender como pronunciar novas palavras, por exemplo, ele não precisou de grandes técnicas. O modo com o qual aprendia a falar era até inusitado, já que quem o ensinava na maioria das vezes era uma criança. Isso não aconteceu apenas na fala, mas também na escrita. Já que em apenas dois anos Hauser aprendeu a escrever.


       No caso da conversação – tanto a conversação face a face quanto aquela transmitida por meios técnicos como auto-falante ou telefone – o grau de fixação pode ser muito baixo ou efetivamente inexistente; qualquer fixação neste caso vai depender da memória, mais do que de alguma propriedade distintiva do meio técnico como tal.


     A forma com a qual o ser humano é criado influencia no modo de pensar, falar e de se comportar. Já que, os gestos e expressões comunicativas são consequências da vida social. A linguagem oral tem suas complexidades e depende de uma variação de elementos. “A laringe, cordas vocais, ondas de ar, ouvidos, tímpanos auditivos, etc.”      


     Embora kaspar já tivesse aprendido a ler e escrever, o modo com o qual ele interpretava as mensagens e ensinamentos não era exatamente da forma que seu orientador lhe passava. Ele tinha um grande pensamento crítico e tirava suas conclusões de modo inusitado para aquela sociedade. A capacidade de raciocínio lógico, talvez até avançado para a época, assustava pessoas intelectuais. Apesar de ter sido considerada errada a resposta, ele mostra um jeito de pensar superior e trás uma solução objetiva e eficaz a uma pergunta que trabalhava com a lógica.


        Quando indivíduos codificam ou decodificam mensagens, eles empregam não somente as habilidades e competências requeridas pelo meio técnico, mas também várias formas de conhecimento e suposições de fundo que fazem parte dos recursos culturais que eles trazem para apoiar o processo de intercâmbio simbólico. Estes conhecimentos e pressuposições dão forma às mensagens, à maneira como eles as entendem, relacionam-se com elas e as integram em suas vidas.


       O comportamento pouco comum aos olhos da sociedade, fez com que Kaspar torna-se uma figura curiosa e surgiram diversas especulações a respeito da origem dele. Esses boatos são características da informação oral.


       A história utiliza-se da figura de um escrivão para registrar todos os fatos e evoluções que Kaspar obtinha. Isto é necessário, pois quando a história é passada de geração para geração de forma oral alguns traços relevantes são perdidos. Já o registro escrito, além de guardar de modo mais seguro as informações, ainda faz com que os fatos sejam contados fidedignamente.


       Ao fim, descobre-se que kaspar tinha um lado do cérebro mais desenvolvido. Eis a resposta para todos os questionamentos que o envolviam? Ou será mais um estopim para novas indagações como, por exemplo, um ser humano que é criado sem nenhum contato com o mundo exterior consegue desenvolver tanto seu cérebro? Essas são mais algumas daquelas questões emblemáticas e que exigem um maior estudo a respeito.


Biografia:
Samara Adrielly Esttácio Pereira, alagoana, estudante de jornalismo da USJT. Atualmente, mora em São Paulo. Pesquisadora, crítica, escreve textos críticos sobre os mais diversos assuntos contemporâneos, religião, política, e alguns romances.
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