Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
A BONECA DE SOPHIA - PARTE XII
EMANNUEL ISAC

... Nênia aguardou os dois homens entrarem para fechar a porta. Direcionou-os à sala e sentou na cadeira, oferecendo o sofá de dois lugares para eles:

          - O senhor falou que tem algo pra falar sobre meu cunhado e minha irmã? – Perguntou ela;
          - Sim! Infelizmente, não é uma boa notícia... – Começou Viegas;
          - Aconteceu alguma coisa com Norma? E Sophia..., a onde elas estão? – Nênia demonstrou sinais de ansiedade e apreensão;
          - Sua irmã e sobrinha, não sabemos a onde estão..., seu cunhado... – Viegas fez uma pausa – está morto!
          - Morto? Ele não resistiu aos ferimentos da queda? – Nênia pensava que Marcelo havia falecido devido ao acidente;
          - Não exatamente!
          - ?????? – Nênia ficou sem entender;
          - Me fale uma coisa; você ou alguém de sua família, já fizeram parte de alguma religião..., grupo que invocasse espíritos ou algum ritual? – Viegas perguntou, ao tempo que Bruno tirava do bolso do paletó, uma pequena agenda e um lápis;

          Nênia ficou parada, calada, olhando para o chefe de polícia, ainda absorvendo a pergunta na mente. Fechou os olhos e balançou a cabeça, como se fosse despertar de um sono profundo. Olhou novamente para Viegas e Bruno à sua frente, respondeu:

          - Minha mãe era evangélica..., minha irmã; cética..., eu..., passei a acreditar ainda mais em tudo!
          - Passou a acreditar? Como assim? – Quis saber Viegas;
          - Deixa pra lá! Meu cunhado está morto? Pelo que eu entendi, não foi por causa do acidente! Como foi que ele morreu?
          - A senhora acredita em forças demoníacas?
          - Como eu falei antes, passei a acreditar em tudo! – Tornou a repetir ela;
          - Ele foi encontrado morto, no quarto do hospital, com o corpo dobrado em dois; como se dobra uma folha de papel ao meio!
          Nênia olhou fixamente para os dois homens sentados à sua frente. O chefe de polícia observou o livro em cima da mesinha de centro, e falou:
          - Interessante este livro, posso dar uma olhada? – Antes mesmo de Nênia responder, esticou a mão e pegou o livro...
                  xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

          ... Éster sumiu pelo corredor, voltando com uma vela preta, grande, e a entregou para sua mãe. Ela acendeu a vela e colocou sob o “turíbulo”, enchendo-o com as folhas do caruru-azedo. Assim que o recipiente começou a incandescer, pode-se sentir o “EMPIREUMA”* preenchendo todo o ambiente.

          Norma começou a ouvir a boneca grunhir como um porco selvagem, que logo em seguida, se tornou em uma grulhada, como se fosse vozes, vindo do mais profundo abismo. Sophia que estava em seus braços, começou a se debater assim que as vozes chegaram, aos seus ouvidos.

          A velha pegou a boneca e falou alguma coisa na altura de seus ouvidos e a deitou novamente sobre a cruz de ponta cabeça, pegou o “CORSIER”** e começou a riscar o chão dentro do círculo, sempre invocando o nome NAZU. De repente, todo o ambiente entrou em uma escuridão profunda. Em um ato de auto defesa, Norma começou a recuar até encostar suas costas em uma parede.

          Começou a ficar com a respiração ofegante, seu coração começou a bater mais rápido. Esforçava-se para segurar Sophia em seus braços. Aos poucos, começou a sentir um cheiro de carne em putrefação, ficar cada vez mais forte. Fez-se um silêncio mortal; Norma tentava retomar o controle da respiração, podia-se ouvi-la a metros de distância.
          Queria saber o que estava acontecendo ao seu redor, queria chamar por Éster mas estava com medo, que alguma coisa soubesse o local a onde ela estava. O cheiro começou a ficar insuportável, chamou por Éster baixinho:

          - Éster! Ésteeer! – Nada!

          Abraçou Sophia fortemente com o braço direito, e meteu a mão esquerda no bolso, retirando um isqueiro. Acendeu e pôs a chama à sua frente; olhou para o centro da sala, tentando encontrar Éster, forçou as vistas na direção de onde estava o circulo do ritual, enxergou apenas a silhueta da velha que estava de joelhos, com a cabeça entre as pernas e os braços estendidos, para a frente, inerte, não viu mais a boneca dentro dele! Voltou a ficar com a respiração ofegante, posicionou o isqueiro à sua direita; não viu nada! Lentamente, foi virando para o outro lado e sentiu um ar fedido e quente tocar em sua fase esquerda; tremendo, deixou a chama do isqueiro, apagar.

          Apertou novamente o isqueiro e quando ele acendeu; pode enxergar o que parecia ser um resto de ser humano, com a carne do rosto em decomposição, caindo pedaços sob os olhos, com a arcada dentária à mostra, olhando para ela, quase colado ao seu rosto. Norma gritou! Éster surgiu do outro lado e puxou Norma para perto dela, tomando Sophia de seus braços.                                                                                                                              
                         A velha surgiu logo em seguida e lançou sobre aquele corpo podre um pó negro, pronunciando algumas palavras antigas, fazendo aquele morto-vivo, voltar para dentro da escuridão! Olhou para Norma, e falou:
                        - As vezes, um demônio desgarrado, atravessa o canal de invocação e tenta incorporar!
          - A..., aqui..., qui..., lo..., e..., era..., um..., um de..., demônio? – Perguntou Norma, gaguejando por causa do pavor;          - Um oportunista! – Completou Éster;
          - Precisamos prosseguir com o ritual;
          - Eu não quero participar de mais nada! Eu vou embora com minha filha agora!

          Norma esticou os braços para pegar Sophia das mãos de Éster, que se inclinou, fazendo com que a menina ficasse fora do alcance das mãos de Norma:

          - Não tem como você sair agora! Mesmo que permitisse que você saísse com a menina, ela não iria deixar! – Éster olhou por sobre o ombro de Norma, e com a cabeça, indicou a direção que Norma deveria olhar.

          Ela olhou lentamente para trás, e viu quando a boneca surgiu da escuridão, na frente da porta...

       - - - - - - -   - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
* “EMPIREUMA” - Cheiro e sabor acres contraídos por uma substância orgânica submetida à ação de fogo violento

** “CORSIER” – BASTÃO DA SERPENTE: Indica o mais alto grau do sacerdócio. Visto nas imagens da deusa ANTENA; REY TUT (Egito), para se identificar com OSIRIS, o deus dos mortos e outros.

Número de vezes que este texto foi lido: 61628


Outros títulos do mesmo autor

Poesias CACHOS EMANNUEL ISAC
Poesias GUERREIRA EMANNUEL ISAC
Poesias REENCONTRO EMANNUEL ISAC
Poesias SILÊNCIO EMANNUEL ISAC
Poesias S O L I D Ã O EMANNUEL ISAC
Poesias MINHA METADE EMANNUEL ISAC
Contos FETICHE EMANNUEL ISAC
Poesias I N C Ó G N I T O EMANNUEL ISAC
Contos O MENINO DO PARQUE - PARTE I EMANNUEL ISAC
Contos O MENINO DO PARQUE - PARTE FINAL EMANNUEL ISAC

Páginas: Próxima Última

Publicações de número 1 até 10 de um total de 111.


escrita@komedi.com.br © 2025
 
  Textos mais lidos
PERIGOS DA NOITE 9 - paulo ricardo azmbuja fogaça 62692 Visitas
Jornada pela falha - José Raphael Daher 62536 Visitas
Mistério - Flávio Villa-Lobos 62370 Visitas
O Cônego ou Metafísica do Estilo - Machado de Assis 62239 Visitas
Viver! - Machado de Assis 62224 Visitas
Os Dias - Luiz Edmundo Alves 62211 Visitas
- Ivone Boechat 62184 Visitas
Eu? - José Heber de Souza Aguiar 62176 Visitas
PEQUENA LEOA - fernando barbosa 62172 Visitas
Insônia - Luiz Edmundo Alves 62165 Visitas

Páginas: Próxima Última