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Memórias de um Sargento defunto.
Reginaldo Correia da Silva

Memórias de um Sargento defunto

Capítulo I

     Em toda minha vida nunca acreditei em coisas do tipo sobrenatural, como fantasmas, monstros e Brás Cubas... Mas agora acredito, e foram muitos os motivos que me fizeram mudar de idéia, o principal deles é que do lugar onde estou não dá pra negar nada, afinal já não estou entre vós vivos leitores, acreditem é a pura verdade, mas não me sinto como um morto, digamos que apenas estou em um plano diferente de vós, sendo que aqui é melhor que aí, não é o céu dos religiosos nem a inexistência dos ateus, mas pela parte física é ótimo pois não precisamos comer, beber, e outras necessidades que vós precisais para não correrdes o risco de vir para cá mais cedo, mas aqui todos nós trabalhamos, não por necessidade mas para passar o tempo pois diferente de vós temos uma eternidade pela frente já para vocês é difícil se estarão aí no minuto seguinte.
      De fato não é a primeira vez que venho para cá, só que na outra ocasião houve um fato que me fez voltar à terra, um fato bastante curioso que vos falarei mais adiante, peço-vos calma, sei de vossa pressa e falta de tempo, mas resta a vós um consolo, se chegar a hora de um de vós partir dessa para melhor antes de ouvir tudo o que tenho a dizer podereis ouvir pessoalmente quando chegardes aqui deste lado.
     E acreditem em mim, todos vocês virão para cá, então comprovarão que falo senão a verdade pois sempre fui um homem integro, mesmo depois que morri e meu corpo foi devorado pelos vermes da decomposição, continuo com as mesmas qualidades e defeitos, assim também será e é com todos que chegam aqui, mas vamos com calma amigo leitor, tudo tem seu tempo, enquanto vocês caminham depressa eu estou quase parando, pois tempo é o que não me falta para escrever estás memórias, e diferente do meu amigo Brás Cubas, que chegou por aqui há algum tempo e que tive o prazer de encontrar por esses dias, não irei começar minha “história” por minha morte, já que acredito ter sofrido “duas mortes”, usarei portanto o método convencional, se bem que narrar fatos sobre a vida depois de morto nunca será convencional, assim irei contar a minha “história” em duas partes, a primeira parte será do meu nascimento até minha “primeira morte” e a segunda parte será do meu retorno à terra até este momento, não será nada formal amigos que lêem estas insignificantes memórias, não será exatamente uma divisão; 1ª parte, 2ª parte, mas vocês saberão quando terá terminado uma e começado outra, presta atenção para não serdes pegos de surpresa quando chegardes aqui, como eu fui.

Capítulo II

     O meu nascimento ocorreu em meio a festas, como relatou-me uma irmã, que tive o prazer de reencontrá-la por estes lados, falei lhe da vontade de escrever estas memórias, e ela prontamente relatou-me os fatos entre meu nascimento e até onde consegui lembrar, pois quando aqui cheguei, notei que nem minha memória havia melhorado, bem como ia dizendo quando cheguei ao mundo “mortal” em 05/01/1945 fui recebido por meus pais, parentes e amigos com grande alegria, consideraram-me um verdadeiro prêmio, um patrimônio para toda a cidade, a pequena e pacata Porto da saudade no estado do Rio de Janeiro, afinal eu era o primeiro macho de uma família de cinco irmãs, meu pai depositou toda a sua confiança em mim, ele era um Sargento da Aeronáutica e cidadão dos mais respeitados, senão o mais, seu maior sonho era ter um filho que seguisse seus passos na vida militar, e se dependesse dele tudo daria certo, mas ainda era cedo.
     Nos primeiros dias do meu nascimento não fiquei parado num canto um só minuto, era levado de um lado para outro, de casa em casa, exibido como um troféu, fui beijado, e abraçado por todas as mulheres da cidade, chegava a ficar sufocado com o aglomerado que sempre se formava ao meu redor aonde quer que eu chegasse, e mesmo quando estava em casa, não descansava, meu pai costumava pegar-me varias vezes e alçar-me ao céu, enchendo me de elogios e amor paternal; já a minha mãe era mais contida, mas me amava, não escondendo sua alegria e satisfação, só que sem as ambições militares de meu pai, para ela eu iria escolher uma profissão por mim mesmo, e assim eram os sentimentos dos meus pais para comigo, e até para escolher um nome para mim pesou o sentimentalismo, meu pai afim de galgar-me ao militarismo deu-me como incentivo seu próprio nome; Epitácio de Albuquerque e Alcântara Filho, pois dessa maneira imaginava que num futuro breve, quando eu já crescido ouvisse seu nome e honras dificilmente iria recusar seguir seus passos.

Capítulo III

     Mas nem tudo foi flores para mim em minha chegada ao vosso mundo cruel. Contrárias a todos estavam minhas irmãs, fui visto por elas como um intruso, exceto pelas duas mais novas; Catarina de apenas 5 anos, e Livanita de 7, já para as mais velhas; Luiza de 10 anos Ana Paula de 12, e a mais ciumenta, Lucicleide de 13 anos, eu chegara para tomar sua herança, e por isso sentiam-se ameaçadas, afinal eram mulheres em um mundo machista e militar, casariam e iriam embora, enquanto eu, o macho da casa seria o dono de tudo que pertencesse a família Albuquerque e Alcântara.
     Mas se engana quem pensar que eu tive infância infeliz, pois não tive, ao contrário fui um bom garoto, e nunca deixava uma boa brincadeira, a minha alegria era tanta que contagiou toda a família, até mesmo o ambiente sisudamente militar melhorou bastante, minhas irmãs foram deixando aos poucos as implicâncias e assim vivemos felizes por um bom período.
     Os anos que se sucederam passaram rápido, minha mãe mimava-me aos extremos, mais meu pai mesmo rígido usava para comigo de uma ternura incomum, ensinava-me tudo que sabia a tal ponto que ao completar sete anos deu com presente uma ida ao quartel, passei o dia com ele, e aquilo teve um efeito duradouro em mim, talvez justamente o que o meu pai queria, a partir daquele dia passei querer ser como meu pai, o que o deixou feliz, tanto que minha ida a o quartel tornou-se freqüente, comecei a me acostumar com a vida e a rotina militar, e o meu temperamento foi mudando aos poucos, mas nada que pudesse parecer anormal.


Capítulo IV

Rapidamente cheguei aos dezoito anos, minhas irmãs todas já haviam casado e ido morar em outras cidades, eu estava só naquela casa, meus pais estavam envelhecendo e sentia que estava perdendo-os. Primeiro foi meu pai, certo dia ele começou a sentir doente, e a tossir, no inicio pensávamos que se tratava de uma gripe, mas cada dia a situação ia piorando,tentávamos acalma-lo e assim acalmar a nós mesmos. Contratamos os melhores médicos que o dinheiro pôde pagar, meu pai sentindo que os dias já estavam se findando teve uma conversa comigo, talvez por sentimos que era a ultima, houve muita emoção, meu pai encheu-me de beijos e carinhos, e me fez um apelo comovido pediu me para entrar numa escola de Sargentos no Recife, falou que havia conseguido uma vaga para mim, prometi que o faria, ele estava muito debilitado, jamais esquecerei meu velho pai, depois daquela conversa, sua saúde piorou de vez, e por mais cuidados que tivemos nós, minha mãe eu e os médicos, ele morreu, a tuberculose o matou em uma semana, ficamos tristes, minha mãe quase enlouqueceu, ela amava meu pai mais que tudo, mas a vida tinha que continuar, e realmente continuou.
Mas os dias que sucederam a morte de meu pai foram os mais tristes para mim, pois o pior ainda estava por vir, uma semana depois da morte de meu pai minha mãe foi encontrada morta em seu quarto, havia se enforcado, não suportou a perda de meu pai e foi ao seu encontro, ah! Amigo leitor foi mais um golpe duro para mim, estava só, tinha apenas dezoito anos mas minha vida desmoronou em duas semanas, não agüentei, culpei Deus e quem aparecia na minha frente.
Decidi ir para o Recife, antes conversei com minhas irmãs e concordamos em vender a casa, o que fiz imediatamente, os outros bens; uma pequena chácara, outra casa, e algumas ações na bolsa do Rio de Janeiro ficaram no meu nome, minhas irmãs não quiseram nenhum bem, talvez por que não precisavam, seus maridos eram homens bem sucedidos, até mais que meu pai. Despedi os empregados e preparei-me para viajar ao Recife, não sabia como seria dali pra frente, mas faria tudo para honrar meus pais, seria um Sargento caridoso e gentil, um exemplo para nossa espécie cada vez mais extintora de si mesma.

             Capítulo V

Morei no Recife por mais ou menos cinco anos, e passei a amar está metrópole, ah, amigo leitor se não mora no Recife, precisa ir lá antes de vir para o lado de cá, bem, logo depois de me formar como um Sargento da aeronáutica tive que viajar de novo, fui escalado para uma base aérea em Goiás, tive ótimas referências de lá mas alguma coisa me dizia que não fosse, e não fui, para minha sorte surgiu uma vaga em Recife, e quando souberam que eu era filho do falecido Sargento da aeronáutica no Rio de Janeiro, Epitácio de Albuquerque e Alcântara, deram-me a vaga, fiquei muito feliz, poderia em fim continuar minha rotina diária e monótona, mas era a vida que pedira a Deus, mas algo que ocorreu mudou minha maneira de viver.
Foi num dia como outro qualquer, havia largado do quartel, e passeava pelo centro da cidade, acabara de sair da Ponte Duarte Coelho de onde vislumbrava o velho e imponente Rio Capibaribe que se preparava para dormir junto com a cidade, uma cena chamou-me a atenção, á alguns metros de mim um homem estava sendo roubado, foi muito rápido, não pude ajudar, ao chegar perto notei que era um homem já velho, de seus sessenta anos, levei-o ao hospital, mas ele estava bem, apenas alguns machucados, agradeceu-me prontamente o velho, ia me despedindo quando uma moça se aproximou de nós, era muito bonita, e demonstrava muita intimidade com o senhor, pensei em perguntar-lhes se eram parentes mas fiquei constrangido, mas ao ouvi-la chamá-lo de pai não tive mais dúvidas, fiz questão então de dar um auxílio financeiro, fiz um chegue de uma pequena quantia, eles agradeceram, a filha em agradecimento pediu-me que eu fosse visitá-los para jantar, aceitei sem pensar duas vezes, na volta pra casa pensei no que tinha acontecido, poderia ser com qualquer um até comigo, mas havia o lado bom da história, se o senhor não houvesse sido roubado, eu não o teria ajudado, nem conhecido sua bela filha, não acreditava em destino, mas me achava um homem de sorte.

        Capítulo VI

O tal jantar demorou um pouco a acontecer mas aconteceu, a casa deles era humilde para não dizer pobre, nem o nome deles eu sabia, mas não tive vergonha de perguntar; ele se chamava Sergio e a linda filha Michele, por falar nela, estava radiante, agradeceu-me por tudo o que tinha feito por eles nos últimos dias, eu porem fiz questão de mostrar que aquilo não era nada, que era apenas uma boa ação que poderia ser feita em beneficio de qualquer um, mas se ela fosse feia? será que eu ajudaria? E vós amigos leitores ajudarias? Se ela fosse aleijada, cega e esse ela fosse burra!?, é certo que sim pois a caridade é uma constante de nossa raça, já nasce conosco e conosco permanecerá, mas depois de todas essa indagações voltemos ao jantar, a comida foi simples na verdade nunca tinha comido algo tão simples mas deveras apetitoso, principalmente para quem estava com muita fome com era o meu caso e o deles.
No fim do jantar me agradeceram de novo, fiquei constrangido, mas tive que me despedir, apertei a mão do velho homem, depois a de sua bela filha, o fiz levemente para sentir seu calor e olhei bem em seus olhos, ela desvia-os, mas convidou-me a voltar lá no dia seguinte, eu o faria de qualquer jeito mas com o convite ficou mais formal, mais digno.

Capítulo VII

O fato é que voltei lá para jantar quase todos os dias, assim consegui a amizade e simpatia do pai, e o amor e beijos da filha, ela era uma boa moça, alta, magra de belos olhos azuis e era isso que me hipnotizava, ah! Aqueles olhos amigo leitor, já se apaixonasse por um belo par de olhos? Ou por uma boca, ou por... deixa pra lá. Voltemos a minha amada, ela era o oposto do pai, ele era baixo, um pouco gordo, evidentemente ela havia puxado à mãe fisicamente, mas sua personalidade era idêntica ao do pai, eram calmos e não muito sinceros em atos e palavras, seu Sergio nem imaginava o que eu e sua filha andávamos fazendo escondidos, na verdade confiava bastante em mim e tinha uma gratidão sem tamanho que queria pagar a todo custo só não imaginava que eu tinha tomado sua frente e começado a cobrar sua dívida beijando, abraçando e amando sua filha.
Demorou um pouco para seu Sergio se recuperar do trauma que aquele assalto lhe havia causado, eu porém tratei de ajuda-lo, primeiro por que tinha um laço afetivo e amistoso com ele, segundo por que tinha um laço amoroso com a filha dele e agora que eu e ele já estamos desse lado confesso que era por Michele que iria ajuda-lo, a primeira ajuda que aceitou foi o apoio moral o que fiz de bom grado, já a financeira ele nem queria ouvir, se sentia quase ofendido, logo de mim que já era quase um filho! Mas foi cedendo, cada vez que eu aumentava a quantia que já era alta, até aceitar, então aceitou e em pouco tempo já era um dos mais bem sucedidos moradores da região, aquilo me rendeu o melhor lugar que poderia ter em sua vida, e abril caminho para comunicar-lhe meu interesse de ser seu genro...

Capítulo VIII

Michele era quem seu Sergio queria ver mais feliz e por isso fez cara de espanto quando soube do nosso namoro, mas não ficou zangado era esse seu desejo, ver sua filha casada com um homem de bem, de confiança, bem estabelecido na vida, em outras palavras comigo, e permitindo que continuássemos a namorar dera um passo importante para conseguir seu objetivo, pois como ele falava estava perto da morte e queria deixar a filha em boa situação tanto financeiramente como no amor, oh! homem esperto e inteligente esse amava a filha! Eu também, mas diferente dele esse amor não durava quando ela não estava, nem quando brigávamos o que acontecia muitas vezes, não falo quantas por que nunca contei.
Nosso namoro durou seis meses, muitos beijos e muitas brigas, nós dois quase ao mesmo tempo descobrimos que nada que tentássemos fazer juntos daria certo, estão terminamos o namoro mas não a amizade, mas era inevitável que nos afastássemos, e foi o que fiz, o pai que fazia gosto de ver-nos juntos ficou um pouco triste mas se acostumou, fazer o quê? E a vida continuou para nós do jeito que continua para todos, alguns com felicidade e riqueza, outras com dor, tristeza, fazer o quê?...

Capítulo IX

Sem os sentimentos paternos de seu Sergio e os beijos de Michele minha vida voltou a monotonia que era, casa – quartel, quartel – casa, e em casa cama, dormia muito, jogava xadrez comigo mesmo, preparava qualquer coisa que chamava de comida, me sentia mais preso em casa que no quartel, mas eram duas prisões, a doméstica e a militar, mas tudo bem eu ganhava uma “fortuna”, por isso não me preocupava, quem não queria ter esses problemas?.
     Mas para tentar acabar com toda aquela chatice que era a minha vida, resolvi me escrever numa sociedade filosófica, “Amor Fraternal” era o nome, na verdade era um grupo de senhores e senhoras bondosos e bem sucedidos, que passavam a vida tentando amenizar os problemas do mundo, praticando a caridade embora achando que a mesma tinha seu tempo para ser praticada, achavam também que o mais importante era a ajuda espiritual por isso distribuíam um panfleto filosófico sobre a fraternidade, visitavam os doentes, presos e mendigos, ficavam satisfeitos cada vez que entregavam os panfletos, o que não acontecia com os beneficiados, os principais lideres eram do auto escalão militar e me aceitaram de bom grado com muitas demonstrações de apoio que me comoveram muito, eu um pobre ser, aceito por um seleto grupo de anjos, sim, não poderia haver outra palavra ara descrever um grupo de pessoas amáveis dispostos a diminuir a desgraça humana ou pelo menos disfarça-la.
     Com este objetivo em mente essa nobre sociedade filosófica prosseguiu com força e destemor. Confesso que no inicio me senti um pouco reprimido, afinal quem era eu perto daqueles gigantes da humanidade, era certo que eu não passava de um aprendiz, mas todos faziam questão de me deixar a vontade, me tratando como se fosse membro da “Amor Fraternal” há anos, o que me deixou muito feliz, mas não chorei, minha raça nobre militar não permitia tais demonstrações de fraqueza humana, não que não ás tivéssemos mas sabíamos esconde-las bem, muito bem.
     As reuniões desse seleto grupo de homens de bem eram esplendorosas, regadas a caviar e champanhe importados da Europa, afinal uma ocasião sagrada como essa tinha que ser marcante, mesmo sendo reuniões semanais, na verdade a comida e a bebida que faltava para dar aos necessitados sobrava nas reuniões da sociedade “Amor Fraternal” mais um exemplo claro da indignidade humana sobre a alma, pois a alma não, precisa de alimento e eles levavam isso a sério.
     Foi justamente nessas reuniões que comemorei meu trigésimo aniversário, cercado por aqueles homens que tanto me estimavam e respeitavam, principalmente quando eu estava fardado, mas o que pode dar mais respeito que uma farda? Bem não uma farda comum, mas uma com bastantes condecorações, essa sim ninguém pode conter sua expansão ao mundo.

Capítulo X

     Bem, voltando ao meu aniversário, foi uma ocasião inesquecível, comemorei mas não fiquei feliz, afinal não era um ano a mais, era um ano a menos, pelo menos era o que pensava naquele momento, no meu discurso de aniversariante falei da alegria de estar ao lado de nobres seres, algo que nunca mais voltei a falar sobre ninguém.
     Depois do meu aniversário continuei a procurar sair da mesmice que a minha vida tinha se tornado e da qual nem a sociedade filosófica tinha me tirado, na verdade o que eu precisava era de algo para ocupar minha mente e assim sair da ociosidade militar.

Capítulo XI

     Mas se estais pensando amigo que eu consegui facilmente sair da monotonia, estais enganado completamente, na verdade tive que lutar contra mim mesmo, uma parte de mim queria rasgar a farda, viver um amor a cada dia, beber e declamar poemas como os boêmios, mas outra parte de mim era preguiçosa, inculta e ambiciosa, preferia a farda, as condecorações. Preferi a parte mais tediosa, porém lucrativa, e vós leitores o que farias?, cada um nasce com a ambição que herdou, uns querem ser cantores, outros atores, ou poetas, médicos, políticos, mas querer ser não significa não significa poder ser, mas isso é conversa de sociólogo, coisa que nem eu nem vós somos.
     Lembro-me agora de um fato hilário que ocorreu, estava eu a andar com um amigo meu, membro da sociedade filosófica “Amor Fraternal”, ele era um de seus fundadores e gozava de uma auto estima e respeito impressionante... mas andávamos, ele ia me falando do sobre a importância da sociedade de que fazíamos parte, vimos então um mendigo, era uma ótima oportunidade para ele me mostrar na prática o que dizia na teoria, o pobre homem vestido em trapos com uma aparência faminta pediu-nos algo, mas recebeu um panfleto sobre o amor, pude notar a satisfação de meu amigo e a decepção do mendigo, o que não ocorreu meses depois quando meu nobre amigo doou uma alta quantia em dinheiro a um asilo, disseram que era por causa da filha da dona, mui bela e era pois eu a conheci pessoalmente. Mas não passa de calunias, meu amigo o fez por generosidade, algo constante nele, em mim e na sociedade, acredite se quiser amigo leitor mas é a pura verdade.

Capítulo XII

     Mesmo em meio a tantos eventos caridosos que vivi ao lado dessa sociedade maravilhosa que tanto iluminava a humanidade, eu sabia que faltava algo em minha triste existência; o amor de uma dama, não o amor superficial de Michele, mas um amor completo e verdadeiro, bem confesso-vos que procurei bastante por ele, era difícil encontrar alguém que se interessasse mais em mim do que em minha riqueza, nome ou posição militar ou esmo minha inteligência, beleza...
     Mas digo-vos uma coisa caros amigos que lêem estás insignificantes memórias, eu encontrei uma dama, sim uma bela dama, das mais belas do Recife, e ao conhecê-la não disse que era rico, nem militar, mesmo assim pareceu gostar de mim, foi algo muito importante para meu ego. Ah! Alguém que se interessou não pelo que eu tinha, mas por mim, devia ser minha beleza!, ou minha inteligência, ou minha... passou meses achando que eu era um pedreiro, ao saber da verdade ficou brava, mas em uma semana já estava tudo bem conosco, felizes, usufruindo a riqueza que não tínhamos usado, e temos que admitir que o amor com dinheiro e bem melhor que sem ele, e ela merecia todas as regalias, pois ela era linda, e de uma imponência incrível, tinha um rosto de adolescente, mas suas atitudes e maneiras eram de uma Lady inglesa, podia enganar qualquer um, e foi o que aconteceu, fui enganado, Giselda não tinha mais que dezessete anos, logo eu, um Sargento da aeronáutica seduzido por uma adolescente! O que pensariam? Ninguém pensou nada pois soube abafar o caso, e a primeira coisa que fiz foi falar com o pai dela, Sr. Henrique, e como achas que foi? Tenhais calma que já conto.




Capítulo XIII

Eu que tinha me preparado para enfrentar o pai de Giselda, me surpreendi com a calma do homem, não era nem um pouco parecido com o que falavam, afinal tinha fama de por pra correr quem quer que se atrevesse a galantear sua filha, comigo foi diferente, se eu não o interrompe-se ficaria a cingir-me de elogios e considerações por horas, primeiro meus pais, os maiores seres humanos que havia conhecido em vida, minhas irmãs, verdadeiros presentes de Deus à humanidade, e por fim demonstrou toda sua estima a mim, para ele o mais respeitável cidadão da região, e que era uma honra saber de tal interesse por sua querida Giselda, eu fiquei realmente surpreso, o homem estava entregando sua filha sem eu nem pedir, logo em seguida falou de sua situação, os tempos não eram bons, eles passavam dificuldades, mas a filha nunca dissera por que não queria que eu pensasse mal, fiquei comovido, tanto que a partir dali lhe fiz doações mensais, uma boa doação que lhe fez permitir meu namoro com a doce Giselda, mas não foi por causa do dinheiro, isso por lhes garantir, mas mesmo que fosse posso assegurar que ela valia a pena e vou dizer por que.

Capítulo XIV

Agora vou falar-vos sobre a doce Giselda, ah! Giselda, como ela havia poucas, moça deveras educada, de uma beleza interna admirável mais com uma beleza externa mas admirável ainda, sem falar na sua pureza, inocência, que contrastavam com seu corpo imponente de uma dama majestosa, no tudo me fascinava, o pai sabia disso e vivia espalhando pelos quatro cantos que queria ver-me casado com sua filha, mas na verdade a simples idéia de casar me dava náuseas, mesmo que fosse com a mulher mais linda do mundo, na época as idéias boêmias entravam em minha cabeça para não mais sair, queria viver, sem compromissos, mas por outro lado não queria deixar Giselda, foi que quis, foi o que fiz.
Minha rotina finalmente começava a mudar, a casa de Giselda substituirá a sociedade filosófica “Amor Fraternal”, não por que não acreditasse em suas doutrinas ou teses, mas por que o único amor, que me interessava era o de Giselda, ia praticamente todos os dias, ficávamos na sala a trocar selinhos e sorrisos, o pai vigiava de perto, afinal era o seu maior tesouro, eu faria o mesmo, e vós?
Eu não me chateava com a vigilância de seu Henrique, Giselda valia toda preocupação, além disso me saia mais em conta, do que outra moça que namorei, nunca me pedia nada, as vezes sentia-se ofendida com os muitos presentes que queria lhe dar, mas depois de algumas tentativas sempre aceitava, e enchia-me de beijos, o único pagamento que podia me dar e o único que eu aceitaria, ah! Matreira!





Capítulo XV

Mas nem tudo foi flores para mim, fui surpreendido por um telegrama do Rio de Janeiro, trazia a notícia da morte de minha queria irmã, Catarina, 37 anos! Tão jovem e já havia partido, foram dias tristes para todos nós, fui até o Rio de Janeiro ajudar meus sobrinhos e meu cunhado, também pude encontrar minhas irmãs, se fosse outra ocasião seria um momento feliz, mas não foi.
Fiquei alguns dias no Rio, consolando e sendo consolado por meus sobrinhos e pelo meu cunhado, já minhas irmãs voltaram para suas casas, eu também voltei para minha, triste por ter perdido minha jovem irmã, uma pérola de virtudes, uma perda irreparável para a humanidade, não sabia eu que iríamos nos reencontrar por estes lados, e foi ela que me ajudou a se adaptar a esta nova vida, cheia de tempo, de mesmice.

Capítulo XVI

Na minha volta para Recife não fui recebido do modo que esperava, principalmente por arte de Giselda, ela e o pai estavam um pouco estranhos, no primeiro dia tentaram disfarçar mas depois ficou visível, tentei saber o que estava acontecendo mais não consegui, pior ouvi muitos amigos alertando sobre a fidelidade de Giselda, alguns disseram tê-la visto com um coronel do exército,não acreditei, mas como a história perpetuou-se resolvi investigar.
Costumam dizer que a verdade dói, pois é verdade, ela doeu em mim graças a Giselda, sim ela me trocou pelo dito coronel do exército, um tal de Edvaldo Moraes, seu Henrique ficou tão envergonhado que se mudou para Alagoas, já eu fiquei triste no inicio depois zangado e por fim esqueci, na verdade encontrei algo que me ocupou a mente e ajudou a preencher o buraco que ela fez em mim, brotou em mim o desejo de ser poeta, de denunciar os sentimentos fingidos, o egoísmo humano, enfim, denunciar as injustiças, enfim poetizar o mundo.

Capítulo XVII

Comecei escrevendo pequenas crônicas sobre a vida militar, a mesmice, o jogo de vaidades que conhecia muito bem, e até o preconceito contra os não militares, mas confesso que eram crônicas um pouco vazias no seu significado, eu ainda não tinha certeza sobre o que queria escrever, não queria ser um romântico iludido, principalmente depois do episódio de Giselda, não havia mais espaço para romantismo nem em meu coração nem na minha poesia.
Comecei publicando essas primeiras crônicas por minha própria conta, e nutria uma grande esperança de obter o êxito e popularidade literária, mas não foi como eu esperava, os críticos simplesmente ignoravam meu primeiro trabalho, eu não me conformei, mas continuei escrevendo poesias e crônicas cada vez mais pesadas e cheias de rancor, mais uma vez fui ignorado, mas por que? O que eu estava escrevendo era a pura verdade, tudo aquilo me desanimou deveras, parei de escrever, não é fácil lutar contra um inimigo invisível, desisti.

Capítulo XIII

     Bem, agora vou contar-lhes algo inusitado que ocorreu-me, algo que citei no inicio dessas memórias sobrenaturais, e que agora vou contar-lhes em detalhes, um fato que mudou minha vida, lembro-me que estava andando pelo centro do Recife quando senti uma dor no peito, tentei ignora-la, mas ela aumentou, meia hora depois cai no chão, em questão de segundos não senti mas nada, era como se estivesse flutuando, ao ver-me fora do corpo fiquei assustado, vi as pessoas tentando me reanimar, mas não pude ficar olhando-me, fui subindo puxado por uma força maior que a minha, passei por uma escuridão e cheguei a uma sala grande e movimentada, tipo uma recepção, fui encaminhando a outra sala onde duas pessoas discutiam mim, um dizia que minha hora ainda não havia chegado, o outro jurava que sim, não estava entendendo nada, me achava um louco em delírio, me agarrei a tese do primeiro, falei que ainda era muito jovem, que tinha muita caridade a fazer, acabei convencendo mais a eles do que a mim, os dois concordaram em deixar voltar para fazer o que não tinha feito de bom na vida, eles eram anjos advogados, melhores que qualquer um que já vi em vida, incorruptíveis, talvez queiram um pouco de status, mas não de dinheiro pois é algo que aqui não tem.

Capítulo XIX

     Ao voltar para o mundo cruel deixei todos surpresos, já estavam para examinar a causa-morte, pois já havia uma hora que me deram como morto, depois daquilo nunca mais fui o mesmo, passei a ser mais espiritual, a falar para todos sobre minha experiência, alguns acreditavam, a maioria não, chamavam-me de louco, aproveitador, mas não me importava com o que o mundo achava, eu sabia que era verdade, resolvi fundar uma igreja para ajudar outros a mudarem suas vidas antes de partir delas.
     Bem mais uma vez fracassei, mo inicio foi tudo bem, mas depois de anos a vaidade tomou conta da “Igreja da Libertação”, estórias mais fantásticas que a minha surgiam a todo instante, abandonei a vida religiosa tão rapidamente quanto comecei, sem remorsos, sem arrependimento, se aquilo era religião eu era ateu.

Capítulo XX

     Após minha desilusão religiosa fiquei um pouco desanimado, sem entender pó que as pessoas agiam daquela maneira, dissimulando sentimentos apenas para lucrar, não entendia porque um cidadão como eu, honesto, bem feitor, pagador de impostos e tributos a nação tinha que conviver com pessoas maldosas, mas isto é algo que não se escolhe, não acham?
      Procurei então por algo que estivesse errado na sociedade, para ajudar a mudar, dar a minha contribuição positiva, encontrei erros acima de minhas forças, erros históricos perpetuados através dos tempos, mas por sugestão de um parente, mais precisamente minha irmã Luiza, entrei para a política, primeiro como um humilde mais respeitado partidário de bairro, minha influência foi crescendo e após dois anos me candidatei a vereador, visitei doentes, distribui cestas básicas, abraços, apertos de mão e palavras de esperança na humanidade, nos políticos e em mim, fazia isso de maneira convincente em muito discursos inflamados de emoção, que convenciam a todos que ouviam, menos a mim mesmo.
     Mas não havia outra maneira de ajudar a mudar para melhor a cena política, eu tinha que fazer parte dela, criar projetos e leis melhores, trazer cidadania e dignidade para o povo cada vez mais sofrido, escrever meu nome no livro dos maiores benfeitores da humanidade, talvez me acharão ambicioso mas não era ambição era puro amor fraternal.

Capítulo XXI

Coincidentemente tomei posse como vereador da cidade do Recife no dia de meu 39º aniversário, e para minha surpresa nesse dia nada fiz, também nos outros nada fiz, queria lutar pelo povo mas vi que não era nada fácil fazer isso sozinho. Juntei-me então a alguns colegas, criamos bons projetos que sempre eram reprovados, parecia que ninguém ali se preocupava com o povo que lhe elegeu, fiquei mais uma vez indignado mais continuei me esforçando, esforço esse reconhecido até pelo presidente da Câmara, o qual me convidou a jantar em as casa para tratar de assunto político, aceitei, só não imaginava qual era esse tal assunto, talvez um projeto? E que projeto.
     O jantar na casa do presidente da Câmara, Sr. Rodrigo Nunes de Medeiros foi muito agradável, mas não demorou a tratar do tal assunto, falou de um projeto para aumentar o salário dos vereadores, pediu-me apoio, não acreditei no que ouvi, argumentei que o salário das pessoas não iria aumentar e o nosso já era alto... ele porém argumentou que seu partido lançaria alguns deputados estaduais, eu seria um deles... o argumento dele ganhou, prometi e votei no aumento do meu próprio salário, na verdade a pequena distinção que havia entre nós tinha desaparecido, estava dentro do mesmo saco de falcatruas e erros.
     Meus inimigos políticos começaram então a tentar derrubar-me de todas as maneiras, os ataques vinham de todos os lugares, até de onde não esperava, a principal denúncia era a de desvio de dinheiro dos cofres públicos de uma obra que nunca se realizou, não sabia como todo aquele dinheiro tinha ido parar na minha conta, mas havia documentos assinados por mim, tinha assinado muitos papéis sem lê-los, foi meu erro, fui julgado e condenado a cassação, ao procurar o presidente da Câmara recebi a promessa de ajuda, porém publicamente foi o primeiro a virar-me as costas, na época fiquei triste a ver mais um projeto meu naufragar, mas tarde iria descobrir que tinha sido salvo de uma corja de víboras.

Capítulo XXII

     Não passei mais que três anos e meio como vereador, a desilusão política me fez parar para refletor, a vida tinha sido de lutas em favor dos outros, era algo que alimentava meu ego mas sentia que precisava de descanso, na época tinha acabado de me aposentar como Sargento da aeronáutica o que me rendeu um gordo salário, só me restava então aproveitar a vida, era solteiro e comecei a procurar uma companhia, não demorei muito para encontrá-la, uma verdadeira divindade, com quarenta anos bem vividos, educada, inteligente, bonita e decidida, tinha um porém; era casada, estava bom demais pra ser verdade.
     No principio não vi com bons olhos o fato, mas no caso dela era diferente, o marido tinha quase oitenta anos e ela cuidava dele como uma filha, entendi, e achei bonita sua sinceridade, e fui cada vez mais me envolvendo com aquela mulher maravilhosa, o seu nome era de uma guerreira, Joana Queiroz. Confiei e atirei-me em seus braços como faz uma criança recém nascida, guardando é claro suas devidas proporções, e esse foi o maior acerto de minha existência vou dizer-lhes por que.
     Depois de tantos desencontros em minha vida, consegui encontrar a paz e a calma que jamais tive em minha mocidade, e isso graças a Joana, ela era uma mulher maravilhosa, com a morte do velho marido ela ficou livre, não era a circunstância que eu queria, mas enfim pudemos nos casar, e posso dizer que foram os melhores anos de minha vida, e também os mais tranqüilos, sem agitação política, religiosa ou nada parecido, ao contrario com ela me entreguei as coisas belas da vida, as artes, a literatura, aos vinhos e ao amor, talvez por isso não pude notar o tempo passar, não tivemos uma crise sequer, sabíamos nos perdoar e consertar os erros juntos, assim foram meus últimos cinco anos de vida mortal, eu sentia isso, então os vivi intensamente, com emoção. Fiz um testamento deixando 60% dos meus bens para Joana, o resto deixei para várias instituições de caridade, mas não acredito que foi por isso que tantas pessoas foram ao meu enterro, também não importa, pois o fato é que estava morto, não precisava mais de honras humanas, graças ao meu coração, que parou numa fatídica noite de outono. Joana era uma das mais tristes, não duvido de seus sentimentos mas na verdade é que quatro meses depois já estava casada com um rico industrial, assim cheguei ao lugar de onde vos falo, e onde cada um de vós estarão mais cedo ou mais tarde.

Capítulo XXIII
          Já faz pelo menos seis anos pelos vossos cálculos que estou aqui do outro lado da existência, e nada adiantou meu status, fortuna ou popularidade ao chegar aqui vi que todos eram iguais, cada um tem uma função mas isso não eleva ninguém, aqui pude rever todos os parentes, amigos e inimigos, mas inimigo é algo que não existe aqui, não há fraudes, roubos, violência, nada de coisas ruins, mas também não há um paraíso, existe um superior, talvez seja Deus, nunca o vi, só recebo ordens, mas vós também comprovarão o que falo, sim, saberão por si mesmo, não se preocupem, nem fiquem ansiosos, vivam a vida, tentem ser felizes, mas saibam de algo; depois de tanto “lutar contra” as doenças, a maldade e a corrupção, de tanto lutar pela felicidade, fama, popularidade e honras passageiras, descobri que isso não vale de nada, no final o máximo que conseguimos levar para o outro lado da existência é o peso de nossa consciência e isso sabereis por vós próprios.
                                                        


Reginaldo Correia






Biografia:
Sou pernambucano,nascido em Recife no dia 10 de outubro de 1981.Escrevo desde de 1999,mas só publiquei alugns poemas na internet.Participei do 13º premio nacional de redação da fundação assis chateaubriand 2005,catgoria ensino médio classificando-me como semifinalista.
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