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A BONECA DE SOPHIA - PARTE VI
EMANNUEL ISAC

... Após Éster ter saído da pequena casa, um espírito chamado ALASTOR (demônio da vingança e do crime), veio sobre sua mãe e a possuiu, fazendo com que ela levantasse da cama. A velha pegou umas velas pretas e outras vermelhas, espalhando-as por todo o chão do quarto, foi até o quintal e pegou um coelho, dando início a outro ritual. Segurou um boneco pequeno de palha e o enfaixou com uma atadura, da cabeça aos pés.

          Deitou o boneco em cima de uma cruz que desenhou de cabeça para baixo, segurou firme o coelho e “ZAP”, degolou seu pescoço, deixando o sangue cobrir todo o boneco. Depois, retirou os dois olhos do animal, esfregou em seus próprios olhos, e começou a invocar as entidades em uma língua incompreensível. A órbita de seus olhos, se voltaram para trás, e seu olhar ficou no vazio...

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                          ... No hospital, a enfermeira entrou no quarto a onde Marcelo estava internado para ministrar o medicamento. Ele permanecia calmo, dormindo, aparentemente, tudo normal. Ela colocou a bandeja na mesinha próxima à cama, e saiu para pegar a seringa que havia esquecido. Ao voltar para o quarto, encontrou Marcelo se debatendo em cima da cama, como se algo começasse a esmagá-lo pelo ventre; tentou segurá-lo, mas Marcelo a jogou longe com uma força descomunal, a pobre mulher foi parar com as costas na porta do quarto.

          Levantou com dificuldades, ainda sentindo a pancada nas costas e na cabeça, quando voltou a olhar para a cama, viu quando Marcelo, a poucos centímetros, suspenso da cama, começou a girar em pleno ar e suas ataduras aos poucos foram se desenrolando de seu corpo; ela segurou na parede tremendo e assustada, tentando ficar em pé para sair do quarto, quando sentiu que algo a segurou pelo pescoço; tentou gritar, buscou pelo ar que lhe faltava, mas aquelas mãos, invisíveis, aos poucos foi estrangulando sua garganta, e em segundos, caiu morta ao chão...
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          No quarto da pequena casa, a velha permanecia com os olhos fora de órbita, segurando o boneco nas mãos e retirando as ataduras com a qual o havia enrolado. Sorriu quando sentiu que a mulher no quarto do hospital estava morta, na verdade, seu corpo estava ali, presente, mas seu espírito possuído se encontrava lá no hospital.
          
          Segurou o boneco entre suas mãos, e devagar foi dobrando ele, juntando os pés na cabeça até fazer que o sangue do coelho, com o qual tinha encharcado o boneco, começasse a escorrer sobre suas mãos. Pegou o boneco encharcado e começou a passar na ferida de seu rosto, enquanto dizia: “Kali, Kali, Kali, rainha minha, a ti ofereço mais esta vida, em troca da minha”...*

(* KALI – rainha dos demônios, a quem vidas humanas eram sacrificadas).

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          ... No cemitério, após se recuperar do susto, Éster rapidamente puxou de dentro da bolsa um pedaço de couro de boi, que estava enrolado em um pano preto, e cobriu a boneca. Gritou para Norma que ainda estava petrificada, para cobrir Sophia com o pano preto. Norma saiu do transe e puxou a filha de cima do mausoléu, enrolando-a no pano.

          A boneca começou a se debater, tentando escapar das mãos de Éster que a segurava com força, enquanto que Sophia começou a espumar pela boca, arregalando os olhos e falando uma língua estranha. Éster olhou para Norma e falou:

          - Precisamos levá-las para a casa de minha mãe!
          - Pra casa de sua mãe? – Repetiu Norma;
          - Somente ela sabe como invocar o ritual;
          - Então vamos! – Norma carregou Sophia no braços que se debatia igual à boneca;
          - Norma! Preste atenção; quando começarmos a andar, não pare por nada neste mundo! Você entendeu? – Éster falou com a expressão séria;
          - Entendi!
          - Então vamos, agora!!!

          Éster levantou e apertou a boneca contra seu corpo que se debatia sem parar. Norma a seguiu, fazendo força para segurar Sophia que agora, parecia pesar quase cinqüenta quilos. As duas começaram a andar e o chão sob seus pés, começou a tremer e abrir fendas. Elas desviavam-se das mãos em estado de putrefação e em ossos, que tentavam agarrar suas pernas.

          Norma teve que fazer um grande esforço para manter o equilíbrio quando uma mão esquelética cerrou-se em sua perna, arranhando e tirando sangue dela; sentiu a dor do osso rasgando sua carne mas resistiu. Conseguiram chegar no portão do cemitério, mas ele se fechou sozinho na frente das duas:

          - Por ali! – Gritou Éster ao ver um buraco no muro.

          Norma a seguiu e as duas passaram arranhando as costas nas pedras pontiagudas. Éster falou que precisavam chegar até o carro dela, estacionado perto da casa de Norma, não tinham mais tempo a perder. Voltaram pelo mesmo caminho que fizeram para chegar no cemitério.

          Hélio ouviu o barulho do lado de fora e foi até a porta. Viu quando a mãe, com o corpo e roupa suja de terra e sangue, encostou, no carro:

          - Mãe? Cadê a Sol? – Perguntou ele pela irmã, da maneira carinhosa que costumava chamá-la;
          - Volte para dentro e espere pela mamãe voltar! Se eu demorar, ligue para sua tia!
          - Cadê a Sol??? – Insistiu ele em perguntar pela irmã;
          - Está tudo bem! Sua irmã vai ficar bem! Agora entre e obedeça a mamãe! – Norma se esforçava para não chorar na frente do filho, escondendo com o próprio corpo, a filha.

          Hélio entrou e fechou a porta. Éster chamou Norma e mandou ela colocar Sophia no banco de trás do carro. Norma colocou a menina no banco que continuava a se debater e foi ajudar Éster que segurava a boneca com um tremendo esforço. Pediu para Norma abrir o porta mala e pegar uma corda que lá se encontrava. Segurou com as duas mãos a boneca no chão e pôs os dois joelhos sobre ela, enquanto Norma tentava amarrá-la.

          Na tentativa de manter a boneca presa ao chão, Éster pôs a mão na cabeça dela e sentiu quando pequenos dentes serrilhados cravaram-se nela. Urrou de dor, mas conseguiu puxar sua mão. O sangue escorreu molhando o couro de boi e as mãos de Norma, que parou ao ver a mão de Éster aberta pela mordida:

          - Continua! – Gritou Éster para ela;

          Norma voltou à manobra, amarrando a boneca por completo, jogando-a juntamente com Éster, no porta mala. O fundo do carro começou a balançar e a sair do chão, como se algo o suspendesse. Deram a volta e entraram. Norma olhou para o banco traseiro e viu que Sophia mantinha os braços e pernas juntas, como se estivessem também, amarradas. Éster deu a partida e rumaram para a casa da velha...
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          ... Do lado de fora da porta do quarto onde Marcelo estava internado, um grupo de médicos que ouviram o barulho da cama batendo contra o piso, tentavam arrombar a porta sem sucesso. Apareceu um dos seguranças e com o auxílio do cilindro de extintor de incêndio, conseguiu romper a fechadura, lançando-a juntamente com metade da porta no chão!

          Não estavam preparados, para ver aquela cena: com o pescoço virado para as costas e o corpo todo torto, em um canto no chão do quarto, estava a pobre da enfermeira. Em cima da cama, se encontrava Marcelo! A médica chefe, se aproximou, e viu uma poça de sangue sob o lençol que o cobria; lentamente estendeu a mão direita e puxou o lençol de uma única vez, levou as mãos a boca e começou a vomitar: Marcelo estava com o corpo dobrado em dois pela cintura, na posição de HALASANA*, com os intestinos espalhados pela cama e o osso da espinha dorsal à mostra...

(HALASANA – no ioga, chamada de POSIÇÃO DO ARADO: ótima para dor nas costas e para isônia).

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