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QUEM VIU O ZÉ CAHAÇA? - PARTE 2
EMANNUEL ISAC

Após comer a mistura de mamão, mel e linhaça, o Prefeito despachou alguns documentos e não demorou muito para sentir vontade de ir ao banheiro. Pouco tempo depois, já sentindo alívio das dores abdominais, lembrou do estranho que o delegado Tião tinha recolhido ao xilindró. Chamou seu motorista e resolveu ir até a delegacia.

          Chegou e encontrou o sujeito dormindo no banco de cimento, forrado somente com um colchão fino. Chamou o delegado e perguntou o que tinha descoberto sobre ele:

          - Donde o homem é Tião?
          - Não sei, ele não quis dizer Dr. Prefeito!
          - Que espécie de delegado é tu que não sabe nem arrancar de um suspeito de onde o homem é? – Perguntou ele bravo;
          - Pelo menos o nome, tu arrancou do sujeito!
          - Zé! – Respondeu o delegado curto e grosso;
          - Zé do quê?
          - Zé Cachaça!
          - Ôxente! Ninguém tem cachaça no meio do nome! – Espantou-se o prefeito;
          - E num foi isso que eu disse? – Completou Tião.
          
          O Prefeito e o delegado estavam analisando a conversa, quando ouviu o estranho perguntar:

          - As dores do Prefeito aliviaram?
          - Melhoraram um pouco sim, mas ainda sinto o estomago borbulhando por dentro, num sabe? – Respondeu o Prefeito virando-se para ele;
          - Então o Prefeito antes de dormir, sempre tome um copo de água e pela manhã, procure repetir o prato que lhe indiquei lá praça!
          - O moço por acaso é médico? – Perguntou o Prefeito se aproximando da grade da cela;
          - Sou, quer dizer, fui um dia. Usava a medicina para melhorar a saúde das pessoas!... – Baixou a cabeça deixando transparecer a tristeza que sentia;
          - Que aconteceu homem? – O delegado perguntou com aquela expressão de quem não entendeu nada, seguido pelo Prefeito;
          - Nada! O importante é que o senhor melhorou das dores por ter feito o que falei! Respondeu Zé, referindo-se ao Prefeito.
          - Tião! – O Prefeito chamou o delegado; - Salte o moço!
          - Mas Dr. Prefeito, ele dormiu no banco da praça e...
          - Tu é surdo ou não me escutou direito Tião? – Ralhou o Prefeito com o delegado;
          - Ser surdo e não ouvir direito, dá no mesmo né Prefeito? – Respondeu Tião sem pensar direito a quem respondia;
          - Tu tá me contradizendo Tião? Mandei saltar o moço! E agora!!!

          Sem querer estressar mais o Prefeito, Tião abriu a cela sem dizer mais uma palavra. Zé pegou o saco de pano que carregava, pôs nas costas e se dirigiu para a saída da delegacia. O Prefeito chamou por ele e perguntou:

          - Tem a onde ficar homem?
          - Gosto de ficar na natureza! Me sinto mais à vontade em permanecer sozinho!
          - Arruma umas roupas pro moço Tião, que isso que ele tá vestido é trapo velho!

          Tião foi até os fundos da delegacia e voltou em seguida com um embrulho nas mãos:
          - Não são novas, mas dá pro gasto! – Disse ele entregando o embrulho pro Zé;
          - Deus lhe pague! - Zé agradeceu e saiu sem olhar para trás.

          O delegado olhou pro Prefeito e falou como ele estava com a expressão melhor no rosto. Deve ter sido por causa da receita do Zé, o Prefeito não conseguia ir no banheiro e fazia quase dois dias que não evacuava. Não demorou muito para que o delegado espalhasse pela cidade que o desconhecido tinha achado a solução para o problema do Prefeito. As pessoas começaram a procurar o Prefeito para saber se era verdade o que o delegado andava falando. Sabe como é não? Cidade pequena de interior, a noticia é igual a chuva fora de época; aparece do nada e vai embora antes de alguém ver.

          Zé resolveu ficar na cidade por mais tempo. Estava sentado no mesmo banco que deu início a esta estória, quando uma senhora chegou perto dele e falou:

          - Sabe seu moço, eu tenho a maior dificuldade para dormir por causa do meu nariz!
          - A senhora tem nebulizador em casa?
          - O que é isso meu filho? – A senhora perguntou como se estivesse ouvindo aquela palavra pela primeira vez na vida;
          - Deixa pra lá! A senhora vai esquentar um pouco de água, colocar um pouco de vick dentro ou folhas de eucaliptos e respirar o vapor!
          - Isso vai me fazer dormir?
          - Vai ajudá-la a respirar melhor e provavelmente, dormir tranqüila! – Respondeu Zé com um sorriso;
          - Tá, eu vou fazer como o moço disse!

          A senhora se afastou e Zé ficou observando. “Por que aquela senhora veio lhe fazer tal pergunta?”, ficou a se questionar. No dia seguinte, a mesma senhora chegou no banco e encontrou Zé dormindo, coberto com um papelão. Retirou da sacola um cobertor e o cobriu, ele despertou e olhou para ela:

          - Volte a dormir meu filho, eu só vim agradecer pela receita que me deu! - Deu as costas e foi-se embora!

          Zé voltou a dormir e quando acordou, encontrou uma fila em frente ao banco em que estava deitado. Ele levantou desconfiado, olhando para aquela multidão à sua frente:

          - O que está acontecendo? - Perguntou ele;
          - Sabe seu Zé; eu sinto muitas dores de cabeça, e será que o senhor não tem nenhuma dica pra mó diminuir ela não? - Perguntou o velho que estava na frente da fila;
          - Gente! Espere um momento; eu não vou ficar receitando pra vocês! - Disse Zé, querendo sair daquela situação;
          - Mas nenhuma dica? - Insistiu o homem com um olhar tiste;
          - O senhor bebe muita água? - Perguntou Zé;
          - Umas duas vez no dia! - Respondeu o homem;
          - Olha; o senhor vai passar a beber, no mínimo, dois litros por dia! Isso vai melhorar a circulação sanguina do senhor e com certeza, vai aliviar a dor de cabeça!

          O homem agradeceu, entregou a Zé um queijo cuia, e foi embora, feliz da vida! Zé ficou olhando para o queijo em suas mãos, sem entender nada! Um por um, foi se achegando até ele, e ele foi ouvindo o caso de cada um, e receitando um remédio caseiro, um chá, uma mistura de frutas e folhas para outros, até terminar aquela multidão! Quando não restou mais ninguém, ele pode contemplar ao seu redor, pães, leite, queijos, bolos de fubá, agasalhos, lençóis e tudo o que aquela comunidade pode lhe dar, como forma de agradecimento pela receita.

          O Prefeito volta para casa, quando notou Zé no banco da praça, ajeitando aquelas coisas sobre um cobertor e os enrolavam, formando uma grande trouxa. Mandou seu motorista parar o carro e ligou para o Delegado:

          - Tião?
          - Quem é? – Perguntou ele, assim que tirou o telefone do gancho;
          - Sou eu, o Prefeito!
          - Ah! Sim! Diga Doutor;
          - Desce lá na praça e coloca aquele homem pra dormir aí na delegacia, que parece que vai chover esta noite!          
          - Aqui, na delegacia???
          - Tú entendeu! Isso é uma ordem e não um pedido!
          - Tá doutor, o senhor é quem manda! – Tião desligou o telefone e chamou seu auxiliar, o LIGEIRINHO;

          - Vamos lá na praça, temos que colocar o Zé Cachaça pra dormir esta noite aqui na delegacia!
          - A mó de quê? – Indagou Ligeirinho;
          - O doutor Prefeito que mandou! – Tião pegou o chapéu, pôs na cabeça e saiu seguido por seu ajudante.

          Ao chegarem na praça, encontrou Zé sentado sob uma árvore, olhando o que parecia ser um livro. Tião ao se aproximar para chamá-lo, percebeu que ele chorava e resolveu seguir na ponta dos pés. Foi por trás sem que Zé percebesse a sua aproximação e esticou o pescoço para ver o que ele tanto observava em suas mãos; pode notar então que se tratava de um álbum de fotos, e que Zé alisava a foto onde aparecia uma mulher e duas crianças...

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