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QUEM VIU O ZÉ CACHAÇA? - PARTE 1
EMANNUEL ISAC

Resumo:
Certo dia, em uma bela manhã, aparece um sujeito que ninguém sabe de onde surgiu, como surgiu e por qual razão dormia na praça do Dr. Prefeito Januário...

Foi em uma bela manhã de outono, que ele apareceu no banco da praça central da pequena cidade de Canavial do Norte; as roupas sujas e rasgadas, um saco de lona onde provavelmente carregava suas bugigangas, o rosto escondido pelo chapéu de palha e protegido do frio por um monte de papelão grosso. Ninguém nunca vira tal personagem antes, na cidade!

          As pessoas passavam e olhavam desconfiadas para o banco. Algumas ainda paravam na intenção de tentar descobrir quem era aquele sujeito que surgiu de repente, sem ser visto pela autoridade máxima da cidade; Januário, o Dr. Prefeito! À medida que a cidade despertava para o seu cotidiano, crescia na mesma proporção o ajuntamento de pessoas na praça para ver quem era o visitante, já que na cidade, não se tinha notícias de um bico-doce há bastante tempo. Alguém no meio da multidão em algum tempo, lembrou de chamar o delegado Tião, que saiu da delegacia (um velho sobrado pequeno), resmungando por ter sido acordado tão cedo! Bem que a delegacia ficava em frente à praça e não se gastaria menos que um minuto de distancia, e já ser oito da manhã:

          - Que fuzuê é esse que tá havendo aqui? – Chegou puxando a calça pra cima da barriga, tentando apertar o cinto que quase não fechava de tão gordo que era;
          - Tu sabe quem é o sujeito no banco delegado? – O velho Chico, que tinha uma banca perto da li, inquiriu o delegado;
          - E tu acha que se eu soubesse quem é o sujeito, ele estaria dormindo nesse banco Chico?

          Tião foi aos poucos abrindo passagem em meio à turba que já tinha se formado até chegar no banco, onde o estranho estava deitado. Pôs as duas mãos na cintura, olhou o sujeito de cabo-à-rabo, de baixo pra riba, franziu a testa e torceu a ponta do bigode. Posicionou-se perto do estranho e chamou:

          - Ô moço! Moço! - Como o estranho não deu sinal de vida, Tião resolveu encostar mais ainda a boca no ouvido do sujeito;
          - Ô cidadão! Acorda que isso aqui não é hotel! – Nada!

          O estranho respirou fundo e continuou com os olhos fechados! A multidão assistia a tudo atenta, de repente, o sujeito de um único movimento, pôs-se sentado; com o susto que tomou, o delegado Tião deu dois passos para trás, trombando e caindo sentado aos pés de uma senhora que com o impacto, tombou para frente e rolou por cima do delegado. A turba em uníssono veio às gargalhadas com a cena.

          Tião levantou-se com certa dificuldade sacudindo as calças e olhando para o homem à sua frente. Retomou sua postura de delegado e se reaproximou do sujeito:

          - Tá fazendo o que nesse banco cidadão? – Fez uma voz para parecer mais autoritária que o costume. O homem passou as mãos pelo rosto, bocejou e respondeu:
          - Se o senhor deixar, eu tava tentando dormir! – Mais uma vez, a multidão veio às gargalhadas. Tião olhou ao redor com a expressão séria, rapidamente a turba fez silêncio;
          - E tú não sabe que é proibido dormir nos bancos da praça desta cidade não?
          - Se os bancos tivessem me avisado, eu teria dormido no chão! – Mais risadas!

          O delegado perdeu a paciência e agarrou o sujeito pelo braço para levá-lo à delegacia. Nesse meio tempo, o carro que levava o prefeito Januário para a prefeitura, passou pela praça. O prefeito pediu que o motorista parasse o veículo e saiu para conferir que ajuntamento era aquele. Chegou no meio da praça, e encontrou o delegado enfurecido tendo atado às mãos, o estranho;

          - Posso saber o que tá havendo aqui, no meio da minha praça? – O prefeito referia-se a praça como sua, por ter feito a reforma que aumentou em tamanho, numero de árvores, bancos e outros feitos mais que julgou necessário;
          - Esse sujeito, nu sabe Prefeito, tava dormindo no banco e até agora não disse quem é e nem donde veio!
          - Como eu vou dizer quem sou e de onde vim se você não me perguntou? – Novamente a gargalhada em coro da multidão que fez chanfreta com Tião, que olhou para o estranho com um olhar fulminante;
          - E ainda é desaforado seu Prefeito, olha aí!
          - Leva o homem pra delegacia Tião, que aqui não é lugar de interrogar ninguém!
Quando eu terminar a reunião, eu volto pra saber sobre o sujeito!

           O Prefeito pôs a mão na barriga e franziu a testa na indicação que sentia dores. Eram as mesmas que vinha lhe incomodando há semanas. O estranho observou a cena e falou:

          - O senhor estar com dores abdominais?
          - E o que o cidadão tem haver com isso?
          - Se for gazes, é só comer uma banda de mamão com um pouco de mel acrescentando um pouquinho de linhaça, e em pouco tempo vai se sentir melhor!

          Tião saiu levando o sujeito pelo braço enquanto o Prefeito se dirigia para seu carro, pensando no que o estranho falou. Ao chegar na prefeitura, chamou sua secretaria e disse:

          - Dona Firmina, providencie um mamão maduro, um vidro de mel e um saquinho de linhaça!
          - O Dr. Prefeito virou naturalista? – Perguntou ela sem entender direito o pedido do Prefeito;
          - O que eu virei ou deixei de virar não é de sua conta, sabe? Providencie o que lhe pedi e o mais rápido possível!

          O Prefeito Januário não gostava muito de ser questionado e quando o era, sempre tinha uma resposta mal-humorada para dar.      Dona Firmina tratou se sumir da frente do Prefeito. Enquanto isso na delegacia, Tião após trancar o estranho na cela, sentou-se em uma cadeira de frente para ele e começou a perguntar:

          - De onde o cidadão é originário?
          - Do Brasil! – respondeu ele com deboche;
          - Não perguntei de qual País, eu perguntei donde o moço é, qual Estado? – Tião já não tava mais com paciência para as graças do estranho;
          - Há bem, mas o que isso importa no momento? Já estou preso e nem sei por qual motivo!
          - O motivo foi porque dormiu na praça e ninguém pode mais dormir na praça depois que o Dr. Prefeito Januário, reformou a praça! Tú devia saber disso!
          - Como eu poderia saber se acabei de chegar e ninguém me recebeu bem? – Pela primeira vez, o estranho falou sério, sem fazer chacota;
          - Nisso o moço tem razão! Qual a graça do moço? – Tião perguntou já amenizando o tom de voz;
          - Zé!
          - Zé do quê?
          - Zé cachaça!
          - Ôxente! Ninguém tem nome de cachaça no nome! – Tião ficou olhando para o sujeito meio desconfiado da resposta;
          - Cachaça, porque agora eu bebo muito que é pra me aquecer do frio e esquecer da fome e do meu passado! – Havia sinceridade na resposta de Zé. Ele deus as costas para o delegado e se encolheu no canto da cela...

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