Por John Piper
Boas Notícias, não Más Notícias
Antes de deixarmos o Velho Testamento, há outra passagem que esclarece um engano comum relacionado ao sabbath*. É Isaías 58:13-14. É uma vergonha que para tantas pessoas guardar o sabbath é visto somente em termos do que você não pode fazer. Sua intenção original certamente era de ser boas notícias e não más notícias. O mandamento do sabbath é na realidade um mandamento para experimentar alegria.
"Se desviares o pé de profanar o sábado e de cuidar dos teus próprios interesses no meu santo dia; se chamares ao sábado deleitoso e santo dia do SENHOR, digno de honra, e o honrares não seguindo os teus caminhos, não pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falando palavras vãs, então, te deleitarás no SENHOR. Eu te farei cavalgar sobre os altos da terra e te sustentarei com a herança de Jacó, teu pai, porque a boca do SENHOR o disse."
O Propósito de Deus para Nós no Sabbath
O propósito de Deus para nós no sabbath é que nós experimentemos a maior e mais intensa alegria que pode ser experimentada, isto é, que nós nos "deleitemos no Senhor." Ainda assim, o que Ele encontra vez após vez são cristãos professos que preferem pequenos prazeres humanos em coisas que não têm absolutamente nenhuma relação próxima com Deus.
"Ainda assim, o que Ele encontra vez após vez são cristãos professos que preferem pequenos prazeres humanos em coisas que não têm absolutamente nenhuma relação próxima com Deus."
Se você trabalhasse sete dias por semana no sol quente para sobreviver, com praticamente nenhum tempo para lazer e reflexão, você consideraria penoso se seu Deus viesse a você com autoridade onipotente e dissesse, "Eu não quero que você tenha que trabalhar tanto. Eu quero que você tenha um dia por semana para descansar e desfrutar o que realmente importa na vida. Prometo satisfazer suas necessidades com apenas seis dias de trabalho”? Esse não é um mandamento cruel. É um presente generoso.
Por que tantas pessoas pensam no Sabbath como um fardo?
A razão por que tantas pessoas o percebem como um fardo, em parte ocorre porque nós temos tanto lazer que não sentimos necessidade do descanso do sabbath; mas o mais importante, eu penso, é o fato de tão poucas pessoas realmente desfrutarem o que Deus planejou que nós desfrutássemos no sabbath, isto é, Ele mesmo. Muitos cristãos professos desfrutam muito mais de esportes, televisão, livros seculares, revistas, recreação, passatempos e jogos do que da interação direta com Deus na Sua Palavra, ou em adoração, ou lendo livros cristãos, ou em passeios meditativos.
Então, inevitavelmente as pessoas cujos corações estão fixos mais nos prazeres do mundo do que no prazer em Deus sentirão o mandamento do sabbath como um fardo, não como uma bênção. Isto é o que João diz em 1 João 5:3, " Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; ora, os seus mandamentos não são penosos." A medida de seu amor por Deus é a medida da alegria que você encontra ao focalizar Nele no dia de descanso. Para a maioria das pessoas o mandamento do sabbath é, na verdade, um mandamento para se arrepender. Convida-nos a desfrutar o que nós não desfrutamos e, portanto nos mostra o mal dos nossos corações e a nossa necessidade de arrependimento e de transformação.
A visão de Jesus quanto ao Sabbath
Quando vamos para o Novo Testamento vemos que nos séculos intertestamentários os rabinos acrescentaram muitos detalhes ao mandamento do sabbath e não captaram o seu espírito como um maravilhoso presente para o bem do homem. Assim Jesus confronta estas tradições com uma visão muito diferente daquela compartilhada pelos fariseus. Vejamos isto em Mateus 12:1-12.
"Portanto, Jesus não veio para abolir o sabbath, mas para tirá-lo de debaixo da montanha de sedimento legalista, e entregá-lo novamente a nós como uma bênção em vez de um fardo."
"Por aquele tempo, em dia de sábado, passou Jesus pelas searas. Ora, estando os seus discípulos com fome, entraram a colher espigas e a comer. Os fariseus, porém, vendo isso, disseram-lhe: Eis que os teus discípulos fazem o que não é lícito fazer em dia de sábado. Mas Jesus lhes disse: Não lestes o que fez Davi quando ele e seus companheiros tiveram fome? Como entrou na Casa de Deus, e comeram os pães da proposição, os quais não lhes era lícito comer, nem a ele nem aos que com ele estavam, mas exclusivamente aos sacerdotes? Ou não lestes na Lei que, aos sábados, os sacerdotes no templo violam o sábado e ficam sem culpa? Pois eu vos digo: aqui está quem é maior que o templo. Mas, se vós soubésseis o que significa: Misericórdia quero e não holocaustos, não teríeis condenado inocentes. Porque o Filho do Homem é senhor do sábado. Tendo Jesus partido dali, entrou na sinagoga deles. Achava-se ali um homem que tinha uma das mãos ressequida; e eles, então, com o intuito de acusá-lo, perguntaram a Jesus: É lícito curar no sábado? Ao que lhes respondeu: Qual dentre vós será o homem que, tendo uma ovelha, e, num sábado, esta cair numa cova, não fará todo o esforço, tirando-a dali? Ora, quanto mais vale um homem que uma ovelha? Logo, é lícito, nos sábados, fazer o bem."
Você tem que ter um coração amoroso
O que havia de errado com os fariseus? Por que eles não podiam ver o Antigo Testamento como Jesus viu? Por que eles não viram o fato de Davi comer o pão da proposição e o trabalho do sacerdote no sábado no templo como uma condenação das suas tradições do sabbath como Jesus fez? De acordo com Jesus os fariseus só podiam condenar o inocente porque eles nunca entenderam Oséias 6:6. Ele cita isso no versículo 7. Deus diz: "Misericórdia quero e não holocaustos." Em outras palavras, toda a lei existe por causa da misericórdia. Toda a lei é resumida nesta única palavra: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Os fariseus não puderam ver o verdadeiro significado do sabbath porque eles não tinham corações amorosos. "O sábado foi estabelecido por causa do homem, e não o homem por causa do sábado”, diz Jesus em Marcos 2:27. Portanto, se o seu coração não é um coração a favor dos homens, se não é um coração amoroso, você não pode perceber o significado do sabbath. Pois o sabbath é um presente de amor para satisfazer a necessidade do homem, não um fardo opressivo para torná-lo miserável ou orgulhoso.
Jesus não Aboliu o Sabbath
Portanto, Jesus não veio para abolir o sabbath, mas para tirá-lo de debaixo da montanha de sedimento legalista, e entregá-lo novamente a nós como uma bênção em vez de um fardo. É um dia para demonstrar misericórdia e para fazer o bem (versículo 12). Não deveria ser governado rigidamente por definições estreitas do que é trabalho e o que não é. É um dia para focalizar no Senhor. E agora Jesus é o Senhor do sabbath (de acordo com versículo 8), então é um dia para focalizar em Jesus. E é impossível que um dia focalizado em Jesus seja um fardo para o coração que crê. "Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei!"
A prática da igreja primitiva
À medida que nos aproximamos da igreja primitiva fica claro que o dia semanal de descanso e devoção não era rejeitado, mas foi mudado do sábado para o domingo. Isto não é ordenado em parte alguma. Mas há dois versículos que sugerem que isto já havia acontecido nos dias dos apóstolos. Um é Atos 20:7 que diz, "No primeiro dia da semana, estando nós reunidos com o fim de partir o pão, Paulo, que devia seguir viagem no dia imediato, exortava-os e prolongou o discurso até à meia-noite." Este parece ser um ajuntamento formal para a Ceia do Senhor no domingo à noite, o primeiro dia da semana. (Poderia ter sido o sábado à noite já que para os judeus o dia começa às 6h00m da noite anterior). Mas Lucas provavelmente usa o modo romano de pensar os dias: de meia-noite a meia-noite. (Cf. 4:3; 23:31ss.) Portanto parece que a mudança da adoração para o domingo já tinha começado.
"Assim como o trabalho da primeira criação estava terminado no sétimo dia da semana, o trabalho da nova criação em Cristo ... estava terminado no primeiro dia da semana, pela ressurreição de Jesus."
O outro versículo que aponta nesta direção é 1 Coríntios 16:2. Paulo está tentando preparar os coríntios para uma coleta que ele está fazendo entre as igrejas para os santos em Jerusalém: "No primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de parte, em casa, conforme a sua prosperidade, e vá juntando, para que se não façam coletas quando eu for." Parece que o primeiro dia da semana é agora o dia em que os cristãos exercem suas práticas religiosas especiais.
O primeiro dia da semana
Essas são as únicas referências explícitas no Novo Testamento que parecem relacionar o sabbath ao domingo em lugar do sábado. A verdadeira razão para por que a igreja passou a considerar o primeiro dia da semana como o seu dia de descanso e adoração é que o Senhor do sabbath ressurgiu dos mortos no primeiro dia da semana (João 20:1). Assim como o trabalho da primeira criação estava terminado no sétimo dia da semana, o trabalho da nova criação em Cristo (2 Coríntios 5:17; Gálatas 6:15; Efésios 2:10) estava terminado no primeiro dia da semana, pela ressurreição de Jesus. Portanto, desde os primeiros dias os cristãos separaram o primeiro dia da semana como o seu dia habitual de descanso e adoração.
Em resumo:
1. Aceite o presente de um dia de descanso por semana. Humilhe-se e acredite que você precisa disso. E esteja disposto a admitir que sua riqueza, seu significado e seu verdadeiro avanço na vida dependem muito mais do trabalho de Deus que do seu.
2. Dedique um dia da semana para focalizar sua atenção em Deus de um modo especial. Mantenha um dia santo e dedique-o a coisas que aprofundarão seu amor por Deus.
3. Exceto naquilo em que você acha que a obediência a Deus requer o contrário, deixe que o dia de descanso e de foco em Deus ocorra no primeiro dia da semana como um testemunho para o mundo de que Jesus Cristo é o Senhor do seu sabbath e da sua vida.
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