Luiz Caldas, cantor e compositor baiano nascido em 1963 na cidade de Feira de Santana, e considerado o rei do axé, disse que “O Brasil é um país brega; já nasceu assim”.
Concordo em parte com essa afirmação, pois, no meu ponto de vista, culturalmente o Brasil é sim, um país brega, mas sem sombra de dúvida não nasceu assim. Longe disso. E não é necessário voltar muito no tempo para termos certeza disso. O Brasil começou a ficar brega mesmo de uns 20 anos para cá, e isso pode ser sentido na qualidade da nossa música, nos programas de TV (principalmente na TV aberta) e até nos esportes, em particular no futebol de campo.
Tomemos como primeiro exemplo a nossa música. Nas décadas de 50 e 60 surgiram grandes expoentes da música popular brasileira, sendo que alguns deles criaram um novo estilo musical chamado bossa nova que, apesar do mercado e da imprensa tentarem nos mostrar o contrário, é um movimento que continua sendo cultuado por uma grande legião de fãs que, cansados de tantas porcarias musicais lançadas todos os dias, fazem da bossa nova o seu porto seguro (assim como o jazz e o blues, nos Estados Unidos). E para quem não sabe, no dia 25 de janeiro comemora-se o Dia Nacional da Bossa Nova, instituído através da Lei 11.926 de 17 de abril de 2009. João Gilberto, Vinícius de Moraes (que em 2013 faria 100 anos), Tom Jobim, Carlos Lyra, Roberto Menescal, Nara Leão, Elis Regina, Zimbo Trio, Jongo Trio foram apenas alguns dos expoentes da boa música de então. Ainda tivemos de lambuja, o fantástico Chico Buarque, além dos baianos Caetano, Gil, Gal e Bethânia. E o que temos hoje em dia? Desnecessário dizer, pois eles estão soltos por aí para quem quiser ver e ouvir.
E a televisão? Os melhores exemplos dessa virada de estilos estão na Rede Record e na Rede Globo. Além da extinta TV Tupi, que apresentava peças de teatro ao vivo em sua programação noturna. A Record, quando pertencia aos Machado de Carvalho, era insuperável em audiência, com os seus festivais de música de altíssima qualidade e algumas transmissões de futebol com o saudoso Raul Tabajara na locução. Naquela época ainda não existia a Igreja Universal, que hoje é a dona da rede. Mas o exemplo mais gritante mesmo é a Rede Globo. Suas novelas (O Rei do Gado, Renascer, O Bem Amado, Roque Santeiro – só para citar algumas), os programas humorísticos (Jô Soares, TV Pirata, Escolinha do Professor Raimundo e até o Sai de Baixo) e os filmes, eram excelentes. Na programação da Globo tinha a Sessão de Gala, a Sessão Premiére e vários filmes de qualidade que passavam durante as madrugadas. Não eram transmitidos filmes debilóides como ocorre hoje. Está certo que na época havia o Boni (José Bonifácio de Oliveira Sobrinho), mas isso é outra história. Hoje temos Mais Você, BBB, Malhação, Zorra Total, novelas apelativas, transmissões esportivas com locutores e comentaristas insuportáveis, telejornais apresentados por marionetes e assim vamos. E, infelizmente, é a Globo que ainda dita as normas e as tendências neste país.
Não me considero elitista ou seletivo, muito pelo contrário, sou um sujeito simples, que detesta reuniões sociais empertigadas e excesso de formalidades. Gosto mesmo é de um boteco, com os tradicionais tira-gostos, a cervejinha gelada ao ponto e o papo descontraído com os amigos. Sendo assim, considero-me com autoridade para dissecar um pouco este assunto. Se fosse explicar tudo o que eu acho e vejo hoje em dia, seriam necessárias páginas e mais páginas para detalhá-los. Então, fico por aqui.
Esta crônica em si não vem a ser uma crítica à declaração do nobre artista, mas apenas uma discordância de pensamentos sobre um país que – no aspecto cultural – já foi tudo de bom.
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