Uma das coisas mais ridículas e desagradáveis a que assisti nos últimos tempos foi o “não-depoimento” de Carlinhos Cachoeira na CPI. Estranhamente, o que me irritou mais não foi a opção dele pelo silêncio, mas, sim o barraco aprontado por alguns senadores por tal opção. Isso que eu chamo de jogar para a torcida!
Para quem não conhece nada de lei, o silêncio do suposto contraventor é ofensivo. Ele deve (e deve mesmo) satisfações à sociedade por seus atos. Mas, “infelizmente” vivemos em uma democracia. Ou melhor, um suposto estado democrático de direito, que concede a todo cidadão o direito a inúmeras garantias constitucionais, que impedem que o Estado atue de forma ilegal, de forma arbitrária. Que foi o que aconteceu na ditadura militar. Sem lei, sem Constituição e sem democracia nada nos separa da barbárie.
Recentemente, a presidenta Dilma instituiu a chamada Comissão da Verdade, que foi criada especificamente para apurar e divulgar os excessos e abusos cometidos durante o período da ditadura militar.
Assim, por mais absurdo que pareça, Carlinhos Cachoeira tem direito a permanecer em silêncio. A presunção é que ele é tão inocente quanto qualquer brasileiro, que paga seus impostos e cumpre a lei, até que se prove que ele é culpado.
Mas posso garantir, pois passei uma boa parte de minha vida sob o regime ditatorial: é muito melhor garantir ao Cachoeira seu direito de permanecer em silêncio, do que silenciar milhares de pessoas nos porões das ditaduras e dos regimes totalitários.
No início da década de 70, uma piadinha circulava a bocas miúdas (miúdas mesmo). Segundo a piada, se alguém lhe perguntar o que você acha da ditadura, responda: “eu não acho nada, pois quem achava, ninguém mais acha!”
E era exatamente assim que a coisa acontecia. Milhares de pessoas simplesmente sumiram por conta da manifestação de suas opiniões. Pais e mães de famílias, jovens imberbes, “desaparecidos” pelo regime.
Então, senhores senadores, como alguns de vocês assinaram a Constituição, imagino que saibam ler. Se não sabem, assinaram sem ler, concordando com seu teor. E, quando não tiverem nada de interessante para dizer a nós, seus estúpidos eleitores, brindem-nos com seu silêncio! Ou melhor: CALEM A BOCA! Como fez Carlinhos Cachoeira, entendendo nada haver a dizer!
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