Estou preso aqui. Multidão de palavras. Empurro algumas para a direita, piso em outras. Tento tirar as que estão em cima do meu ombro, da minha cabeça. Afasto as que me atrapalham a visão, mas só vejo mais e mais palavras. Reclamo, e outras aparecem e se juntam ao conglomerado, ao falatório. Tapo os meus ouvidos: elas não param de surgir. Calado, com os olhos fechados e ouvidos tapados, salto por cima delas a fim de escapar, de fugir. Porém, acabo imergindo em mais palavras. Embora não veja, não ouça e não fale, sei que são elas repetidamente. Eu as sinto. São pesadas e agarram tudo. Nada lhes escapa. É no nada, é o nada que eu gostaria de abraçar agora, mas elas não deixam. Ai, o pensamento... Era isso o que me faltava depois de cego, surdo e mudo. Sempre que tento apagá-lo, outro surge. Surge cheio de palavras consigo. E o silêncio? É isso, é isso! O silêncio!
Silêncio é palavra.
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