Indescritível
No inicio, ficou assustado. Como assim, ela gostava dele? O problema principal era o ela.
No ano seguinte, começou a achar interessante. Alguém gostar dele, quero dizer. Mas ainda assim, ele estava assustado. Será que ela ainda gostava dele? Podia ser que sim, podia ser que não. Ela quase não falou com ele durante aquele ano.
Foi no segundo ano após o acontecimento que eles ficaram amigos.
É, amigos.
Conversavam na aula, na entrada, no recreio, trocavam respostas das lições de matemática e geografia.
Bem, à parte do recreio foi mais ou menos até abril.
A explicação disso é porque as maiorias das pessoas amigas dele não gostavam dela.
Então, ela fez outra amiga, da outra classe – e ela começou a ficar com a amiga no recreio.
E ele...
Bem, ele sentiu falta dela, da presença silenciosa e quase sempre odiada pelos outros no recreio.
Mas não disse a ninguém. Fingiu-se, como os outros, aliviado por terem se livrado dela, pelo menos no recreio.
Por que ainda estava na classe, nos grupos e nas duplas.
Houve uma aula de geografia, no qual, ele, dominado por um impulso indomável, convenceu o amigo com qual faria dupla convidá-la para sentar em grupo com eles. E para convencer o amigo, disse que ela era boa em geografia – e era mesmo – e daria as respostas para eles.
E ela realmente fez isso.
Então, houve um teatro – desses teatros, da escola, que sempre temos que fazer e parecem divertidos, mas no final, se revelam uma dor de cabeça – ela estava no mesmo grupo que ele. Ele pegou um papel no qual havia um par romântico. Ele chegou a desejar que ela pegasse o papel, mas ela não pegou o papel que ele chegou a querer que pegasse. Quem pegou o papel foi uma garota que ele pensou que gostava, e que gostava dele, há dois anos atrás.
Os dois até tiveram alguma coisa juntos, mas não foi nada, nadinha mesmo. Coisa de criança.
Então, Feira de Ciências. E ela no grupo.
Mas, então, ela mudou de classe.
A outra garota, aquela que ele pensou que gostava, e por ironia do destino, tinha se tornado uma grande amiga dela, disse que ela mudou por que não agüentava mais a situação na classe, por que, ele querendo ou não, todos falavam mal dela, e até ele às vezes falava, por exigência do grupo, pois ao fazer isso, sentia um gosto esquisito na boca dele, como se tivesse engolido algo estragado.
Ele não pode deixar sentir falta dela.
E raiva. Ele sentia falta dela, falta de conversar com ela.
Mas raiva por ela ter o deixado, sem ao menos contar isso para ele.
Mas por que contaria?
Por que somos amigos.
Somos ou éramos?
Éramos.
Após a mudança, ela quase não falava mais com ele. Ele tentou ignorar, tentou fingir que não se importava, mas não era verdade.
Tentou puxar assunto, sim. Mais de uma vez. Mas ela respondia curto, quase não falava. Mas, segundo os boatos, as observações sobre ela e as informações da garota, aquele que ele achou que gostava, diziam que ela estava feliz.
Como ela poderia ficar feliz sem ele?
Ele afastou os pensamentos da cabeça. Aquilo era tonto, ele pensou. É claro que ela poderia ficar feliz sem ele, assim como ele poderia ser feliz sem ela.
Poderia?
Poderia?
A resposta dessa pergunta não existia.
Não existia por que ele não se atrevia a respondê-la.
Durante a feira de ciências, tirou sarro da cara dela. Sim, fez isso.
Mas por que tinha raiva. Raiva por ela ter deixado ele.
Deixado ele?
Passaram, os dois tentando andar pela feira, enquanto A Garota, aquela outra, que ele achou que gostava, não queria que eles saíssem do lugar.
Ela e ele tinham muita coisa em comum.
Então, terminou. E terminou boa parte dos últimos contatos que ele ainda tinha com ela, devido à feira.
Ela...
No ano seguinte, foi para a aula. Mas, ao ver a lista, ela não estava lá. Nem de na outra classe.
Segundo A Garota, aquela que ele achou que gostava, Ela tinha ido para a manhã.
Será que um dia ainda veria ela?
Sim, a viu. Na segunda ou terceira semana de aula, rolou um boato que ela estava lá à tarde. E estava mesmo. Tentou vê-la, viu, sorriu para ela, mas ela não o viu, ou fingiu que não o viu.
Desapontamento.
Então, uma semana depois. Ela estava lá à tarde de novo.
Pelo jeito estava no Grupo de Estudo de matematica, as quintas no período oposto.
Ao entrar, viu ela com a amiga, aquela do inicio da história, e uma outra garota, que ele não conhecia.
Ela tinha feito mais amigas de manhã.
Ela com certeza estava mais feliz de manhã, estava rindo.
E estava linda.
O coração bateu mais rápido.
Não pode deixar de sorrir ao vê-la.
Então, com o coração ainda mais disparado, disse “Oi” a ela.
Apenas oi.
Ela sorriu de volta, e disse oi.
Então, ele finalmente entendeu.
Ele estava apaixonado por ela.
Não importava deis de quando, o que importava era o que veria depois.
Ela ainda estaria apaixonada?
Provavelmente não, devido às mudanças – ele tinha acabado de vê-la, a mudança, a sua felicidade, era visível.
Mas ainda tinha esperanças.
O primeiro era a fazer era voltar a falar com ela, e quem sabe o que aconteceria depois.
Mas afinal, pensou, o que estava acontecendo e o que ele faria em relação a isso eram indescritível.
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