Andando pelo Grande Jardim em torno da mansão de meu pai, poderia respirar um ar fresco e, quem sabe, refrescar meus olhos com o imenso verde da grama. Na verdade, enxergar com clareza, após ter saído do escuro intenso do casarão, não me foi uma tarefa muito fácil. Minha visão era exígua, eu receava tropeçar nos vários meios-fios das muitas calçadas, que são caminhos para os diversos ambientes do Grande Jardim. Caminhava, portanto, vagarosamente, pois era preciso proteger meu tendão de, por exemplo, um escorregão ou de uma queda.
Apressado, passou um homem, que, pelo jaleco e pela direção que tomava, parecia ser um dos cientistas que trabalhavam em pesquisas, um tanto misteriosas, financiadas pelo dono da mansão. No Grande Jardim, havia, além de áreas de lazer, alguns laboratórios em que se faziam os estudos e as experiências que meu pai desejasse.
Eu estava curioso, pois ao meio-dia todos os cientistas já haviam deixado os laboratórios, além disso, a segurança, programada artificialmente, não permitiria que pessoa qualquer voltasse lá antes da metade do dia. Esses centros de pesquisas tinham grandes estruturas metálicas impenetráveis, mas, quando cheguei lá, pude ver, através do vidro de uma das janelas, o cientista. Como ele adentrara o local? Teria entrado por alguma passagem secreta da grande estrutura? Eu não pude saber, porque andava lentamente e cheguei atrasado para ver tal façanha.
De fora, eu observava o jaleco ir de um lado para o outro, carregando frascos para lá e para cá com algum desespero. De repente, a agitação cessou e uma fumaça de verde intenso se espalhou pela sala de pesquisas. Agora, eu já podia enxergar claramente, podia ver com detalhes as calçadas, a grama e, nesta, as pedras e as flores dispersas.
Voltando o olhar à janela, percebi que a fumaça se esvaía. Um silêncio enorme se fez. Eu, já tenso, apenas observava e observava. Da quietude, ouvi um estrondo pavoroso e o vidro da janela estilhaçou-se pelo ar. Tremi.
De dentro da sala, pela janela, saiu um furiosamente agressivo monstro, com movimentos frenéticos e olhar irado. Ele era gigante, vermelho e robusto; parecia de pedra. Sentindo a ameaça que aquela criatura fascinante e aterrorizadora me trazia, corri com muito medo de volta à mansão de meu pai, pois não podia enfrentar um demônio desses.
Na mansão, a escuridão não me permite ver monstros horrendos, mas eu nunca mais pude sair daqui, porque aqui todas as passagens são secretas e todas elas estão definitivamente trancadas. Talvez um dia, aquele monstro venha destruir as paredes dessa mansão e, assim, criar passagens para minha liberdade.
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