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meu querido Bóris
Rúbia Mendes Laurelli

Você é rei. Não é dono do mundo, mas parece ser. É fingidor, finge que não sabe nada, finge que sabe tudo. Finje que não conspira com o universo, mas eu sei, eu sei da sua verdade. Bóris, eu não te acordaria jamais, eu não tiraria você da cama enquanto você dorme e se você deitar no meio dela eu durmo atravessada, invergada se precisar, mas não te acordo do seu sono, jamais. Se você deitar no sofá, eu sento no chão, mas não te incomodo jamais. Não te acordo porque sei que seu sono é urgente, de quem tem que levantar pra tomar uma água, comer ração e dormir novamente. Sei que isso tudo é muito cansativo. Quando eu te olho, te amo completamente, amo sua cor preta, amo seus olhos. Olhos verdes e profundos, bem mais profundos que o oceano. Bóris, meu gato preto, você só me dá sorte. Rei de si, rei de tudo que está envolta e rei de mim. Rei por conta própria, sem coroas de ouro e sem palácio de cimento. De palácio, tens o corpo e isso é suficiente. Sua coroa é o amor de quem te ama, pra não dizer alma. Eu não te tenho, você é que me tem. Você não compadece com minhas tristezas, nem sente dó, mas sabe sentar do meu lado como um coleguinha de escola. Sabe ser ouvinte, mesmo quando distraído lambendo os pêlos. Sabe ser amigo, sabe ir e voltar. Não te troco por dez humanos. Mesmo que os dez humanos fossem de caráter, não valeria o seu. Também não dou e não vendo, porque não há quem lhe mereça em doação, e não há quantia que pague por você. Gato preto dos olhos verdes, olhos que encaram sem ressentimento, sem medo de meias verdades. Olhos que dizem tudo e não dizem nada. Olhos que sorriem para mim mas debocham da minha espécie, simples humana. O que é que você fez na outra vida, para nascer gato? Foi a Madre Teresa? Foi o Papa João Paulo? Conta pra mim. Eu quero tanto saber. Acho que você não confia. Não, você não confia em ninguém. Faz dengo e mostra afeto, mas não confia em ninguém. Está certo e é perfeito. Eu quero muito ser gato, Bóris. Eu quero muito ser dona de mim.

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