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Reação inesperada
Alci Massaranduba

Resumo:
A história é ficticia, mas os seus ensinamentos são reais.

O jovem Pedro tinha 16 anos quando aconteceu algo que inicialmente foi totalmente corriqueiro. Um fato sem grande importância e que nem mereceria ser relatado de tão insignificante. No instante em tudo aconteceu o rapaz não imaginava que algo tão banal pudesse modificar toda a sua vida.
A fase da adolescência é marcada por sérios conflitos internos. O jovem busca na rebeldia uma forma de expressar os seus sentimentos conflituosos. O relacionamento com os pais fica bastante comprometido, pois o jovem desafia as ordens a ele dadas. O caso de Pedro é singular. Apesar da ebulição dos hormônios, ele se mantinha calmo e raramente alterava o seu comportamento. O relacionamento com os pais era o melhor possível. Era rodeado de amigos. Com a sua simpatia conquistava a todos.
O namoro com Bianca estava indo muito bem, ambos se entendiam e trocavam juras de amor. O jovem casal de namorados conversava constantemente sobre o futuro do relacionamento. Os professores de Pedro o tinham em alta estima, pois o admiravam pela sua inteligência e dedicação aos estudos.
Tudo estava indo muito bem, o futuro parecia ser promissor. O jovem Pedro tinha todas as características de um vencedor; bom aluno, bom filho, bom namorado e boa pessoa. Como não gostar de um rapaz tão virtuoso? Apesar de todos vislumbrarem um futuro brilhante para o jovem Pedro, as coisas não aconteceram exatamente como o previsto.
Uma das suas paixões era jogar futebol com os amigos, pelo menos uma vez por semana a galera se reunia para a prática do esporte. Naquela fatídica noite de terça-feira aconteceu algo que mudaria para sempre a vida de Pedro.
A partida de futebol se encaminhava para os minutos finais, faltava apenas 5 minutos para o término do jogo. O placar mostrava um empate em dois a dois. O jovem Pedro estava próximo da grande área quando recebeu um lançamento preciso do meio do campo. Fazendo uso de toda a sua habilidade, ele driblou todos os adversários que surgiu na sua frente, o último obstáculo rumo ao gol era o goleiro, com uma gingada espetacular conseguiu deixar o goleiro para trás e fez um lindo gol. Ao sair em direção ao meio do campo para comemorar com os companheiros subitamente sentiu uma forte dor de cabeça. A dor durou apenas alguns segundos, nada que atrapalhasse a alegria de ter marcado o gol da vitória. A partida de futebol terminou com Pedro sendo o grande nome do jogo.
Ao chegar à sua casa, a primeira coisa que queria fazer era tomar um banho bem gelado. Aquela partida de futebol tinha sido mais cansativa do que de costume, principalmente nos cinco minutos finais. Lembrou da forte dor de cabeça que teve. Com certeza era só mais uma dor de cabeça sem importância- pensou consigo.
Ao entrar no banheiro sentiu uma leve tontura. Ligou o chuveiro, quando a água caiu sobre o seu corpo nu sentiu novamente aquela terrível dor de cabeça. A dor foi tão forte que chegou a desmaiar. Com a demora para sair do banho o seu pai o chamou várias vezes, mas sem obter nenhuma resposta. Preocupado com o filho, o pai arrombou a porta do banheiro. Ao entrar ali o pai teve uma terrível surpresa, encontrou o seu filho caído no chão inconsciente. O desespero foi geral. Sem perder nenhum segundo sequer, o pai o retirou daquela deplorável situação. O destino não poderia ser outro a não ser o hospital mais próximo.
A viagem até o hospital parecia não ter mais fim. O pai pisou no acelerador. O carro transitou pelas ruas da cidade em alta velocidade. Na hora do desespero até os sinais de trânsito foram desobedecidos, mesmo sendo fiel cumpridor das leis, na mente daquele pai só havia uma única preocupação naquele momento; salvar a vida do seu filho.
Ao dar entrada no pronto socorro, Pedro ainda continuava desacordado. O enfermeiro percebendo a gravidade da situação, rapidamente providenciou uma maca. O rapaz foi levado às pressas. Uma pergunta surgiu na mente daquele angustiado pai: Será que ainda veria o seu filho com vida? A simples ideia de perdê-lo levou aquele pai ao total desespero. O choro foi inevitável. As lágrimas caiam em abundância da sua sofrida face.
Os momentos seguintes foram de grande expectativa por uma notícia positiva sobre o estado de saúde do filho. O tempo passava e ninguém aparecia para tranqüilizar aquele pai. Finalmente, após duas horas, um médico se aproximou e disse que precisava falar em particular com o senhor Almir- pai de Pedro. A notícia trazida pelo médico não era a que ele estava esperando. O pai sai da sala arrasado emocionalmente. Apesar de ser um diagnóstico inicial, ainda seria preciso fazer uma série de exames complementares, o médico afirmou que o caso de Pedro era grave, a suspeita era de que ele estava com um tumor alojado na cabeça. A sua única chance de sobrevivência seria se submeter a uma delicada cirurgia, se aquela suspeita se confirmasse. Infelizmente, o médico estava certo no seu diagnóstico. Com grande dor no coração, os pais de Pedro autorizaram a cirurgia, mesmo sabendo dos riscos.
O rapaz recobrou a consciência e pôde enfim rever os seus pais. Na porta daquele quarto, antes de entrarem, os pais de Pedro conversaram sobre a melhor forma de dar a notícia de que Pedro estava com câncer no cérebro e precisaria ser operado o quanto antes. Imagine você no lugar daqueles pais, o que falaria para o seu filho? Como daria a trágica notícia? Como o consolaria?
Ao entrarem no quarto viram algo surpreendente, seu filho estava com o semblante extremamente tranqüilo, nem parecia estar num leito de hospital por tantos dias. Diante de todo aquele sofrimento, aquele rapaz ainda mantinha o seu jeito de ser, a sua alegria com a vida, o seu jeito amoroso. Ao ser explicado a ele a sua real situação, o mesmo continuou tranqüilo, já os pais não conseguiram conter a emoção e começaram a chorar copiosamente.
Tudo o que podia ser feito pelos pais tinha sido feito, mas a sensação de impotência diante de algo totalmente fora do controle os abalou profundamente. Nem mesmo a medicina com todas as suas técnicas cirúrgicas avançadas não deram garantia de cura para o problema de Pedro. Mesmo sabendo que as suas chances de sobrevivência eram menores do que gostaria, Pedro tentou acalmar os seus pais. Houve uma inversão de papéis, pois quem deveria trazer consolo foi quem justamente foi consolado.
O rapaz pediu uma folha de papel em branco e uma caneta, naquele exato momento o senhor Almir e sua esposa Carmem pressentiram que aquela seria a última vontade do seu filho com vida. Muito comovidos, observavam pacientemente a mão trêmula do seu filho segurando a caneta e escrevendo algumas palavras. Ao terminar de escrever a carta com certa dificuldade a mesma foi entregue ao pai. Só havia um pequeno detalhe, aquela carta deveria ser lida apenas depois da morte do rapaz e no seu enterro. O pai sem entender direito o porquê de tal pedido prometeu ao filho de que se ele viesse a falecer, e somente depois disso, é que ele leria aquela carta.
Em nenhum momento Pedro se desesperou. É algo admirável a ser comentado que um jovem cheio de sonhos e tão talentoso estivesse vivendo tal tempestade na sua vida. As suas últimas palavras ditas ao pai foram:
-Pai querido, independente do que aconteça comigo quero que saiba que eu estou em paz. Ao ouvir tais palavras o pai abraçou fortemente o seu filho. A dor daquele pai é difícil descrever.
Ao deixar o hospital, o senhor Almir sentiu subitamente o desejo de abrir aquela carta para saber o seu conteúdo, pensou em fazer isso, mas logo veio a sua mente a promessa que tinha feito e desistiu da ideia. Apesar da sua curiosidade, a decisão tomada por ele foi correta.
O dia marcado para a cirurgia da retirada do tumor enfim tinha chegado. Ao deixar o quarto onde estava Pedro acenou para os pais.
Após várias horas de muita agonia, surge no fundo de um corredor do hospital, vindo na direção dos pais de Pedro o médico responsável por sua cirurgia. Ao avistá-lo, pressentiram que o pior tinha acontecido. O médico se aproximou e com grande tristeza disse que tudo tinha sido feito para tentar salvar a vida de Pedro, mas infelizmente, ele não resistiu e veio a falecer. Naquele momento, só uma coisa passou pela mente daqueles pais. O questionamento feito por eles é o mesmo de muitas outras pessoas que já passaram por situação parecida. A pergunta era a seguinte: Por que coisas ruins acontecem com pessoas boas? Tudo aquilo não era justo. A reação inicial foi de revolta.
Todos os preparativos foram feitos para o enterro de Pedro. Por ser um jovem tão querido, uma pequena multidão de pessoas veio prestar a ele uma última homenagem. O cortejo fúnebre dirigia-se até o cemitério da cidade, por onde passava emocionava a todos. Era difícil não pensar no fato de que a vida é aparentemente injusta. O jovem Pedro não merecia morrer daquela forma.
Ao tirarem o caixão do carro da funerária, a comoção foi geral. Um enterro nunca tinha reunido uma quantidade tão grande de pessoas. O senhor Almir pediu a palavra e disse:
- Queridos amigos, gostaria de agradecer do fundo do meu coração pela presença de todos vocês, não imaginava que o meu filho fosse tão querido. Creio sinceramente que o meu Pedro marcou de alguma maneira a vida de cada um de vocês.
Após pronunciar essas palavras, ele colocou a mão no bolso da calça e tirou um papel. Com lágrimas nos olhos, revelou que tinha em mãos o último desejo do seu filho. Todos ficaram em total silêncio. O homem abriu aquele pedaço de papel e disse que Pedro tinha confiado a ele a responsabilidade de ler a carta diante de todos, momentos antes do seu enterro. O senhor Almir respirou profundamente e começou a ler as seguintes palavras.
“Inicialmente, gostaria de me apresentar, pois talvez esteja falando para muitas pessoas que não tiveram a oportunidade de me conhecer. Meu nome é Pedro. No momento estou num leito de hospital e pressinto que talvez não saia daqui com vida. Gostaria de pedir a atenção de todos por alguns minutos, por favor, tenham paciência e escutem o que vou dizer.
Eu tenho muitos sonhos para o meu futuro, assim como vocês também tem os seus, mas infelizmente, para alguns de nós, eles não se realizarão por alguns motivos. Nunca imaginei que sendo tão jovem enfrentaria uma doença com tal poder de destruição. Hoje estou deitado numa cama, longe de muitas pessoas que amo. Estar aqui me levou a refletir sobre a minha vida.
Sei que muitos de vocês não conseguem entender o porquê da minha morte. Bom, nem sempre entendemos mesmo, mas talvez o que precisamos entender é o porquê de Deus permitir a minha futura ausência deste mundo. A grande verdade é que a morte chegará a todos, mais cedo ou mais tarde. Não há como enganá-la ou fazer acordo com ela. O que realmente importa é a nossa atitude diante de algo que foge ao nosso controle. Por incrível que pareça, posso dizer com segurança que estou tranqüilo mesmo diante do inevitável- o fim da minha existência. Como é que consigo manter a calma diante de tamanha tragédia pessoal? Você pode estar se questionando neste exato momento. Bem, a vida é cheia de desafios, lutas e provações. Faço uma comparação da vida com um dia qualquer, de manhã o sol reina majestoso nos céus, à tarde nuvens escuras encobrem o seu brilho, a luz desaparece e no seu lugar surgem densas trevas. No mesmo dia, temos a luz e a escuridão, o sol e a chuva, o frio e o calor. A vida muitas vezes é assim também, num determinado dia pela manhã, tudo parece dar certo, já à tarde, tudo parece dar errado. Numa hora você está feliz com os amigos jogando uma partida de futebol e logo depois está internado em estado grave. O que podemos fazer diante de coisas totalmente fora do nosso controle? Talvez esteja falando para alguém que está vivendo um lindo dia que parece não ter fim, ou para alguém que só enxerga a penumbra e o desânimo é o seu companheiro inseparável. Em qualquer das situações não se esqueça de que tudo é passageiro. Não há como mudar as tragédias que assolam a nossa vida e nem de fazer com que os dias alegres se eternizem, mas há uma atitude que pode mudar tudo. A grande questão é como reajo diante das alegrias e tristezas. Algumas pessoas chegar a dizer que a fé em Deus é uma ilusão, um meio de consolo diante da dor e desespero, eu particularmente escolhi crer em Deus antes dos dias escuros da minha vida, o sol brilhava em todo o seu esplendor quando decidi crer que existe um Deus amoroso, cuidadoso e que zela pelos seus filhos. O fato de estar vivendo os meus momentos finais no palco deste mundo não mudou nada na minha confiança, pelo contrário, a minha fé só aumentou. Se vocês me perguntarem de onde vem a minha tranqüilidade, não tenho outra resposta a dar a não ser dizer que é um verdadeiro milagre. Não posso explicar os milagres, só sei que eles existem. Sei que muitas pessoas não acreditam em milagres, mas para mim eles fazem todo o sentido.
Escolhi deixar a vida da mesma forma que a vivi, com alegria, esperança e o senso do cuidado e da proteção divina. Hoje sei que tudo o que me aconteceu foi permitido por Deus para que o meu exemplo fosse fonte de inspiração para muitas pessoas assoladas por problemas dos mais diversos. Antes de fechar os meus olhos pela última vez gostaria de fazer um apelo a você. Por favor, tenha a ousadia de crer em Deus e em você mesmo. Independente das circunstâncias desanimadoras, jamais se esqueça de que não estais sozinhos no mundo. Nos momentos de calmaria lembre-se do seu Criador, nos momentos mais difíceis tenha a certeza de que a impossibilidade humana é a oportunidade de Deus revelar toda a sua grandiosidade.
Obrigado pelo carinho de todos vocês. Por enquanto, adeus”.
Pedro

Ao terminar de ler a carta de Pedro, o seu pai percebeu que aquelas palavras mudariam a vida de muitas pessoas. O conteúdo daquela carta pode mudar a sua vida também. O jovem Pedro era mais sábio do que imaginava.



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