Perdeu-se do grupo que explorava uma nova trilha no morro Guarapiranga. Caminhou e marcou as árvores, enquanto havia luz natural. Cansado de andar em círculos, resolveu esperar por ajuda. Encontrou uma clareira perto de umas imbaúbas e passou a noite.
Na manhã seguinte, acordou com um barulho vindo da fogueira que fizera para se proteger de prováveis visitantes na madrugada. Ainda com sono, abriu os olhos e viu um menino que colocava algumas frutas no chão e sorria compulsivamente. Ficou espantado ao ver uma criança - com a camisa da seleção brasileira da copa de setenta - correndo de um lado para o outro com uma perna só.
Aproximou-se para comer as frutas. Nem se importou em tirar as cascas, pois a fome era tanta, que temia enlouquecer se não comesse logo. O menino continuou sorrindo e lhe ofereceu um cachimbo que não parava de soltar um cheiro adocicado no ar. Entendeu o gesto como uma tradição do povo local e deu várias tragadas.
A fome voltou junto com uma sede incontrolável. De uma cachoeira perto da clareira, um canto irresistível atravessava o vento que balançava as folhas das imbaúbas e apagava o fogo. O garoto apontava para um dos ouvidos e dizia:
"Iara, Iara, Iara, Iara..."
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