Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
Centenário de um repentista de Embolada: Manezinho Araujo
Joseph Shafan

Hoje, 27 de setembro de 2010, celebra-se o centenário de nascimento de Manuel Pereira de Araújo, conhecido como Manezinho Araujo. Apesar de alguns referendarem uma data de registro (1913), é preciso considerar a 'forma de registração' da época. Estudiosos mais cuidadosos avaliam seu nascimento em 27 de setembro de 1910, filho de Joventina Pereira de Araújo e de José Brasilino de Araújo. (Num exemplo de pesquisa acurada está a de Semira Adler Vainsencher, pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco).
Manezinho Araujo, jornalista, pintor e compositor, nascido na cidade de Cabo (PE), aprendeu a cantar Emboladas com um dos maiores mestres do gênero: Severino de Figueiredo Carneiro, o Minona, em Casa Amarela, na cidade do Recife, quando ainda era adolescente.
Como compositor, seu disco 'Cuma é o nome dele?' está entre os '300 discos importantes da música brasileira', conforme livro do mesmo nome de Charles Gabin, Tárik de Souza, Carlos Calado e Arthur Dapieve, publicado em 2008.
Como pintor, além de duas telas expostas no museu da Fundação Gulbenkian em Lisboa, tem várias de suas pinturas em exposição de museus regionais, inclusive o de São Luis (MA), o de Araxá (MG) e o de Feira de Santana (BA).

Embolada, Coco de Embolada, Coco-de-improviso ou Coco de Repente é uma arte repentista natural do Nordeste, que consiste em uma dupla de 'cantadores', ao som de um pandeiro ou batucada de mãos, montando versos métricos, rápidos e muitas vezes improvisados, onde há uma 'disputa' de imagens construídas por cada oponente acerca do adversário.
A Embolada requer velocidade de resposta e deve ser 'bem bolada' pois do contrário o adversário vence e recebe a 'coroa do triunfante'. De acordo com o pesquisador Coutinho Filho ('Violas e repentes; repentes populares, em prosa e verso; pesquisas folclóricas no nordeste brasileiro) "Emboladas são décimas generalizadamente cantadas em versos de quatro e de cinco sílabas, próprias para as 'pelejas incruentas', para os 'lances dos entreveros demolidores', que caiu em desuso para os violeiros improvisadores (ou repentistas) ficando comum entre os cantadores de feira, ao chocalhar dos maracás e aos ruídos dos reco-recos, sob a percussão estridulante dos pandeiros, acompanhados pelos ganzás ensurdecedores e, às vezes, por violas e concertinas. O cantador de 'emboladas', nas feiras, raramente improvisa, porém é hábil em decorar versos (...). As 'emboladas' quando cantadas pelos nossos repentistas, ao baião da viola, no ardor dos improvisos, aparecem como ferro em brasa, no repto e no revide." (in Revista Jangada Brasil, ano IV, número 44, Abril 2002).

Pra onde vai, valente?
(Manezinho Araujo)

Pra onde vai, valente?
Vou pra linha de frente,

Tava na feira
C'a pistola e um cravinote
O muleque deu um pinote
Me chamou mode brigá.

Pego no meu punhá
Enfio a faca, o sangue pula
Moleque você não bula
Com Mané do Arraiá.

Veio um sordado
C'um boné arrevirado
Com dois oio abuticado
Que só cachorro do má.

Botou-me a mão
Home, me disse, você tá preso
E eu fiquei c'um braço teso
Na cara lhe quis passá.

Pra vadiá
Eu sou caboco bom na briga
Mas só gosto da intriga
Quando encontro especiá.

Dedo do Cão
Moleque bom no gatilho
Se coçou, eu vi o brilho
Atirou pra me pegá.

Ele me atira
Eu me abaixo e a bala passa
E fico achando graça
Do baque que a bala dá.

Pra onde vai, valente?
Vou pra linha de frente.


Biografia:
Escrevo porque gosto de transmitir em palavras o que penso.
Número de vezes que este texto foi lido: 59434


Outros títulos do mesmo autor

Crônicas Bate e Assopra Joseph Shafan
Ensaios Paranóia e Temperança Joseph Shafan
Artigos Nem azul, nem vermelho, nem verde: o Brasil é brasileiro Joseph Shafan
Poesias Ambrosia Joseph Shafan
Haicais Porta-retratos Joseph Shafan
Haicais Pontes Joseph Shafan
Poesias ESTAR Joseph Shafan
Poesias Apressa-te amor Joseph Shafan
Poesias Atividade Joseph Shafan
Poesias Sombra de Paris Joseph Shafan

Páginas: Primeira Anterior Próxima Última

Publicações de número 31 até 40 de um total de 60.


escrita@komedi.com.br © 2024
 
  Textos mais lidos
Roupa de Passar - José Ernesto Kappel 59997 Visitas
Meu desamor por mim mesmo - Alexandre Engel 59996 Visitas
Boneca de Mulher - José Ernesto Kappel 59994 Visitas
Decadência - Marcos Loures 59994 Visitas
Conta Que Estou Ouvindo - J. Miguel 59984 Visitas
O estranho morador da casa 7 - Condorcet Aranha 59981 Visitas
Senhora da Escuridão - Maria 59975 Visitas
Minha Amiga Ana - J. Miguel 59969 Visitas
Menino de rua - Condorcet Aranha 59969 Visitas
Colunista social português assassinado por suposto namorado - Carlos Rogério Lima da Mota 59960 Visitas

Páginas: Primeira Anterior Próxima Última