O vento bate, o vento sopra, mas é a natureza própria dele. "Vejam de quantas coisas precisa o ateniense para viver", teria dito Sócrates ao atravessar o mercado de Atenas querendo dizer, em realidade, que nada daquilo era o essencial para o viver, no sentido de vida plena (vida feliz), a partir do que os 'kynismós' passaram a demonstrar que a felicidade advém de causas internas. Mas a acepção contemporânea, inculta e vulgar em si muito pela inépcia no letrar-se, de má-fé fez transformar o significado do latim derivado do grego 'cysnismu' para imoral ou obsceno. Um conhecido 'joguinho' que muitas lideranças fazem deliberadamente para manter o jugo sobre o geral. É um jogo mordaz (latim medieval 'mordax', o que morde) que aposta sempre na 'memória curta' do público. Nesse mundo de internet, de "Chats, Mentiras & vide o 'fake'" (alusão ao 'cult-movie' Sexo, Mentiras e Videotape - Sex, Lies and Videotape, de Soderbergh) muito se repete o 'que sempre funciona': o 'jogo do morcego' ou 'iô-iô emocional'. Morcego, como se sabe, é mundialmente associado ao vampirismo, mas esse jogo está também ligado ao ditado alemão "muitos inimigos, muita honra" no uso da tática do morde-e-sopra (famosa como 'bate e assopra' em nosso rincão). A expressão é oriunda do ditado da língua portuguesa "Faz que nem morcego: morde e sopra". Temos também em nossa língua o verbo intransitivo 'morcegar' (explorar, sugar, tirar partido) e o recente (mas nem tanto) uso de 'amorcegar' dizendo ser o mesmo que embromar (amorcegar, palavra cunhada na visão de que o morcego, que tem asas, também tem pêlos, indefinindo-se entre 'bicho de pêlo e bicho de penas'). O 'morde-e-sopra' (ou bate-e-assopra) retrata a sutil picardia (covardia?) como o caso entre o Vaticano e Galileu que poderia apenas satisfazer a união de um sádico com um masoquista. Cervantes já disse "¡Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay!"... a internet também pode provar isso. O vento bate, o vento sopra, mas é a natureza própria dele.
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