De pó:
os grãos de café passam por seleção eletrônica e, em seguida, por uma escolha manual, onde o café é selecionado no intuito de certificar-se a sua qualidade. Este é o segredo do café. A Internet também é um coador que seleciona escritores e textos. Creio que a possibilidade desse refinamento deve-se à visível demonstração de que a literatura continua viva e mantém, talvez por isso, seu progresso cultural de ser e de manifestar-se. A técnica parece buscar a essência da contenção, na medida em que cristaliza na organização dos textos uma expressão de inesperadas significações, como em Márcia Maia:
“não eram meus olhos de bruma / que se refletem
na xícara de café / ora ausentes, ora baços //...”
Em palavra:
ao selecionar vem com um véu, defendendo a palavra, rica e expressiva, nos restituindo a realidade; desmontando a farsa e ainda com a pretensão de ser contundente.
Ela revela talentos. É máquina poderosa, porque constrói “estradas”, com clareza e explicitude, ligando à nova linguagem, concentrada no sentido de revelação do ser. Reúne escritores e harmoniza os leitores pelo exercício de olhar e, nessa variedade, é a influência que diferentes leitores detêm, ou são detidos pelo coador de matérias, desvendando o nível do inusitado e do suposto que, filtrados pela imaginação criadora, ganham novas formas.
A Internet é coador que passa-passará a literatura indo ao encontro das palavras com sentido, onde aumenta e diminui a interferência do escritor e do leitor; e pela liberação de todos os sentidos, de um universo de imagens, diálogo do escritor consigo mesmo, na revelação e no reflexo, através da linguagem criativamente apresentada.
Juntar, buscar o sentido global que será um para cada leitor. A internet é “livro” múltiplo, aberto e enriquecedor, que propõe literatura: decompor, separar, refletir, mas antes de tudo perceber – realidade e fantasia – as relações do homem x texto x leitura, para conviver em fascinante mágica, como seres que assumem novas formas literárias e revelam sua modernidade.
Coador:
coador significa filtrar... Tantas coisas, tantas palavras. Logo, lembro do café que combina com momentos de encontro, troca de ideias como no dizer de Hugo Mund Júnior, “... cheiro de café / beijos enluarando a mesa / lá fora vela de canoa ao vento...”
Café e cultura juntos à internet alteram o paladar das nossas vidas, através das escolhas, descobertas e sedução, como nas palavras de Francisco Alvim:
“Olhar como se olham duas pessoas / meu café... /
entre o desejo a lembrança...”
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