O frio cortante e o vento que uivava nas ruas fortemente escurecidas, anunciavam para muitos a chegada de um momento muito especial, o Natal, mas não para Paulinho.
Como morador de rua, a cada noite ele tinha que resolver o mais simples dos quebra-cabeças da vida: sobreviver.
Sob o teto da construção em estilo moderno e arrojado, na calçada com cores bem definidas e piso regular, enrolado no cobertor que ganhara duas noites atrás, o menino de silhueta magra e sofrida realçada pela luz de neon, dedicava-se ao único brinquedo que a vida lhe permitia possuir: Preencher, nas revistas sujas e amassadas que eventualmente encontrava pelas ruas ou latas de lixo, os quadrinhos, com letras irregulares e formar palavras cruzadas.
Invariavelmente, Paulinho sonhava...
Sonhava, sonhava e sonhava em um dia encontrar vaga num albergue onde poderia ter alguma comida quente, um teto para protegê-lo das noites chuvosas, uma cama para dormir e até mesmo uma mesa para dedicar tempo as revistas de palavras cruzadas, mas o sonho sempre se dissolvia pela manhã, quando acordava com o corpo sentindo apenas o chão frio da calçada e as cobertas geladas.
Numa dessas noites, poucos minutos após o badalar do sino da igreja avisando que a noite já estava na metade de seu caminho em direção ao raiar do sol, algo estranho aconteceu.
De repente, sem aviso ou razão aparente, tudo ficou imóvel. O frio desapareceu, o vento parou de soprar e a noite tornou-se misteriosa.
Uma lenta calmaria, suave e agradável, formou-se no local onde ele e os companheiros de rua estavam instalados, um ao lado do outro, em uma longa linha de desesperança, fome e sofrimento.
Paulinho, nessa época com 12 anos, alertado pelo fato inusitado, afastou a revista da frente dos olhos, ergueu o corpo, olhou ao redor, mas além do grande silêncio que surgira não enxergou nada demais, apenas a rua quieta.
Ele girou o rosto para um lado e outro mais uma vez e notou ser o único que persistia em permanecer acordado e curioso tentou, com olhos semicerrados, varar a escuridão da noite, mas novamente a tentativa de entender aquela súbita e inesperada mudança de temperatura que ocorrera, foi inútil.
Silêncio. Nada. Ninguém.
Sem se sentir pertubado ele pensou:
“Bem, pelo menos posso continuar a fazer palavras cruzadas sem que o vento empurre as páginas”
Seu estômago roncou e colocando a revista de lado, Paulinho enfiou a mão por debaixo do travesseiro, pegou um embrulho de papel, desdobrou-o cuidadosamente e retirou um pedaço de pão envelhecido e pegando novamente a revista, ficou mastigando e pensando, pensando e pensando.
A parte inicial do diagrama perguntava:
“Crença religiosa – 2 letras”
Deixando escapar um sorriso, ele pensou:
“Fé. Fácil, essa eu tenho muita”
A próxima solicitava:
“Animal, geralmente servido em ceias de natal – 4 letras”
Desviando a atenção, por um segundo, para o estômago seu estômago que parecia ter lido a charada ao mesmo tempo, ele sussurou:
“Peru. Muito fácil também, não conheço o gosto, mas sei que os ricos comem esse bicho no natal”
A charada seguinte:
“Divina Trindade - 5 letras”
Sentindo o sorriso aumentar em seu rosto encovado, ele concluiu:
“Jesus”
Cinco minutos depois, distraido com o exercício de decifrar as charadas, Paulinho ouviu, antes de ver, uma voz de lamento, baixa, fraca, como se estivesse sendo sussurada em seu ouvido:
“Me ajude...”
Assustado, indeciso entre erguer a cabeça e olhar de quem vinha aquele sofrido pedido de ajuda ou enfiar-se por debaixo das cobertas, arriscou pegar a primeira opção e assim que seus olhos pousaram no homem, em pé, exatamente em frente ao local onde estava deitado, seu queixo caiu com a imagem e ele sentiu um frio que enregelou-lhe até os ossos.
Um homem muito alto, com faces carcomidas, chama pálida no olhar, vestindo apenas calças no corpo tão absurdamente magro que permitia identificar cada costela de seu peito nu, e a aparência de um fantasma, estava simplesmente parado encarando-o.
Paulinho conseguiu fazer com que sua visão alcançasse a parte baixa do corpo do homem e observou que seus pés desnudos esticavam-se a frente, como se ele mal conseguisse ficar em pé e ali parado com a mão estendida, parecendo estar pedindo esmolas, formava um quadro de dilacerante apreensão.
Preso áquela visão, o menino não notou o carro que lentamente se aproximara, bem próximo ao meio-fio, por detrás do homem.
Sem demora, três pessoas, dois homens e uma mulher desceram do veículo recém estacionado e encaminharam-se para o homem maltrapilho dizendo:
“Nós somos do albergue Nossa Senhora das Dores e temos uma vaga. Gostariamos que o senhor nos acompanha-se. Lá podemos ajudá-lo, alimentá-lo, dar-lhe roupas e uma cama para passar a noite.”
Nas condições incômodas em que se encontrava, Paulinho sentiu o coração partir-se em dois, porque aquela era a oportunidade que sonhava dia após dia.
Um teto para viver.
A mulher que descera do carro, de rosto simpático, penalizada com a situação do menino, questionou o colega que oferecera abrigo ao maltrapilho:
“Espere, veja, é uma criança. Talvez seja melhor dar abrigo a ela.”
Ao falar ela irradiava carinho e tão logo a frase invadiu a mente de Paulinho, ele afastou o cobertor, esqueceu-se da revista, correu em direção á mulher que falara e num piscar de olhos estava em seu colo, com a cabeça pousada em seu ombro e os olhos cheios de lágrimas de agradecimento.
Ela fizera uma observação sensata e oportuna, mas de efeito chocante sobre o homem maltrapilho que, agora com o corpo tremendo, se colocou de joelhos e começou, em visivel desespero, a chorar.
O menino afastou a cabeça do ombro da mulher e calado, ficou observando a cena.
O fluxo das lágrimas desesperadas do homem transformaram-se em uma torrente de pedidos de ajuda, despejados sobre a mente das quatro pessoas hipnotizadas e imóveis que o ouviam.
Ele falou, falou e falou – contando os sofrimentos pelos quais já havia passado e após algum tempo o menino não quis ouvir mais. Cobrindo os ouvidos com as mãos, fechou os olhos, voltou a esconder a cabeça no ombro da mulher e tentou expulsar a imagem daquele homem da mente.
Era a oportunidade que aguardava a mais de dois anos, desde que ficara orfão, mas subitamente as palavras que estivera a pouco preenchendo na revista vieram á tona, como avisos luminosos impossiveis de não serem vistos.
“Fé, Jesus”.
Então, levantando o rosto e baixando as mãos Paulinho continuou ouvindo mesmo assim, ficando, pouco a pouco, entristecido com a vida infinitamente mais sofrida daquele homem.
O silêncio total, quebrado unicamente pelo vento frio que retornara, empurrando os galhos das árvores.
Os quatro pares de olhos andavam do menino para o homem, visivelmente indecisos sobre qual deles deveria ser conduzido para o calor confortante do abrigo.
De repente, o menino virou o rosto, colocou as mãos pequenas, nuas e geladas na face da mulher que o sustentava, e disse:
“Me deixe descer, ele pode ir em meu lugar.”
Ele não sorria, os olhos azuis eram firmes como pedacinhos de vidro e o rosto, fino, curtido pelas muitas noites passadas ao relento, expressava determinação e bondade.
Tanto os dois homens quanto a mulher franziram a testa ao mesmo tempo, abismados com o timbre de voz do menino e de olhos arregalados assistiram ele descer do colo, abrir caminho e calmamente voltar para sua cama improvisada na calçada.
A mulher não respondera ao pedido de Paulinho, entendendo seu gesto e uma vez deitado, ele cobriu as pernas com o único cobertor que tinha para manter o vento frio afastado do corpo, pegou a revista de palavras cruzadas e preferiu não levantar a cabeça novamente.
Assim, Paulinho, o menino de rua, quieto e gelado, se deixou ficar, ouvindo primeiro as vozes e depois o barulho do carro se distanciarem mais e mais até sumirem na escuridão da noite.
Poucos momentos depois, ele aninhou-se melhor, tapou a cabeça com o cobertor para enganar o frio, esqueceu a oportunidade perdida e dormiu.
O próximo dia mostrou-se ensolarado e com nuvens, e o sol, como se estivesse brincando de esconde-esconde, aparecia e desaparecia.
Paulinho sentindo os raios de sol querendo penetrar por debaixo de suas pálpebras então, abriu os olhos, levantou-se e concluiu que a manhã já estava em andamento.
Ele ficara assombrado de alto á baixo pela aparição da última noite e enquanto arrumava suas poucas coisas, constantemente perguntava a si mesmo:
“Tudo não passou de um sonho ou realmente aconteceu? Aquele homem e aquelas pessoas realmente estiveram aqui ou foi apenas a minha vontade de passar o Natal em um lugar aquecido e com algo quente para comer?”
Engolindo em seco, sentindo a garganta áspera pela falta de líquidos e o estômago agora a rugir como um leão, ele tirou o blusão, revelando o corpo magricelo e faminto, juntou o coberto com o travesseiro, amarrou-os, encheu a si mesmo de esperança e deixou que os pés guiassem seu destino incerto.
Caminhando pela calçada, esticando a mão para um ou para outro transeunte, que nem sequer paravam para ouvi-lo, enquanto tentava lembrar quando comera o último prato de sopa quente, ele pensava:
“Pensei que um as coisas poderiam ser diferentes, mas parece que não podem”.
Ao anoitecer do mesmo dia, Paulinho estava de volta para a mesma calçada que ocupara na noite anterior e mesmo sendo véspera de Natal, recostado na parede do prédio, como de hábito, ele escondia-se do frio e tentava decifrar as palavras cruzadas.
Tipico dessa época, a noite mostrava-se fria e enquanto com o canto dos olhos observava que havia menos moradores de rua dessa vez, também notou que, surpreendentemente, havia mais luzes acesas nas casas do que habitualmente, apesar do horário.
Ele olhou para o lado e viu que a senhora que estava deitada ao seu lado direito, parecia ter uma aparência muito velha e sofrida e ela, sentindo o olhar do menino, virou o rosto em sua direção e ficou a fitá-lo.
“A senhora está com fome?”; ele perguntou, pronunciando a palavra fome de maneira quase soletrada
Sem desviar o olhar, ele perguntou:
“O que você tem para comer?”
“Na verdade tenho muitas coisas, – Paulinho respondeu com o coração – mas, gostaria de oferecer-lhe pão com manteiga e mortadela”; disse ele com visivel orgulho de ter comido somente metade do sanduíche que ganhara, durante o dia, em um restaurante
A senhora, com cara de quem não comia há muito tempo, pareceu alegrar-se ao dizer:
“Oh! Mas, isto é fantástico!”
Fazendo o sorriso sumir subitamente, com expressão desconfiada, ela perguntou:
“Você já comeu?”
Paulinho não respondeu.
Gostava de ajudar, mas não de mentir então, limitou-se a desembrulhar o meio sanduíche e sorrindo estendeu-o para a faminta senhora, como se estivesse tentando convencê-la a aceitar.
Ela aceitou a gentil oferta e enquanto comia, entre ruidos de satisfação, com o canto dos olhos, observava o menino a preencher os quadrinhos da revista.
Sentindo-se observado, Paulinho desviou sua atenção da revista, virou a cabeça e os olhos de ambos se encontraram então, sem mover os lábios, ele ouvi-a dizer:
“Procure com o coração e você encontrara”
Sua voz soara diferente. Alta, bem timbrada, como se tivesse lembrado a maneira de falar das pessoas que não estão sempre famintas.
Confuso, após um momento, ele falou:
“Não entendi minha senhora”
Durante o momento em que falava, Paulinho não parou de olhar dentro dos olhos envelhecidos e então, viu a expressão da senhora tornar-se preocupada, cautelosa, cheia de suspeita.
“Não entendeu o que, menino?”
Erguendo o corpo ele falou:
“Aquilo que a senhora falou, sobre o coração, procurar e as outras coisas”
Um pensamento saltou dentro de sua mente:
“Estou sonhando novamente?”
A senhora de rosto faminto, com a voz retornando ao tom habitual de fraqueza, alteou as sobrancelhas e afirmou:
“Não faço a menor idéia do que você esta falando menino”
Paulinho, preferindo ignorar o fato, afastou os olhos e resolveu concentrar-se nas charadas numericas.
“Idade de Cristo”- dois números
“Esta minha mãe me ensinou. – 33”
“Número atual, divido em duas partes, que representam o ano de Cristo”- 4 números
“Meu pai era bom em matemática e eu também – 2009 – divido em duas partes = 20-09”
“Número que representa o mês em que se comemora o natal”; 2 digitos
“Sem comentários – pensou o menino – 12”
“Representação numérica que simboliza a Páscoa”- 1 digito
“Moleza – abril – 4”
Sentindo o torpor do sono, lentamente, muito lentamente se aproximando, Paulinho resolveu que já era tarde o suficiente e assim como os demais – como sempre, era o único que continuava acordado – resolveu ser hora de dormir e assim, a pensar, pensar e pensar sobre as palavras daquela senhora, que naquele momento não faziam sentido algum, adormeceu.
O raiar do novo dia, pareceu chegar antes que ele tivesse fechado os olhos.
A noite passara tão rápido que Paulinho tinha a impressão de nem ter dormido e ao erguer a cabeça para ver se estava todos já haviam ido embora, notou que desta vez a maioria dos moradores de rua ainda continuavam ali, conversando, andando ao redor, parecendo estar á espera de algo.
“Até que enfim, acordou menino”; disse-lhe uma voz que reconheceu como amiga
“Estava cansado ontem a noite e aquela senhora me tirou o sono”; respondeu ele para o rosto de traços gentis
A mesma voz, com tom de espanto, perguntou:
“Senhora? Que senhora?”
“Aquela que estava bem aqui, ao meu lado”; respondeu ele apontando com o dedo muito fino para o local vazio
“Ela já foi embora?”; complementou
Sacudindo a cabeça e fazendo com o timbre de voz formasse um tom de dúvida ainda maior, o homem de rosto bondoso falou:
“Menino. Eu estava ao seu lado e fui o último a dormir, com certeza, de tanta fome que sentia. Aqui, ontem á noite, não dormiu senhora nenhuma. Acho que você sonhou com isso, mas, deixe esqueça. Hoje é Natal e muito em breve as pessoas vão passar por aqui e vamos ganhar alguma coisa.”
Atônito, Paulinho balançou atônito e recordou a conversa enigmática.
Dessa vez tinha certeza absoluta que não fora apenas mais um de seus sonhos e para certificar-se disso, colocou a mão debaixo do travesseiro até tocar a calçada e constatou que seu meio sanduiche não estava mais lá.
“Que estanho, será que comi e não lembro?”; ele pensou a seguir
Ele sorriu, levantou e iniciou seu ritual: recolher as coisas, amarrá-las e sair a caminhar, como sempre, para lugar algum.
Tudo aquilo era muito confuso e dificil de entender para alguém de 12 anos.
“Meu pai costumava dizer: Esse menino tem memória de elefante. Informação recebida é informação guardada para sempre”.
Interrompendo o pensamento, ele apanhou seus pertences, ergueu os olhos, sorriu com firmeza para o homem que estivera a conversar, despediu-se e como sempre deixou que os pés guiassem seu caminho.
Ele não esquecera a conversa com a senhora.
Sempre fora muito bom de memória e assim, a caminhar, perdeu a noção de distância – nunca se afastava muito do ponto de onde dormia – e do tempo.
Alguma coisa extraordinária acontecera.
Ele tinha certeza disto, o problema era: O que realmente acontecera?
Sentindo-se sózinho, mais abandonado do que isolado, Paulinho enxergou um parque ao longe e assim como seus pais por muitas vezes fizeram, encaminhou-se para lá.
Dessa vez ele estava mostrando o caminho para os pés.
Chegou até um banco do parque e resignado com sua solidão, sentindo-se cansado e frágil, sentou-se com a cabeça a martelar sobre o acontecimento da última noite.
Ele notou um jornal sobre o banco, com data do dia e curioso, – nas lixeiras e praças sempre haviam jornais e revistas abandonados, mas invariavelmente muito velhos – ficou a folhear as páginas imaculadamente limpas.
Ele leu, leu e releu até sentir-se cansado.
Então, quando virou a penúltima página e enxergou a manchete, sentiu o corpo amolecer e se não estivesse sentado, provavelmente teria caído no chão.
“HOJE – O SORTEIO DO MAIOR PRÊMIO ACUMULADO NO ANO”
“APOSTE E TORNE-SE UM MILIONÁRIO.”
“AS APOSTAS ENCERRAM-SE ÁS 18.00 HORAS”
Com as mãos sobre as letras, como se estivesse se apoiando no jornal, Paulinho sentiu a mente explodir em milhões de faíscas luminosas.
“Ela pronunciou os números mágicos.”; gritou ele em plena praça, despertando o olhar de alguns passaros á sua volta que assustados, puseram-se a voar para uma distância mais segura daquele menino estranho que falava sozinho
Estreitando os lábios, ele voltou a ler a manchete e disse:
“Eu lembro os números – 33 / 20 / 09 / 12 / 4”
“Estou rico, milionário, MI-LI-O-NÁ-RIO”; berrou ele ainda mais alto, no parque vazio, observado pelos pássaros á cautelosa distância
Paulinho levou alguns minutos para recompor-se e imediatamente, parecendo ter recuperado a lucidez, lembrou:
“Mas eu não tenho dinheiro algum. Como vou apostar?”
“Tenho que dar um jeito”; falou, como se estivesse sussurando as palavras, aquietando a ansiedade
Decidido a não deixar passar a oportunidade, adotando uma expressão sorridente, abandonou o cobertor e o travesseiro sobre o banco do parque, jogou o jornal numa cesta de lixo e voltou ás ruas, em busca de pessoas que poderiam ajudá-lo.
E assim, coletando cinco centavos de um, dez de outro, um real de outra mão caridosa, e assim por diante, ele conseguiu reunir dinheiro suficiente para fazer a aposta e ganhar sózinho o grande prêmio.
“Senhor Paulo, posso servir-lhe um pouco mais de chá?”; perguntou a voz com som extremamente formal
Com o mesmo tom de elegância, Paulo respondeu:
“Um pouco mais tarde, Pedro, por favor”.
A voz infantil, com cortante inocência, interrompeu o diálogo:
“E você nunca mais passou fome papai?”
Paulo, voltou os olhos para o rosto do filho que batizara com o mesmo nome respondeu:
“Não meu filho, papai nunca mais passou fome e mandei construir uma centena de albergues na cidade para dar abrigos a todos os pobres e famintos”; respondeu Paulo – ou ex-Paulinho - para o filho, que batizara com o mesmo nome, sentado em seu colo, fascinado com a história da vida de seu pai
“Querido, é Natal, todos os anos você conta a mesma história para o Paulinho”; disse a voz carinhosa, em tom de falsa recriminação
“Meu amor – disse ele – quero que Paulinho herde não somente meu nome e nossa fortuna, mas também um coração bondoso.”; disse o ex-morador de rua, para a esposa elegantemente vestida para a ceia de Natal
“Então agora...Vamos abrir os presentes!”; disse ele para o filho, levantando-o nos braços e arrancando da esposa e do filho o maior de todos os sorrisos que já vira em toda a sua vida.
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