O sonho de viver sob o olhar da câmara e a luz do flash impulsiona uma quantidade enorme de garotas e, cada vez mais jovens, a colocar em risco a própria saúde para conseguir um “corpo ideal”, que, de ideal, está muito longe de ser.
Algumas profissões ligam esbelteza com realizações e a mídia é, sem sombra de dúvidas, a grande responsável por boa parte da tirania do corpo esquelético e não feminino - pois, o ideal feminino são as generosas curvas.
E por que há esta gana para ser uma ou igual a uma modelo?
A resposta está no dicionário, onde, modelo é objeto a ser reproduzido por imitação, aquilo que serve de exemplo ou norma.
E é esta norma de anti-beleza que tornou-se uma epidemia: cerca de 1,7 milhão de pessoas sofrem de anorexia no Brasil. São meninas a partir de 10 anos de idade que se recusam a comer e a beber com medo de engordar para se enquadrarem neste “corpo ideal” que atenta diretamente à saúde, cujo IMC (Índice de Massa Corporal), fica muito abaixo do “peso normal”, que é entre 19 e 24,9.
Para agravar o quadro, as disputas em concursos, cursos e agências, mexem com uma das piores inimigas destas adolescentes: a auto-estima e esta queda as leva para o divã, muito mesmo antes de atingirem a maior idade, devido à obsessão por magreza e ao medo mórbido de ganhar peso.
E, pior, tudo gira em torno do corpo e do peso tão somente: fazem pesagens excessivas, medições obsessivas de partes do corpo e uso persistente de um espelho para a verificação das áreas percebidas como "gordas", tais com coxas, barriga e nádegas.
A auto-estima delas depende exclusivamente de sua forma física e peso: a perda dele é vista como uma conquista incrível e como um sinal de extraordinária disciplina pessoal, ao passo que o ganho é percebido como um inaceitável fracasso do autocontrole, em outras palavras, é a ruína, a decadência de uma carreira e eu não estou exagerando.
Em cerca de um terço destas adolescentes com distúrbios alimentares ocorre abuso ou dependência de substâncias como álcool e/ou estimulantes na tentativa desesperada de controlar o apetite e o peso.
Estas meninas, quando com o IMC seriamente baixo, apresentam sintomas depressivos, tais como retraimento social, irritabilidade, insônia e interesse diminuído por sexo, além de amenorréia (ausência de menstruação), baixo rendimento intelectual, vulnerabilidade a infecções, queda de cabelo, quebra das unhas, amolecimento dos dentes, diminuição das características femininas, enfim, todo um quadro associado à desnutrição.
Dentro do quadro depressivo, pensamentos mórbidos assumem um novo significado, pois vale tudo para manter-se esbelta. Em outras palavras, o velho ditado “o quê não mata, engorda”, assume outro sentido, onde elas preferem “o quê mata”.
Querendo acabar com esta epidemia que assola o mundo inteiro, atitudes de entidades e do Governo Espanhol para que só desfilem modelos com IMC mínimo de 18 (recomendado pela OMS – Organização Mundial de Saúde) são louváveis, ainda mais que tudo gira em torno da “geração saúde” e, saúde é tudo o que estas modelos esqueléticas não têm, pois o IMC abaixo de 17,5 é indicativo de anorexia, isto é, que a modelo não está saudável, não está apta para trabalhar.
Um final fatal pode acontecer se esta obsessão não for corrigida a tempo, pois são observados diminuição do ritmo cardíaco e, algumas vezes, outras arritmias, queixas de intestino preso, dor abdominal, intolerância ao frio e letargia. Também pode haver queda significativa na pressão arterial, hipotermia e pele seca.
Em torno de 20% é o índice de mortalidade em conseqüência das alterações orgânicas e metabólicas secundárias à desnutrição na anorexia.
Dois exemplos mortais que podemos citar são: um, o caso da modelo uruguaia (Luisel Ramos), de 22 anos, que morreu, em agosto agora, de parada cardiorrespiratória, devido à queda de potássio no organismo, durante um desfile em Montevidéu, vítima de uma dieta transloucada para que seus “ossos”continuassem à vista. Segundo fontes, ela passou, pelo menos, 4 dias sem se alimentar. Dois, o caso da modelo brasileira (Ana Carolina Reston), de 21 anos, que morreu agora em novembro, de infecção generalizada devido à aneroxia.
Literalmente, elas morreram de fome.
E não é só a aneroxia que elas praticam, muitas enfaixam as barrigas com faixas bem apertadas para que não consigam comer o suficiente para se saciarem, entre dietas loucas, em suma, a perda de peso é obtida, principalmente, através da redução do consumo alimentar total, embora alguns pacientes possam começar "o regime" excluindo de sua dieta aquilo que percebem como sendo alimentos altamente calóricos.
De modo geral, a maioria dos pacientes termina com uma dieta muito restrita, por vezes limitada a apenas alguns poucos tipos de alimentos. Nos casos mais graves o paciente adota métodos adicionais de perda de peso, os quais incluem auto-indução de vômito (bulemia), uso indevido de laxantes ou diuréticos e prática de exercícios intensos ou excessivos.
As pessoas com este transtorno têm muito medo de ganhar peso ou ficar gordos e este medo geralmente não é aliviado pela perda de peso. Na verdade, esta preocupação é inversamente proporcional à perda deste.
Isto é um “modelo” a ser seguido?
E, uma coisa que muitas destas meninas se esquecem, é que modelo é uma mercadoria, ou melhor, um simples cabide para as roupas dos estilistas. Além do mais, é uma carreira efêmera, isto é, muito curta. O ideal é ter uma outra carreira profissional concomitantemente com a de modelo. O ideal é mente sã em um corpo são.
Um risco que elas estão correndo é de ter sua existência estreitamente limitada aos limites de seu próprio corpo tão somente.
Eu juro que já tentei de tudo, mas não consigo ver beleza em meninas excessivamente magras, com olheiras e cara de quem não dorme e nem come há, pelo menos, uma semana. Lembram do estilo “heroin-chic”? Pois é, para mim, isto é a marca da decadência e, não, do glamour.
Este padrão esquelético deve ser revisto e atitudes como a de Madri devem ser repetidas em todo mundo e em todos os desfiles. Chega de um padrão doentio no meio da geração saúde. Vamos refazer o padrão de beleza: um padrão estético saudável, pois, hoje em dia, a estética está cada vez mais distante da saúde.
Fontes para esta crônica :
http://www.psiqweb.med.br/anorexia.html
http://www.santalucia.com.br/endocrinologia/anorexia
Revista do Correio – Jornal Correio Braziliense de setembro de 2006
Terra – moda (http://moda.terra.com.br)
Correioweb (www.correioweb.com.br) – 19/11/2006
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Biografia: Simone Barbariz nasceu no Rio de Janeiro em 15 de setembro de 1977 e adotou Brasília desde novembro de 2002 e é escritora e agente cultural.
Seu primeiro concurso "Imagens de Um Líder", em 1995, rendeu-lhe a classificação entre os cinqüenta primeiros entre mais de três mil redações de todo nível médio (antigo 2° grau) dos colégios do Rio de Janeiro. Simone Barbariz era uma das representantes do Colégio Pedro II, tradicional colégio carioca onde estudou de 1989 a 1995.
Começou a escrever poemas em 1998, aos vinte anos, e teve sua poesia "Uma Lua, Dois Amores" selecionada, em 1999, para fazer parte do volume V da "Antologia de Novos Escritores" da Câmara Brasileira de Jovens Escritores. Em 2003, foi selecionada para integrar a antologia "Tempo de Poesia" da Editora Novas Letras e foi convidada a integrar a antologia, de um grupo que fazia parte, chamada "@teneu.poesi@" pela Editora Scortecci.
Ainda em 2003, foi convidada a recitar poesias na programação cultural da "Feira do Empreendedor", que se realizou na ExpoBrasília no Parque da Cidade. Também recitou poemas na "XXII Feria do Livro", num palco montado no térreo do Shopping Pátio Brasil e foi uma dos poetas convidados do projeto "Sextas Intenções" do Coletivo de Poetas, todas estas atividades em Brasília/DF.
Suas atividades como agente cultural começaram em julho de 2002, em parceria com o Sindicato de Escritores do Rio de Janeiro, onde organizou uma das atividades pela "Semana do Escritor": recital poético e noite de autógrafos com o poeta convidado Reynaldo Valinho Alvarez (Jaboti de Poesia em 1998 com o livro "Galope do Tempo"). E, em 2004, em parceria com a Biblioteca Demonstrativa de Brasília, organizava o sarau poético mensal chamado "POESIOTECA - Poesia na Biblioteca", que se realizava na terceira terça-feira de cada mês, na Sala de Multiusos da própria Biblioteca e tinha entrada franca.
Simone Barbariz escreve poemas, roteiros, peças teatrais, romances e crônicas, sendo estas últimas já publicadas em vários jornais pelo Brasil e em sites da internet. Tem uma coluna semanal no site de cultural "A Garganta da Serpente", onde escreve crônicas sobre política, esportes e, claro, cultura.
Simone Barbariz ainda não tem livro próprio e, segundo a autora, ela demora para lançar um porque quer algo de qualidade, diferente do que se vê no mercado editorial todos os dias. |