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A derrota de um país
Alex Dancini

Resumo:
O referido texto questiona até que ponto vale à pena torcer pela seleção brasileira de futebol.

A derrota de um país


Sábado. Era o primeiro dia do mês de julho, a cidade parou, o estado parou e o país parou. Todos pararam, pois se tratava de mais um jogo da copa do mundo da Alemanha, já não era apenas mais um jogo, e sim uma partida das quartas-de-final do maior evento do “mundo da bola”.
No Brasil, quase todos estavam ansiosos para o início da partida, as lojas fecharam mais cedo, também os supermercados, as farmácias, as indústrias, não mais se ouvia o barulho dos carros nas ruas, nem mesmo o andar das pessoas. Tudo parou, afinal os heróis brasileiros já estavam entrando em campo.
Nas casas, as pessoas preparavam mais uma rodada de pipoca, servida em um recipiente que trazia estampado a bandeira do Brasil, o patriotismo era evidente, pois todos estavam abraçados, cada um, com a bandeira do Brasil.
A seleção brasileira entra em campo, os jogadores posicionam-se para a execução do hino nacional brasileiro. No Brasil, de norte a sul, as pessoas ficam em pé, para juntas mostrarem seu patriotismo e no mesmo tom, “reproduzirem” o hino nacional. Na Alemanha, vinte e três jogadores brasileiros, todos milionários, colocam a mão sobre o coração e começam a cantar. No Brasil, cinqüenta milhões de miseráveis, (pessoas que vivem em situação de miséria, dados FGV) colocam a mão no coração e a outra no bolso, e mesmo sabendo que amanhã vai faltar comida na mesa, entoam juntos o hino nacional. Na Alemanha, os jogadores que reclamaram da rotina de concentração, mesmo estando concentrados no mais lindo “castelo” da Europa, começam a jogar de forma apática, lenta, sem motivação. No Brasil, os trabalhadores que não têm onde morar comem as unhas, puxam os cabelos, gritam, sofrem, uns deixam as lágrimas caírem por que o gol não sai. Na Alemanha, alguns jogadores entram para a história, ao quebrarem recordes mundiais. No Brasil, crianças entram para a história ao serem fotografadas ou filmadas, pois aos cinco anos de idade já estão segurando fuzis e metralhadoras, no entanto os meninos e meninas estão torcendo pelos heróis brasileiros. Na Alemanha, jogadores que ganham em torno de cem mil reais (R$100.000) por dia, estão jogando e defendendo um país. No Brasil, trabalhadores que ganham em torno de onze reais (R$ 11,00) por dia, estavam trabalhando e agora estão torcendo pelos “heróis de brinquedo”. Finalmente o jogo termina. O Brasil foi derrotado. Na Alemanha, os jogadores vão para o vestiário, tomam um bom banho, vestem-se com as grifes mais caras, pegam o ônibus mais moderno, escoltados pelos melhores policiais, e vão para o melhor castelo da Europa. No Brasil, o país derrotado, as pessoas choram, estão desconsoladas, tristes, ninguém acredita. Os heróis de brinquedo saíram da moda.
É, tudo vai voltar ao normal. O Brasil vai ser derrotado todos os dias pelas CPIs que não punem os corruptos espalhados por todo o Brasil, vai ser derrotado pela violência, vai ser derrotado pelo discurso do “Eu não sei de nada”, e por tantas outras atitudes que derrotam o Brasil a cada dia.
O Brasil joga todos os dias para tentar vencer esses adversários, porém quase ninguém se mobiliza para jogar junto, para realmente ser patriota. No final da história, infelizmente, somos tão individualistas como os próprios jogadores da seleção brasileira de futebol, que lutaram não por uma nação, mas para atingirem seus próprios recordes mundiais.

                         Alex de Novais Dancini


Biografia:
Acadêmico de Letras da Facauldade de Ciências e Letras de Campo Mourão (FECILCAM)
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