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A Mão que castiga
À moda antiga
Paulo Valença

Resumo:
A mão da mãe que bate na face do filho, castigando-o por maltratar a própria esposa e depois ele saindo, atraz de traficante de drogas.

- Senta aí.
Ele atende, ocupando o sofá. E espera. Os passos lentos, pesados da senhora grande avizinham-se. Baixa a cabeça, humilde, obediente.
A voz da mulher então cresce, contrariada, revelando-lhe o estado de espírito:
- Você não devia bater de novo na Maria.
Não retruca. O suor banha-lhe a testa larga, as faces morenas, o pescoço taurino, o peito largo dentro da farda marrom. As costas das mãos enormes ensopam-se, trêmulas.
- Você me prometeu que não mais bateria na sua mulher... e ela esteve aqui, toda marcada por seus-maltratos. Seu safado!
Achega-se. O braço grande ergue-se, a mão se abre e, com o dorso desta, aplica-lhe em movimentos rápidos, o castigo de atingir-lhe as faces, em tapas seguidas. E a voz mais gritada:
- Judiando da própria companheira. Não criei você pra ser covarde não. Cafajeste!
As faces queimam, ardem ante as tapas que as atingem, implacáveis. As lágrimas. A cabeça permanece arreada sobre o peito atlético.
- Agora pode ir embora. E não quero mais saber de queixas da Maria. Está me ouvindo, cabra safado?
Responde, com a voz baixa, humilhada:
- Estou mãe.
- Possa ir.
O gigante levanta-se e, sem fitar o rosto moreno-fechado defronte:
- Bênção, mãe.
- Deus te abençoe... E juízo!
Sobre o móvel colado à parede junto à porta de entrada estão o revólver e a boina preta. Então, pondo-a na cabeça, e a arma na cintura, cruza a porta e logo, a mãe ouve a zoada do carro partindo.
- Era só o que me faltava: criar um filho e não poder com ele! Cresça se case, mas tem de me obedecer.
Devagarzinho retira-se da sala e no corredor, que se comunica com a outra sala, de refeições, concluiu o desabafo:
- Sou mãe à moda antiga.
Silencia e adentrando na cozinha conjugada, acende o fogão. Cuidar do jantar.
Através da janela aberta, vê o céu enegrecendo, com a noite caindo. O vento chegando. Os latidos de um cachorro. E a música antiga numa das residências circunvizinhas.
À beira do fogão, prende a atenção à chaleira, que ferve o café.
No carro, o homem agigantado passa o lenço sobre os olhos, às faces ainda doloridas. Depois, pondo o lenço de volta ao bolso traseiro das calças, acelera, regressando ao quartel, pois como soldado, militar, vai receber as novas ordens do tenente que hoje, com um grupo seleto - no qual está incluído - irá dar uma “busca” no morro, em visita a casa do “Negrão canhoto”, perigoso chefe do tráfico da maconha e do craque. E esquece a cena de há poucos instantes, reentregado ao cotidiano onde os fracos não têm vez.
O veículo distancia-se na avenida ainda livre do “rush” de sempre ao início da noite.
- Hoje, o Negrão “come da banda podre!”.
Promete-se, assumindo a identidade que foi de repente quebrada pela mão do castigo.















Biografia:
Paulo Valença é autor paraibano premiado nacionalmente com seus livros de contos e romances; Pertence a várias Instituições Literárias; Consta de diversos sites; Vive em Recife/PE.
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