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A comunicação
Copyright© 2011 by Otaviano Maciel de Alencar Filho
otaviano maciel de alencar filho

A conversa girava em torno de assuntos diversos. Sentados cada qual na sua posição de trabalho, a equipe que trabalhava na manipulação de objetos postais, sem que prejudicasse o andamento dos trabalhos, sempre encontrava um “tempinho” para opinar sobre alguns temas do dia a dia. Alguém começou a falar em comunicação, lembrando que as cartas escritas estavam cada vez mais raras depois da expansão da internet, que permitia às pessoas um intercâmbio mais ágil.
O grupo formado contava com aproximadamente cinqüenta indivíduos, no entanto apenas os que se encontravam mais perto uns dos outros, cerca de cinco pessoas, participavam da discussão em questão. E eu estava neste grupo. Sem que qualquer um do grupo percebesse, o rumo da discussão tomou caminho diverso do estabelecido no inicio da conversa.
Não sei por que, mas a conversa foi ficando cada vez mais metafísica. Gostei da idéia! Afinal, sendo eu, espírita, era um bom momento para colocar em questão a comunicação com os espíritos. Dedução errada. Tema como este geralmente é tratado com desdém por aqueles que não têm conhecimento da Doutrina Espírita ou de alguma outra religião ou seita que não tenha esta crença. O que deveria ser uma rápida conversa em torno de um assunto comum a todos, tornou-se objeto de controvérsias, e consequentemente seria necessário um tempo maior para que se fizessem as devidas elucidações em torno da questão. Coincidência ou não, os objetos postais já haviam sido tratados e dessa forma arranjaríamos um “tempinho” a mais a nosso favor.
Os componentes do grupo em questão eram-mos de diferentes escolas religiosas/filosóficas. Eu espírita. Um evangélico, o outro católico. Um adventista do sétimo dia e o outro não soube ou não quis revelar sua posição religiosa. O evangélico, tomando a palavra disse:
- Isto de falar com os espíritos é coisa do diabo! A bíblia nos informa a respeito, no livro deuteronômio, que não devemos evocar os mortos, pois que quem se apresenta é o demônio!
Falando assim, quis encerrar a conversa. Porém, o amigo católico, vindo em defesa do argumento de que seria inútil tentar estabelecer um diálogo com os mortos, deu a sua contribuição na conversação:
- Um a vez no céu ou no inferno, é impossível tal coisa. Lembra o caso do rico e Lázaro, mencionado por Lc, cap. XVI, 19,31?
Os argumentos, baseados na bíblia, iam ficando cada vez mais consistentes e a conversa finalmente acabaria por ali mesmo. Certo? Errado!
O amigo que não definiu sua posição religiosa a tudo observava sem intervir, dando a vez para o adventista explanar o assunto sob sua ótica. Demonstrando cavalheirismo, deixou que eu manifestasse melhor o pensamento espírita acerca das duas passagens bíblicas citadas anteriormente. Falei, então:
- Caros amigos: interpretações diversas podem ser dadas em relação às duas citações. Primeiro é importante deixar claro que cada escola buscará elementos e não poupará esforços para provar, seja pela bíblia ou não, a veracidade de seus argumentos. Vejamos o caso de Moisés, que proibiu a evocação dos mortos. Pergunto aos amigos: porque proibir o que não é possível? Só é passível de proibição algo que exista. Esquecem o caso do rei Saul, que foi em busca da pitonisa de En-Dor, para ter com o espírito de Samuel, o profeta? Vamos ver o caso do mau rico e Lázaro. O mau rico pede a Abraão o envio de Lázaro até os seus familiares, para que lhes dê testemunho do que acontece com ele, para que não suceda que seus irmãos também passem a habitar o lugar de tormentos em que ele se encontra. Ora, mesmo sendo mau, o rico vivera na terra, sob a lei judaica, portanto deveria conhecer as escrituras e saber da possível impossibilidade de se comunicar com os encarnados. Agindo assim é porque sabia da possibilidade. Abraão nega. Afinal, se eles não davam ouvidos a Moisés e os profetas, muito menos dariam a algum dos mortos que ressuscitassem. Por que Abraão não o repreendeu dizendo que isso seria impossível?
Iria continuar com maiores explicações, quando notei que meu amigo adventista ansiava por falar. Então, imitando o gesto de cavalheirismo, que o mesmo havia usado em meu favor, cedi a palavra, não imaginando o que haveria por vir.
De caráter jocoso, mesmo sendo membro de uma escola religiosa tradicionalmente rígida nos preceitos morais, logo notei que o que ele queria mesmo era jogar um balde de água fria na discussão que parecia não acabar mais. Então começou:
-Conheci, tempos atrás, um senhor que dizia ouvir vozes que o incomodavam bastante! Sugeriram-lhe procurasse um padre para exorcizar o demônio. Assim foi feito, mas o problema persistia. Deveria procurar um pastor para que o mesmo fizesse algumas orações em seu favor, e o problema seria resolvido. Nada resolvido. Quem sabe se for tomar um banho de descarrego em um centro de umbanda, o caso não se resolveria? Lá se foi o senhor em busca de alívio para seus ouvidos. Não foi dessa vez, também. Ah! Agora sim! Vá a um centro espírita, só falta esse recurso. Novamente a busca da solução para seu problema foi infrutífera! Eis que um dia, padecendo de dores de dente teve de ir ao odontologista que, prontamente, diagnosticou o motivo das dores que ele sentia. Tratava-se de uma obturação muito antiga feita de amálgama, material composto de metais tais como: mercúrio, prata estanho, cobre e outras coisas mais. A obturação deveria ser substituída por uma outra, de preferência feita de resina, pois o dente ficava localizado na parte frontal, e, até mesmo por estética, era recomendável o referido procedimento. Dias depois, o senhor observou que as vozes que ele frequentemente ouvia, desapareceram.
Assim, concluindo sua dissertação sobre o assunto, meu amigo explicou que o que causava o fenômeno, era a sintonização que o material, que havia na obturação do dente do senhor, fazia com estações emissoras de rádio! Pode um negócio desses?! O amigo que não se identificou em nenhuma das religiões era técnico em eletrônica, e discordando do mesmo falou da impossibilidade de acontecimentos dessa natureza. Com essa tese a conversa acabou. Dias depois fiquei sabendo que o amigo adventista também era membro da sociedade teosófica, então entendi o porquê do balde de água fria jogado no assunto. Ou será que ele acreditava mesmo na tal possibilidade?
                                                                                                                       










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