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Mensagem de Aniversário
Jacqueline Salgado

Há alguns anos conheci um jovem com o qual firmei grande amizade. No princípio, achei aquela “figura” meio estranha, mas com o tempo, percebi que havia conhecido o “ser” mais intrigante e complexo que poderia existir. Resolvi, então, escrever um pouquinho, a fim de matar a saudade do meu grande amigo!
            O que tinha de mais bonito nele era que em tudo que ele fazia havia emoção. A racionalidade até tinha lugar adquirido, mas não era sua dominante. O sentimento era sua razão.Ele não racionalizava.        Exprimia-se. Queria ser como uma forma de estar. Queria provocar o reconhecimento. Teatralizava seu orgulho por si mesmo e seu nacionalismo assumido. Arrumava-se para festas, nunca para a guerra. Curtia com entusiasmo o maravilhamento de sua condição cotidiana de existência. Revelava-se como encantador de si mesmo. Possuía um nacionalismo dionisíaco e barroco, provocando a todos que o cercavam com sua vaidade extravagante, além disso, era possuidor de vasta beleza e bondade incomparável. Se alguém estava doente, lá estava ele para oferecer suas curas da terra, se alguém estava feliz, ele sorria junto, se houvesse a fome de alguém, ele ofertava alimentos retirados de suas próprias entranhas se fosse preciso. Em lugar algum no mundo havia alguém como ele, encantador como ele.
     As pessoas sempre me indagavam sobre qual era o meu relacionamento com essa “figura”, e eu, sobre os olhares invejosos de uns, os comentários maldosos de outros, respondia apenas que o admirava e seguia seus trilhos afim de conhecê-lo cada vez mais. Eram tempos difíceis, nós quase não podíamos falar o que pensávamos, nem sequer o que sentíamos.
     Foi nessa união, nessa cumplicidade, que descobri como pessoas tão próximas a ele o maltratavam sem qualquer motivo. Seu nome foi cada vez mais sendo ridicularizado, seu trabalho, colocado à prova. Nas manchetes dos jornais ele aparecia como ingênuo, como louco, como desregrado, como indigente, como belo, como esquecido. Tão esquecido e ao mesmo tempo tão falado. Resolvi ajudar meu amigo. Entramos de corpo e alma para a militância. Escrevemos nossas defesas, apagamos nossos desacatos, apressamos nossa
        mudança. Apanhamos juntos. Apagaram nossas defesas, reinventaram nossos desacatos. Mas a nossa mudança aconteceu. E todos usufruíram disso, até os que dele não gostavam.
     Meu amigo e eu seguimos com o orgulho de sempre, com a categoria de sempre. Ele, desembaraçado pela jornada conflitante e penosa, retomou a emoção. Teatralizou-se. Maravilhou-se. Encantou-se. Nacionalizou-se. Racionalizou pouco. Eu, cansada de lutar sozinha, me arrastei para um canto distante no mundo para ver seguir de longe a história. Há seis anos o enviei minha última mensagem:
     
               Querido amigo,
     Continue resistindo, você é forte e tem filhos que te amam.
     Parabéns pelos 500 anos.
     Volto em breve.


Biografia:
(Viçosa/MG, 1975) Graduada em Belas Artes pela Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG (2000), pós-graduada em História (2003). Jacqueline Lopes Salgado Soares, (Jacqueline Salgado) é escritora e artista plástica mineira conhecida pelos textos curtos e relatos autobiográficos, onde narra sua infância através de crônicas, contos e poemas. Autora dos livros infantis "A Menina, a Pedra e o Ribeirão" e "Presente de Aniversário", ambos pela editora UFV (Universidade Federal de Viçosa/2010)narram fatos reais de sua vida. Vive em Belo Horizonte, MG, desde agosto de 2008, onde matém uma biblioteca própria e coordena grupos de estudos litarários. Para contato visitem: www.agavetinha.blogspot.com
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