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Órbita Oráculo 2
Capítulo 2. Investigação
Guyoshi


05 de Fevereiro do Ano ☼҃£'' (1037); Galáxia Lucis, Sistema AOd44, 4ª Planeta, Ceres. 35 Anos Depois.


Sou um cara muito extremista. Não adianta tentarem mandar em mim, pois sou como uma fera indomável.
Não gosto de revelar minha identidade para ninguém, mas aqui eis uma exceção. Muitos me conhecem como Investigador X. Mas costumam me chamar somente de Hyde. A razão pela qual me chamam assim é a que nunca revelo minha identidade. Garanto que nem mesmo meus próprios pais a conhecem. Talvez deve ser pelo fato de que eles já estão mortos.
Não me julgue pelas coisas que faço. Já me diverti jogando roleta-russa com um lança-míssel. É claro que não foi exatamente da forma que você está pensando. Mas foi quase isso.
Poderia começar contando minha história e o que faço, mas logo isso estará evidente. Eu tenho uma Yoham 0X. Não conhece? Pois essa é uma das motos mais caras do planeta. Ela é também minha única paixão neste mundo. Pena que ultimamente não tenho muito tempo para ela. Mas sempre tenho uma exceção.

Estava em busca de uma pessoa. Havia viajado meio mundo para encontrá-la. Eu iria ganhar com isso, é claro, afinal tudo tem seu preço.
Minha Yoham estava bem suja, mas mesmo assim tava em estado perfeito para que eu viajasse nela. Capacete? Isso é para amadores. Não preciso me preocupar com a policia, porque ela passa tempo demais se preocupando comigo. Também não preciso me preocupar com os ladrões, pois eles sim têm muito a se preocupar.
Havia uma lanchonete próximo ao acostamento e resolvi passar por lá para beber algo. Estava realmente sedento.
Encostei minha moto a um canto e apertei meu cachecol ao meu pescoço. A porta era automática, então só precisei entrar e me dirigir ao balconista que parecia bater um bom papo com um velho bêbado.
Aquele lugar parecia mais um barzinho do que uma lanchonete, mas mesmo assim era agradável. Alguns vasos decoravam o local de ponta a ponta e espalhados pelo estabelecimento, haviam pessoas conversando alegremente, todas parecendo estar em viajem, o que obviamente era um fato, visto que aquela lanchonete ficava no meio do nada.
O balconista era o mais animado de todos ali presentes. Parecia estar se despedindo da sogra após ganhar a loteria.
Parei e olhei para ele esperando ser atendido. Para meu desgosto, o balconista não se moveu, então fui obrigado a pigarrear para anunciar minha presença. O balconista se virou e me olhou com o mesmo olhar que sempre olhavam para mim. Aquele olhar que diz “esse estrangeiro me parece folgado”.
– O que você quer? – perguntou o balconista.
– Hm, você por acaso não vende apimentadinha, vende? – perguntei analisando as garrafas na prateleira atrás do balcão.
– Vendemos sim – e o homem apressou-se a pegar uma garrafa cujo liquido interno era avermelhado e ao esfregar um pano em volta, a colocou em minha frente.
– O que aconteceu? – perguntou o balconista olhando da garrafa para mim – Foi traído pela mulher? Mandado embora?
Não pude deixar de notar uns dentes faltando na bocarra do cara, mas mesmo assim, respondi normalmente.
– Não, não. Só estou com sede.
– Ah – respondeu o balconista surpreso.
– Ahm… um minuto por favor – disse á ele pouco antes dele se virar para pegar uma taça – tem Everclear?
O balconista arregalou os olhos e se virou para apanhar outra garrafa, dessa vez com uma bebida transparente.
– Que surpresa! – eu disse – é difícil encontrar uma Everclear por aqui.
O balconista limpou a Everclear também com o mesmo pano e a colocou no balcão, em seguida colocando duas taças ao lado.
– Quer que eu te ajude? – perguntou o balconista gentilmente.
– Não precisa. Eu dou conta, obrigado – respondi deixando um pequeno saco de notas de 5 gibas acima da mesa (não lembro se o balconista se surpreendeu, só sei que nem se preocupou em devolver o troco) enquanto levava as garrafas e apenas uma das taças a uma mesa solitária perto de uma janela.
– Tem certeza que dá conta, senhor? – perguntou o balconista agora rindo para mim quando me sentei na cadeira.
Apenas fiz jóia com o dedo e abri a garrafa com um abridor em um pote já á mesa. Assim que despejei o conteúdo da apimentadinha no cálice, minha boca salivou. Sem hesitar, misturei a Everclear na taça e virei de uma vez. Ah, delicia, nada melhor que um bom gole misto das bebidas mais fortes do planeta. Eu realmente não ligo se ficarei bêbado, pois essa noite eu não trabalho. Só preciso me preocupar em beber tudo o que posso para não ter sede no caminho. E aos poucos fui virando a taça enquanto a garrafa ia se esvaziando até que decidi de vez virar tudo. Acabei me molhando, mas foi até bom, porque me refresquei muito. Quando levantei caí para o lado, mas me mantive em pé. Aliás quem foi o idiota que postara aquela cadeira ali na minha frente?
Quando olhei para frente notei que todos me olhavam como se eu fosse uma aberração. Mas e daí? E se eu fosse realmente uma aberração? Saí do bar aos tropeços e me dirigi á minha Yoham 0X.
A estrada acessava os estados de Jilowen e Nerkesh, no norte de Garrin. Sei que estava realmente longe de meu país natal, mas como já disse antes, estava atrás de alguém. E não seria essa noite que encontraria essa pessoa. Acelerei a moto, de vez em vez saindo da estrada (o que não era problemático levando em consideração que a estrada cruzava toda a área gramada de Jilowen) até que finalmente anoitecesse. Vi na encosta da estrada um motel e decidi que dormiria lá mesmo.
Estacionei minha Yoham em um canto escondido perto dos outros carros e me dirigi á entrada do motel. Um cartaz grande estava postado ao lado da instalação com os dizeres “Procura uma vida melhor? Alie-se aos Cidadãos da Luz”. Embora os dizeres fossem inúteis (eu pouco me interessava por aqueles cidadãos da luz) a foto era até interessante. Uma Luz vinha de um céu azul escuro e cessava a um chão esverdeado. As portas do motel estavam abertas e entrei me agasalhando logo em seguida. Ainda cambaleava um pouco, mas conseguia me manter em pé. É rara uma ocasião da qual bebo e fico bêbado. Normalmente saio ileso mesmo após os maiores goles. Mas admito que com mais uma apimentadinha, eu cairia ali mesmo. Estava exausto.
– Um quarto por favor! – disse a um cara negro de terno.
– Senhor, sou o segurança. Fale com o atendente – respondeu-me o homem.
Outro balconista, pensei. O segurança havia apontado para um balcão de onde um homem loiro tirava sujeira do nariz.
– Aí, amigo. Quero um quarto – pedi aos tropeços.
O atendente apressou-se a limpar a mão e me olhou dos pés a cabeça com aquele mesmo olhar do balconista da lanchonete e perguntou:
– E sua acompanhante?
– Acompanhante? Preciso de uma é?
O atendente se abaixou e retirou um papel de uma das gavetas mais baixas.
– Aqui.
E me entregou o papel. Estava tudo embaralhado e eu não conseguia ler. Apenas assenti.
– Certo, então – disse enquanto me virava para sair do motel quando avistei a minha solução. No outro lado da estrada, havia uma mulher com shortzinhos curtos e uma camisola. Provavelmente estava esperando algum cara chegar e de carro e levá-la ao tão próximo estabelecimento do qual eu acabara de sair.
– Ei, você – chamei e ela me olhou com um sorriso nos lábios – venha cá.
Ela atravessou a estrada sem olhar para os lados e se aproximou de mim.
– O que foi gatão? – perguntou.
Essa seria uma garota muito bonita se não fosse a sua maquiagem borrada e a sua expressão vazia.
– Ta afim de entrar no motel acompanhada? – perguntei.
– Claro… – respondeu, os lábios próximos ao meu ouvido – se você tiver umas boas notas – acrescentou.
– Eu realmente poderia pensar nisso – e olhei novamente ao rosto da garota – mas como você é um tanto… é… um tanto… nada feia, eu acho que aceito. Quanto quer?
– Quanto puder me dar, garanhão.
– Ótimo – disse satisfeito e lhe entreguei uma nota de 100 gibas – pagamento adiantado. Agora vamos.
E acompanhado da garota, entrei no motel.
– Pronto, estou acompanhado, posso subir? – perguntei ao atendente que dessa vez olhou de mim á mulher que me acompanhava e ergueu uma das sobrancelhas.
– De novo Jaque? – perguntou o atendente.
A mulher sorriu e me abraçou.
– Certo então – finalizou o atendente – Ficará 150 a noite.
Assenti e lhe entreguei as minhas ultimas notas da carteira. O atendente me entregou um papel indicando o meu quarto e eu bocejei antes de entrar pela porta e procurar pelo meu quarto.
– Sabe alguns truques, meu homem? – perguntou a mulher.
– Ahm… acho que não tenho nenhum fora das mangas nesse momento.
E continuei prosseguindo procurando pelo quarto. Acabei passando por um quarto cuja porta estava aberta e pude ver toda a festa que rolava lá dentro. Se é que havia alguma festa, só via cobertores por todo o quarto.
– Pois eu sei muitos – respondeu a mulher, melosa.
Estava impaciente. Que mulher chata! Quando finalmente cheguei no quarto de numero 233. Com a chave que o atendente me deu, abri a porta e parei diante daquela mulher.
– Eu me lembrei de um truque – disse.
– Sério? – perguntou com um sorrisinho sensual horripilante para mim – Qual?
– Abracadabra, dentes de serpente, vou desaparecer, bem na sua frente – e bati a porta o mais forte que pude, lhe trancando logo em seguida.
– Ei – gritou a mulher do lado de fora do quarto – você não quer me usar?
– Eu já te usei para que pudesse dormir em paz. Agora procura outro homem, porque esse aqui não está afim de aprender novos truques.
Ouvi então os passos apressados da mulher quando os som se abafaram ao final do corredor. Estava sozinho no quarto, e finalmente poderia dormir em paz. Quando deitei na cama, não deu nem um minuto e caí em sono profundo.
O mais estranho dessa noite era que quando fui dormir, estava debaixo das cobertas, já quando acordei, me encontrava debaixo da cama.
O sol marejava meus olhos. Acordei, arrumei minhas coisas e fui ao banheiro do estabelecimento e retirei a foto do meu bolso. Era ele… ele quem eu procurava. Quem olhasse para aquela foto não viria nada de incomum, mas era exatamente daquele jeito que eu preferia: um homem de trajes caseiros, com um sorriso no rosto ao lado de uma mulher morena muito bonita. Porém a foto era enganosa, pois quando passava o dedo sobre a foto, podia retirar alguns detalhes dela como um nariz falso, sobrancelhas menores e olhos castanhos. O homem em questão não possuía nada disso. Seus olhos eram verdes, suas sobrancelhas eram enormes e seu nariz um tanto batatudo. Bom, era complicado de colar aquela sobrancelha, nariz e olhos falsos, mas eu sempre arrumava um jeito. Além disso, utilizei alguns programas de computador para adicionar a paisagem e a garota ao lado do homem. Afinal, ele era um procurado da justiça e jamais estaria sorrindo assim ao lado de uma jovem em uma foto tão recente quanto aquela. Logo abaixo, na parte inferior da fotografia, havia seu nome: Benjamin Carnudo. Era sim um nome muito estranho, mas com aquelas duas pistas, pude chegar até Nerkesh, o estado de onde eu tinha certeza que iria encontrar o tal Carnudo.
Saí logo mais daquele estabelecimento e vi a mulher que na noite passada me enchera o saco, deitada na beira da estrada, provavelmente esperando outro alguém passar por ali.
Minha Yoham estava ali, do jeito que havia deixado, no estacionamento ao lado de outros carros. Removi sua trava ligada ao alarme, e a montei. Do meu bolso, retirei meus óculos escuros e assim que os coloquei, acelerei e lancei uma grande cortina de fumaça para trás sem me importar se havia alguém vendo.
O céu estava claro e ensolarado e pela posição do sol, pareciam ser quase uma hora da tarde. De acordo com meus cálculos, que normalmente nunca estão certos, chegaria em mais ou menos duas horas em Lumpige, capital do estado de Nerkesh, e onde Benjamin Carnudo se escondia.
Tive de passarem um posto de gasolina durante a viagem, pois estava quase sem combustível. Pedi ao frentista dois salgadinhos e ele me trouxe gentilmente duas embalagens de salgadinhos sabor salsa e cebola.
– É… quanto vai custar a gasolina e os salgadinhos? – perguntei ao frentista.
– Olha, esses salgadinhos não tem preço exatamente – falou, a palha na boca mexendo a cada palavra – mas creio que possa ficar lá pros 20 gibas.
– Ótimo – respondi enquanto o frentista retirava o cano da entrada do combustível de minha Yoham.
– Vai querer mais alguma coisa? – perguntou calmamente o frentista.
– Não, acho que assim está bom – respondi novamente pegando meus salgadinhos e os atirando na minha mochila jeans – Te pago na volta, amigo.
E acelerei a Yoham enquanto a empinava velozmente pela estrada. Pelo retrovisor pude ver o frentista correndo atrás de minha moto praguejando, mas nada podia fazer agora. Sou um cara honesto, sempre cubro minhas dividas. Só estou acrescentando algumas na conta. Talvez um dia eu veja o frentista novamente e possamos acertar as nossas contas.
O sol estava se pondo quando cheguei á cidade de Lumpige e observei um pequeno relógio anunciando a sexta hora da tarde.
A cidade aos poucos ia marcando espaço e eu podia ver cada vez mais casas e conjuntos, prédios e shoppings, lanchonetes e outras instalações diversas. Foi uma longa viagem e ela agora estava no fim. Precisava agora de apenas mais uma informação.
Segui direto para a Central de Dados da cidade, uma sede branca circulada por um jardim e uma fonte contendo uma grande estátua de um arqueiro e guerreiro armado.
Quando entrei no local, tirei meu cartão de dados do bolso e lhe coloquei em uma das máquinas encostadas á parede. Precisava me prevenir, pois o segurança estava bem próximo de mim, então pareci apenas pesquisar algo normalmente.
E após alguns minutos pesquisando, cheguei finalmente a uma conclusão. Ele havia encontrado Benjamin.

Charlie Buckbard = Na cidade desde 7 dias atrás
Sexo = Masculino |   Idade = 38 Anos
Endereço = Rua Arck Giulio, Nº D9
Mora = Sozinho
Visitante = Nunca
Morador = Sim
Trabalha = Bazar Calendário
Qualidade e Retorno Financeiro = Não definido/Bem sucedido.
Veiculo = Não Definido/Novo, a ser Registrado
Notas = Nenhuma

Quando saiu da Central de Dados, quase pesou em esquecer seu Cartão de Dados e rapidamente com sua Yoham, partiu para a Rua Arck Giulio no número D9.
Assim que chegou, estacionou sua moto ao lado da janela e bateu á porta.
– Serviço de Quarto! – eu disse. Uma idéia tosca, mas o suficiente para que me anunciasse.
Só me restava entrar escondido. Se Benjamin não estivesse lá, restava apenas eu esperar. Se ele estivesse… era só desarmá-lo.
Quando entrei me surpreendi com o luxo da casa que por ter sido comprada á sete dias, parecia ser de alguém muito importante.
As cortinas rosadas cobriam a janela e uma espada estava pendurada entre duas cabeças de alce empalhadas pendidas na parede. Eu nunca havia visto uma daquelas cabeças de perto e me senti com obrigação de analisá-las com mais cuidado.
– Quem é você? – perguntou uma voz atrás de mim.
Quando me virei lá estava ele. Benjamin Carnudo, mais barbudo, cabeludo e com sobrancelhas ainda mais grossas. Porém os olhos verdes e o nariz batatudo eram os mesmos.
– Ninguém. Estou apenas admirando as suas… cabeças de alce.
Benjamin parecia desconfortável e logo retirou um revólver do bolso.
– Melhor cair fora do meu caminho, moleque! – tossiu Benjamin enquanto apontava a arma para mim.
– Estou apavorado, admito. Mas preferiria muito mais que você caísse pra cima no mão-a-mão mesmo, não acha melhor?
Mas Carnudo não estava para conversar, quando vi que estava prestes a apertar o gatilho, me abaixei e o tiro atravessou a parede ás minhas costas. Levantei-me o mais rápido que pude e apanhei a espada presa entre as cabeças de alces, uma delas caiu ao meu lado.
Benjamin atirou novamente, mas dessa vez me escondi atrás do sofá e fiquei lá até que eu pudesse vê-lo se aproximando e atirei um sapato velho que encontrei ao chão na direção dele. Seu revólver voou e foi o momento certo para que eu corresse em sua direção e encostasse minha espada em seu pescoço.
– Finalmente te achei Benjamin Carnudo.
Benjamin havia parado. Parecia surpreso e ao mesmo tempo, nervoso.
– Sente-se, vamos conversar – eu disse, ainda apontando a espada ao homem.
– Como… como me encontrou? – perguntou Benjamin caído ao chão quando puxei minha espada de perto de seu pescoço e a atirei ao chão.
– Não foi difícil. Você deixa muitos rastros enquanto anda. Quando fugiu de Herber, planejou mudar de nome e usar o de um homem que pegaria o mesmo vôo que o seu, Hagely Jhowport, porém acompanhado de sua mulher Hebe Cardar. A garota que levou no avião realmente parecia muito com a verdadeira Hebe Cardar, até trabalhavam na mesma empresa, porém em seções diferentes. Porém a sua falha foi em deixar escapar um único rastro – e retirei uma moeda do bolso – o giba, utilizado muito na região norte do planeta, foi com ele que você pagou a passagem do avião, e tanto Hagely quanto Hebe iam para Bianco, no sul. A partir de que descobri que Hagely havia de ultima hora mudado seu destino para o norte, resolvi investigar mais esse lado. Então descobri que as famílias de Hagely e de Hebe não conseguiam se comunicar com eles e que provavelmente seus celulares estavam desligados. Nessa hora, vocês já deviam ter ordenado o velho Ghow para avisar Hagely e Hebe que o vôo deles havia sido cancelado, e que para a segurança deles, eles deveriam viajar para o norte. Admito que foi um ótimo plano de evasão, tentar levá-los também ao norte, evitando sequestrá-los ou causar-lhes qualquer mal, sem com que houvessem suspeitas. Acontece que você pediu á Ghow para que ele avisasse á Hebe e Hagely que desligassem os celulares e que só religassem ao chegarem no aeroporto. No caminho, seus celulares foram roubados, sim, por Ghow, e este ao invés de dar fim, levou-os consigo. A partir daí, eu só sabia que você havia fugido do país, apenas suspeitava de que se disfarçava usando os nomes de Hagely e Hebe. Foi quando decidi verificar todos os passageiros dos vôos que se sucederam nas 24 horas anteriores e posteriores ao vôo pelo qual você pegou. E neles, vi Hebe e Hagely. Seria impossível eles pegarem dois vôos seguidos, sendo assim, eu já tinha certeza de quem você estava disfarçado e para onde iria. O vôo que pegou, realmente ia para Bianco ao Sul, porém através daquelas moedas, as quais verifiquei com a fiscal, percebi que vocês planejavam ir para o norte, afinal, Hebe e Hagely nunca tinham ido ao norte. E seu plano de levá-los para o norte, para tentar encobrir a sua viagem também fracassou, pois o velho Ghow largou os chips dos celulares de Hebe e Hagely numa avenida qualquer e estes foram encontrados por um homem que se atrasava para uma entrevista. Liguei para o numero de Hebe e foi ele quem atendeu. Daí tinha uma pista de onde os chips foram jogados, sendo assim, só precisei seguir meu instinto e descobrir onde Ghow se escondia naquela cidade. E não demorei a descobrir. O cara jogava sinuca em um dos bares da cidade e assim que lhe encontrei, lhe ofereci uma apimentadinha e ele aceitou em minha primeira oferta. Bêbado, pude lhe confiscar o RG e rapidamente pesquisei em meu notebook se ele lhe conhecia, Benjamin. E as respostas foram claras: vocês trabalharam juntos. Agora sim eu tinha uma prova de que Ghow tinha alguma relação com você, mas ainda assim não queria o envolvimento da policia, afinal ela só sabe tirar os nós nos meus cadarços. Fui perguntando para Ghow sobre o que ele acha dos locais mais conhecidos do norte do planeta e ele foi me respondendo um a um. Ghow nunca teve dinheiro o suficiente para sair de casa, isso, quero dizer, sem a sua ajuda. Quando descobri que Ghow já havia visitado Gastarob em Jilowen, pude deduzir que você havia passado por lá. Afinal, se Ghow não tinha dinheiro para nem sequer sair de seu próprio estado, como teria dinheiro para visitar uma cidade tão distante e pequena como aquela? Por que não fora para uma cidade maior, ou mais urbanizada, onde pudesse trabalhar e ganhar seu próprio dinheiro? É claro que ainda tinha duvidas, afinal Ghow pode ter ido viajar tanto com a empresa quanto com algum amigo, mas minhas pesquisas me provaram que Ghow só havia saído do pais uma vez com um tal de Felipe Kesh. Mas na verdade, esse Felipe Kesh, o nome de disfarce pelo qual você usava na época, não possuía certidão de nascimento, então só poderia ser você esse tal de Felipe, pelo menos em minhas conclusões. Certamente deduzi que você pagou a viajem de Ghow para Gastarob para que lhe mostrasse algo. Seria o local de onde está escondendo as armas? Quando visitei a cidade de Gastarob, procurei por indícios de que você houvesse passado por lá, mas não encontrei muita coisa, afinal a cidade é realmente muito pequena. Só tive uma escolha: visitar o aeroporto pelo qual vocês desembarcaram em Bianco, e analisar seus passos desde lá. E foi realmente a escolha certa, afinal pude ver que quando chegou, já possuía outro nome, um tal de Oscar Figueiredo. O estranho é que esse Oscar não havia entrado no avião, muito pelo contrário, ele havia perdido o vôo. E como você, de dentro do avião poderia saber que esse Oscar estava ausente? Claro, com a ajuda de alguém do avião, com melhores dizeres, uma aeromoça. Foi fácil encontrar Sheila Clifford, o difícil mesmo foi fazê-la revelar para onde você foi e por que lhe ajudou em seu plano. Quando consegui a fazer falar, ela me revelou que você havia lhe ameaçado de morte e que estava acompanhado de Suzanne Glaver, uma ex-cantora, e era ela que lhe acompanhava com o nome de Hebe, certo? Foi o suficiente. Pesquisei sobre essa Suzanne e descobri que algum tempo depois ela havia se envolvido com pessoas erradas e planejava fugir do país. E por coincidência, havia ligado para o celular de Ghow pouco antes do vôo para verificar que estava tudo certo. Agora que sabia que Suzanne se passava por Hebe, apenas segui as pistas que mostraram a mim que Suzanne possuía uma vida infeliz e tudo que ela sonhou era ser conhecida mundialmente. Claro que você, sendo quem é, não iria querer ser namorado de uma cantora conhecida mundialmente, não? Alguns dias depois descobri que Suzanne havia sido encontrada morta numa estrada ao norte de Jilowen. Ótimo, aquela estrada só acessava uma cidade: Lumpige, capital de Nerkesh, e um ótimo local para se esconder. Ainda tinha suspeitas, por isso segui a estrada até aqui e pesquisei a lista de novos moradores da cidade. Dos 112 novos moradores, 50 nunca haviam vindo para a cidade; dos 50, 37 estavam bem da vida, com dinheiro o suficiente para se manter aqui; dos 37, 8 vieram sozinhos morar aqui; dos 8, 3 eram homens e dos 3 apenas um possuía um veiculo novo, ou melhor, novo por aqui. Roubado, talvez? Por coincidência, o veiculo é muito semelhante ao de um morador de Gastarob que havia sido roubado dois dias antes, o dia em que Suzanne foi morta. E para poder matar aquela cantora Suzanne você precisava de um carro, um que não fosse seu, um roubado. Bom, enfim pesquisei sobre esse tal de Charlie Buckbard e lhe encontrei Carnudo.
Benjamin parecia pasmo. Não parara de me encarar momento algum.
– Você… você é louco – disse á mim se levantando.
– Já me disseram isso umas trocentas vezes, mas ainda não me convenci.
– Pena que foi tudo em vão – continuou retirando um revólver do bolso – sempre carrego um reserva para ocasiões como essa. E agora que estamos sozinhos, não há como escapar.
Que idiota, pensei, será que ele ainda não havia percebido?
– Ops! – exclamei deixando algo cair ao chão. Era meu gravador, e assim que caiu ao chão, pereceu desligar.
– O que você… – mas não conseguiu dizer mais nada. Benjamin fitou o gravador incrédulo – Quem estava ouvindo nossa conversa? QUEM ESTAVA?
– Meu trabalho está feito. Fim de Jogo, amigo – disse no momento em que Benjamin atirou, errando o tiro por alguns centímetros – Opa… me esqueci de fugir.
E sem demorar, derrubei a mesa sobre ele e corri para a porta, de onde simplesmente retirei minha valiosa Chave Mestra e lhe tranquei lá dentro.
Não demorou muito para que a policia chegasse e adentrasse o local arrombando a porta. Nesse momento a única coisa que pude fazer foi me atirar pela janela e fugir enquanto os policiais entravam na casa. Alguns tiros voaram na minha direção quando montei minha Yoham e acelerei. Minha investigação nesse caso estava concluída.


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