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Projeto político pedagógico - sobre o hoje o e o amanhã.
Projeto Político Pedagógico: Por uma escola construida coletivamente
ELIANA FONSECA

Resumo:
A organização coletiva do PPP pode garantir a construção de um conhecimento baseado na coletividade, no comprometimento com a comunidade.

Projeto Político Pedagógico: Por uma escola construida coletivamente
                    Eliana da Fonseca
1 Sobre o hoje e o amanhã

‘A melhor maneira que a gente tem de fazer possível amanhã alguma coisa que não é possível de ser feita hoje, é fazer hoje aquilo que hoje pode ser feito. Mas se eu não fizer hoje o que hoje pode ser feito e tentar fazer hoje o que hoje não pode ser feito, dificilmente eu faço amanhã o que hoje também não pude fazer’.
                    Paulo Freire
     Desde que fui convidada a escrever sobre minha experiência na construção do Projeto Político Pedagógico de escolas particulares e públicas confesso que, inicialmente fiquei motivada como uma criança que vê o primeiro brinquedo e sente-se atraída pelo que pode vir a fazer com ele. Lembrei das bonecas de pano que vovó Felicia confeccionava com delicadeza e perfeição. Cada natal ganhávamos uma diferente. Eu ficava feliz, mas o que eu queria mesmo era a boneca de borracha, quase humanaa que as colegas da escola ganhavam de seus pais. Naquele tempo não sabia o valor de cada ponto costurado com tanto amor, nos pedaços de tecido que sobravam das costuras que ela fazia para suas clientes.
     Posteriormente a esse pensamento ‘infantil’, um temor apossou-se de mim porque o ‘pensamento pensante’ indagou-me sobre o que os educador@s, ao lerem o que eu havia escrito, poderiam criticar e/ou ‘apreender” a cerca de suas vidas nas escolas em que trabalham. Meu pensamento ingênuo, preocupado com as críticas dos ‘mestres e doutores’ impediu-me de escrever por duas semanas inteiras.
     Reconhecendo que a prática necessita da teoria e vice-versa debrucei-me em livros sobre o tema (Veiga:1995, Padilha:2005, Hack e Porto:2001, Resende e Veiga:1998, Pimenta:1992) e, ao lê-los notei que as experiências pelas quais passei eram importantes e significativas, não como receitas prontas, mas como uma experiência que poderia ‘sulear’ as práticas pedagógicas de outros colegas de magistério. A inicial ingenuidade e desesperança foi ocultada e uma necessidade de ‘aventura desveladora’ e reveladora permeou meu desejo, ocultado e influenciado pelo discurso pragmático e fatalista.
     Por esses motivos dialoguei com Paulo Freire e, entre palavras e esperanças iniciei o texto com a citação do educador, pois ao reencontrá-la, entre os alfarrápios guardados na estante da sala, um reflexo do que fiz e aprendi ontem, revelou-se e, o hoje revelado, desnudado de superficialidades transfigurou minha professoralidade e eu, mulher, impulsionadora da professora-pesquisadora-esperançosa em mim começou a digitar frases vividas em práticas pedagógicas que erigiram a docente que sou hoje.
     Frente às alegrias e aos riscos em conduzir-me a produção e às críticas vindouras dos especialistas em educação peço licença aos leitores para iniciar escrevendo sobre a importância do ato pedagógico.

2 Importância do ato pedagógico
     Desde que “sai” da escola particular, espaço em que trabalhei efetivamente, durante vinte e dois anos em sala de aula, venho sendo inquirida, por um grande número de amigos e amigas, que como eu, compromissados com a educação, a escrever sobre a prática pedagógica, principalmente no que se refere às atividades-teórico-práticas que desenvolvia naturalmente e,que chamavam a atenção da comunidade educativa, muitas vezes sem que eu soubesse.
     Passados quatro anos, resolvi, pelo menos parcialmente, escrever sobre o que vivemos pedagogicamente, dentro e fora daquele colégio centenário. Perguntava-me o que tinha realizado de mais significativo e o que poderia ter marcado minha história e a história das centenas de alunos dos quais fui responsável nas mais de duas décadas de magistério.
     Ultimamente tenho sido convidada por escolas públicas e particulares a proferir palestras a cerca do ato pedagógico alicerçado pelo PPP. Á medida que fui pensando e escrevendo revi, em insight neuronais os “momentos mágicos” e as experiências de ensino e aprendizagem, com os diferentes aprendizes e aprendizas que estiveram presentes em minha vida profisional.
     Momentos mágicos, não só porque inesquecíveis, mas, principalmente porque singulares, únicos. Parece fundamental ao falar sobre a importância do ato pedagógico também relatar sobre o estar ensimesmada e, ao mesmo tempo, consubstanciada, invisivelmente, com os seres que fizeram parte de meu fazer pedagógico.
     O em-si-mesma-mento causado pela efetiva reflexão a cerca da docência que exercia cotidianamente e, consubstanciada porque envolvida na crença do paradigma holomônico, e em uma busca frenética na restauração da totalidade dos sujeitos dos quais eu estava comprometida.   Acreditava (e ainda acredito) que o sonho, o imaginário (Gilbert Durand, Cornelius Castoriadis), o desejo, a paixão, o escutar o outro e, principalmente, o respeito às individualidades e, a visão de que a história é essencialmente possibilidade, poderiam transformar o ato pedagógico.
Re-fletindo e re-lembrando os rostinhos de meninos e meninas, adolescentes com “sorrisos rebeldes”, olhares ainda crianças e quase adultos, abertos e fechados às propostas iam aparecendo e desaparecendo em percepções automáticas, provocadas pelas lembranças de minha mente e, permeando meu coração com sensações tão profundas que aromatizaram meu corpo de saudade.
     Ao mesmo tempo, um processo epistemológico, em sinergia com a emoção sentida e as histórias vividas em minha infância, adolescência e, principalmente, na fase adulta, onde comecei a experimentar a docência, decodificando sinais que até então, sem esse ‘pensar pensante’ e, sem esse sentimento de amorosidade grandiosa, não havia experimentado. Esse processo subjetivo, objetivo e intersubjetivo envolveu um entendimento crítico do fazer pedagógico que só pode ser compreendido se for precedido de contextualização com os momentos experimentados na realização docente.
     A complexidade dos fatos, a contextualização da realidade precede a compreensão do ato pedagógico. A posterior compreensão deste não pode se dar antes da observação crítica daquele. Complexidade, contextualização da realidade e ato pedagógico estão imbricados, conectados, em rede dinâmica, em processo evolutivo, ora em ascendência, ora em descendência contínua, em movimento espiral, onde há um começo, mas há também uma abertura infinita que caracteriza o ato pedagógico como atitude que se processa em dinamicidade com quem realiza a ação pedagógica.
     Ao digitar letra por letra, palavras e frases revendo a docência vivida em diferentes momentos históricos fui construindo e re-construindo o fazer pedagógico que alicerçou minha existência no magistério.
Lembrei de vovó Durçulina que metodicamente contava as mais belas histórias para nós, os dez netos organizados em roda para ouví-la e admirá-la em sua sabedoria. Como a presença dela foi significativa para todos nós!
Nosso mundo infantil era magicamente envolvido pela imaginação e pelo desejo de saber mais, de buscar, de não se conformar com o que era instituído. Ela sempre mostrava a importância da escola, e, por conseguinte, do conhecimento em nossas vidas. Naqueles momentos em que nos reunia e contava suas histórias, com fundo moral e ético, talvez ela não soubesse, mas estava construindo nosso caráter e nossa maneira de estar no mundo, com nós mesmos e, principalmente, na nossa relação com os outros.
     O mundo em que vivia restringia-se a um pátio com vários tipos de árvores: bambuzais onde brincávamos de esconder; nas goiabeiras, nos troncos limpos e lisos, éramos trapezistas; o galpão que protegia o caminhão da chuva e onde papai guardava as espigas de milho, colhidas no sítio do vovô, que deveriam ser debulhados e vendidos; o galinheiro das caipiras e a horta em que mamãe colhia os vegetais para nossa alimentação. Havia também o lugar da vaquinha que sempre nos dava o leite matinal.
     Papai construiu para nós uma casa de seis cômodos. Os quatro irmãos dormiam em um quarto; dividiam as camas de solteiro, mas sempre sobrava uma já que meu irmão mais velho estava sempre a serviço do exército. Os outros três ajudavam meu pais no sítio da família e nos fretes com o caminhão. Nós, as mulheres dormíamos ao lado do quarto de papai e mamãe. Eles tinham muito “cuidado” com as seis mulheres da casa. Havia três camas e dormíamos juntos, na maioria das vezes abraçadas, o calor humano de uma para a outra determinou nosso respeito e carinho com todas as pessoas que encontramos em nossas vidas. Ensinou também que cada um é único, diferente e, por isso mesmo, importante no seu estar no mundo.
Revisitando o ontem, um pretérito intensamente vivido, alicerçado no cotidiano da família e incentivado, motivado por um querer imanente e pelas condições sócio-econômicas em que vivia tento, ao escrever sobre o ato pedagógico presente, também escrever sobre a educação crítica em mim, contestadora dos rumos capitalistas, das injustiças sociais, uma educação superadora dos limites impostos pelo Estado e pelo mercado, uma educação que vai além da hipocrisia dos “chefes” de estado que impõem a transmissão cultural defendendo seus interesses e descaracterizando publicamente as pessoas que hierarquicamente estão abaixo de seu status social; uma educação exercida e refletida na práxis, uma pedagogia transformadora que pode oferecer, ou propor um referencial mais seguro neste momento de perplexidade.
As bonecas de pano que ganhávamos da Vovó Felícia que representavam a construção da esperança de um mundo melhor para todos nós e, das histórias contadas por vovó Durculina, (fomos) fui edificando meu fazer pedagógico alicerçado em outra palavra, que permeia todo meu ser, “promessa” era palavra sequer pronunciada, mas “sentida” afetivamente por todos nós. São essas duas palavras, “esperança”, literalmente freireana e “promessa” que podem basilar o ato pedagógico. Assim, ambas, esperança e promessa, naturalmente anexadas ao exercício docente, pode ser um fio condutor para construção coletiva de um Projeto Político Pedagógico dialógico e cidadão capaz de fazer da escola, não só um espaço futuro para o viver, mas essencialmente para o com-viver hoje.
GADOTTI, Moacir, ROMÃO, José E. (orgs.). Autonomia da Escola: Princípios e
Propostas. São Paulo: Cortez, 1997.
PIMENTA, Selma Garrido. A Construção do Projeto Pedagógico na Escola de 1o. Grau. In: Série Idéias nº8. São Paulo: FDE/ Governo do Estado de São Paulo, 1992.
RESENDE, Lúcia Maria Gonçalves de.; VEIGA, Ilma Passos A .( orgs.). Escola: espaço do Projeto Político-Pedagógico. Campinas: Papirus, 1998.
RIOS, Terezinha A. Significados e Pressupostos do projeto pedagógico. In: Série Idéias nº 15, São Paulo: FDE, 1993.
SAVIANI, Demerval. Escola e Democracia: Polêmicas do nosso tempo. Campinas: Autores Associados, 1994.
VEIGA, Ilma Passos A. (org.). Projeto político-pedagógico da escola. Campinas: Papirus, 1995.



Biografia:
Eliana Fonseca nasceu no interior do Rio Grande do Sul. Filha de Júlio Fonseca, agricultor e Eva Feijó da Fonseca, dona de casa. A infância viveu na vila e na pequena chácara da família. neste ir e vir foi construindo suas histórias, escondida entre os arbustos que marjeavam as plantações de milho, eucaliptos e dos pessegueiros que o pai plantava para alimentar a família de dez filhos. Dos causos que mãe relatava e os contos que o paiscontava foi construindo suas histórias e apaixonando-se pela literatura e pelas artes.Atualmente é professora e mora com a família na cidade de Pelotas.
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