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LIRA VOANDO PARA OUTRO GALHO
Donária Salomon

VOANDO PARA OUTRO GALHO





Maio de 1969, Thereza chegou à casa do pai com um recado de Sílvio, dizendo que ele queria falar com Lira. Olinda sentiu-se magoada, dizia que ela não deveria encontrar-se com ele. Saiu resmungando: “aquele safado!” Norival chegou do armazém. E quando ficou sabendo foi logo dizendo: “De jeito nenhum! Thereza foi você quem veio trazer esse recado? Pois não devia”.
Thereza pediu que eles entendessem, pois ela só estava pensando em ajudar e com isso diminuir o sofrimento de todos: “Se quer conversar com ela, que conversem, pode ser que seja para acertar a data do casamento”. Lira tentou argumentar que precisava ir e decidir o que fazer de sua vida, sem esse encontro ficaria sem saber das intenções dele. O menino completara cinco meses. Thereza diante do argumento de Lira falou:
_ Mas se vocês não querem tudo bem, eu digo a ele que Lira não pode ir e pronto! Porém continuo dizendo que esse encontro seria muito bom para os dois. Lira se enfureceu diante da recusa do irmão. “Não adianta! Eu vou!” Gritou que ia e que ninguém impediria. Norival berrou:
_ Ah! É assim? Então vai! Se você for, quando, voltar seu filho não terá leite para tomar!
Passou a mão na lata de leite do menino e leva para a bicicleta. Olinda compadeceu-se da situação, pegou o leite de volta e foi logo dizendo:
_ Não adianta isso agora. A casa está arrombada e em casa arrombada não se coloca tranca. Ela já se perdeu mesmo, agora que teve o filho não vai mais querer ficar sem homem. Lira gritou mais uma vez:
_ Não é nada disso! Entendam! Eu realmente preciso falar com ele. Quase implorando a compreensão dos irmãos.
O irmão saiu, chorando arrependido pelas armas que usou, sabia que seus atos no momento, não resolveriam nada. Lira arrumou-se às pressas e saiu com a irmã, o encontro estava marcado para a noite na casa dela, foram para o ponto do ônibus, Thereza lastimava-se por ter sido chamada de caftina, chorava e dizia: “Meu Deus, se meu marido souber de uma coisa dessas vai falar pelos cotovelos”. Lira procurava confortá-la com agradecimentos por ter levado o recado que ela tanto esperava. Thereza muito aflita perguntou:
_ Você acha que Norival vai cumprir a ameaça?

_ Que vai tirar o leite do menino e atirar as minhas roupas na rua? Se fizer fez. Eu é que não vou deixar de ir. Nessa altura eu tenho mais é que tratar da minha vida. Hoje decido o que vou fazer amanhã, primeiro vou ver o que Sílvio quer falar comigo.
Lira estava ansiosa, com esperança de que o Sílvio finalmente decidisse a casar e suas vidas pudessem seguir juntas sem obstáculos, ela precisava de tempo, não queria decepcionar, sempre fora competente, o acontecido não a provocaria desânimo. Era verdade, mas inquietava-se e inquieta daquela forma era impossível concentrar-se, só pensava e   via o perfeitamente. Não acabaria nunca se contasse a ele tudo que padeceu nesse período de separação às vezes vacilava com tanto disse-me-disse e a indecisão tomava conta de seus pensamentos, ora sentia raiva achando que a vida estava abusando de sua força e tentava enfraquecê-la, pois quando ela buscava uma solução vinha novamente à confusão, mas era forte, no seu íntimo ardia uma grande quantidade de amor e paixão que revestia as realidades, embora em certos momentos as sombras interrompessem, talvez tivesse sido omissa Ela sabia disso sim. Isso mesmo, sabia, mas dissimulava, Ou talvez preferisse não aceitar. Muito menos falar, para não o perder de vez no caso de ser verdade. Por essa razão, somente ela conhecia a incerteza que havia quanto ao namorado ser livre ou ser comprometido, pois desde que a conheceu afirmou ser casado e ter uma filha de quatro anos, Lira julgou pela maneira como foi relatado que se tratasse de um “verde”, por isso não desistiu, o namoro ficou nebuloso, sendo um segredo só dos dois. Todas as vezes que ela tocava no assunto, ele pedia para ela esquecer, porém na sua cabeça, permanecia a dúvida.
Quando Lira completou dezoito anos recebeu de presente um estojo contendo um par de alianças de ouro, sem entender muito bem ser presenteada com uma jóia de compromisso perguntou:
_ Para que alianças se não vai haver casamento?
_Deixa seu pai chegar que vou fazer o pedido e nos tornaremos oficialmente noivos. Lira experimentou e a aliança ficou perfeita, admirada perguntou como conseguiu a medida exata, então respondeu colocando a aliança no dedo mínimo dele. Foi uma surpresa, seu coração ora acelerava ora quase parava de acordo com o que pensava no momento. Perguntou:
_Para que isso agora? Você não pode continuar o namoro!
_ Noivos teremos mais tempo.

No entanto, lá estava ela para o encontro na casa de sua irmã. Não tinha vontade de falar nada, foi à espera do efeito dos sentimentos e à vontade dele, desse modo poderia conciliar o amor e o compromisso do casamento.
Lá pelas oito horas o Sílvio chegou. Lira contou a ele tudo o que havia acontecido para impedi-la que estivesse ali naquele momento. Lira não podia acreditar, não sabia se ele estava erguendo uma barreira entre os dois ou fazia tudo para tornar-se difícil. “Vamos caminhar um pouco”, sugeriu alisando seus cabelos. Caminhou pela grama, ele a tomou em seus braços e a abraçou sentindo-a bem perto do seu corpo. O seu nervosismo o retraía e Lira via claramente a insegurança estampada no modo dele acender o cigarro. O momento de decisão chegara, ela insistia em omitir as qualidades que ainda enxergava nele. A compreensão que ela estava habituada a ver nele agora diminuía diante da situação. Ela queria nesse momento que tudo seguisse o curso das novelas, no entanto via que os ensinamentos, dedicação, proteção, cortesia e carinhos. Era apenas uma exigência para conseguir o que queria. Seu verdadeiro herói onde foi parar? No namoro tinha sido generoso, houve encontros e desencontros, afetos, amor, tristezas e alegrias e ainda existia a chance de reconciliação de tudo isso, no momento em que se identificassem como dois indivíduos que se amavam. Só um milagre para mudar o rumo dos acontecimentos, Lira não encontra a verdadeira razão dele não incluí-la nos planos de sua vida. Fica difícil entender suas atitudes no momento de decisão. Por que ele me chamou aqui? Pensava. Não agüentando a indecisão dele foi ela quem tomou a iniciativa de falar:

_ Quero formar a minha família e preciso de você, o filho nós já temos, somos solteiros. Ou você não é? Eu devia estar casada, não na casa dos meus pais, a situação não é a mesma de quando virgem. Agora qualquer gesto ou ação sofro críticas e até insultos. Onze meses faz que sumiu, não tomou nenhuma providência, só continuei ser gente para o meu pai, os olhares das pessoas que se diziam amigas agora me espetam.
Ela sentia-se envergonhada de quase implorar a subestimar seus sentimentos e posicionar o menino, o seu escudo. Diante dos fatos teriam que tratar de negócios (o casamento), mesmo assim ela estava indócil com esperanças de que em meio à conversa ele desse um basta e um baita sim! Nós vamos nos casar e nosso filho criar! Mas diante de tanto esperar, com muitas mágoas, tristezas e a frustração por sentir o mundo desabar encima dos seus ombros era o momento de questionar:
_Por que você não disse que não ia casar? Por que esperou chegar o dia da festa? Por que você deixou o meu mundo de sonhos desabarem? Vamos, me ajuda a levantar, a gente suspende tudo num instante basta você dizer a palavra mágica: Vamos nos casar. Estive na casa de sua mãe e ela me garantiu que você nunca se casou...
Ele estava segurando a mão dela quando resolveu falar:
_ Será que lá no seu bairro não tem alguém que queira se casar com você? Referindo-se talvez ao ex-namorado dela. Lira decepcionada quase gritou, mas manteve a calma por causa da irmã e do cunhado que estavam ao lado no quarto, acalma-se e quase sem fôlego diz:
_ Cara, eu amo você, tenho um filho seu, como vou me casar com qualquer? Mas ele insistiu:
_ Vê um daqueles seus amigos, aquele, como é mesmo o nome dele? O costureiro.
_ Léo? Ele é meu amigo. Quer matar o rapaz? Que eu o saiba nunca namorou e não tem nada a ver casar por casar. Se fosse assim eu me casaria com o meu primeiro namorado que é honesto, trabalhador, homem pra valer e gosta de mim, já me pediu em casamento mesmo eu estando grávida de você. Queria e ainda quer. Mas você acha justo ele reconhecer o seu filho? E a minha família faz o maior gosto, eu é que não quero. Marido existe aos montes e a essência onde esta? Nessa altura, exausta de falar, olhou nos olhos dele com a vontade de ler em suas retina o que realmente pensava. O que observou foram olhos opacos pareciam distantes, estando ali a esmagar, seus sentimentos Teve ânsia de apertar o seu pescoço, porém se conteve. Descorçoada: _ Só digo uma coisa, hoje tenho que tomar uma decisão definitiva, amanhã não posso mais ficar na casa do meu pai, não por ele, você bem sabe, mas pela situação criada por você quando me chamou para conversar. Afinal, o que você queria?
_ Queria ver você e saber como estão às coisas.
_ É. Mas você já sabe, a barra ficou pesada, conforme for. Amanhã cedo eu estarei de volta com o menino. Espere-me no ponto entre oito e nove horas da manhã. Se você não estiver lá, nunca mais vai colocar os olhos na gente e fica sabendo que não agüento mais essa situação...
Despediram-se. Já era tarde e o cunhado de Lira dormia, teria que se levantar o cinco para trabalhar. Ela ainda ficou olhando Sílvio descer a rua para pegar o lotação, pensando e interrogando-se: “E agora, o que vou fazer? O que falo para Thereza? Mesmo que Norival não faça o que falou, também não fico lá. Acho desaforo me sujeitar a isso”. A dor, a desilusão, o abandono, a indecisão, não dissiparam o seu amor, estava ali ainda sentindo a ausência do calor de seus braços o tocar de suas mãos em sua cabeça acariciando os seus cabelos. Mesmo desconfiada temerosa sabia que nesse afago existia um grande e verdadeiro amor. Nessa lembrança teve a certeza de que a dúvida não poderia perdurar. Lira tinha muita esperança de que tudo acabasse bem.
A irmã, que tinha colocado o marido a par da situação, veio falar com ela, chegou logo perguntando:
_Ele vai casar? Lira não titubeou:
_Vai sim. Só não fez ainda por causa da situação financeira. Que de fato foi a real causa. A irmã levantou os braços para o alto e ajoelhou-se falando:

_ Graças a Deus! Acendi tantas velas para Iemanjá rogando que isso acontecesse. Dinheiro não é problema a gente é que faz ele!
Coitada da irmã de Lira, nem podia imaginar o que tinha acontecido, Lira doida para chorar, não um choro de alegria e contentamento por ter resolvido o problema que a irmã imaginava, o choro seria de desespero e desapontamento, mas se isso acontecesse poria tudo a perder, não queria tirar o sono da irmã e não queria enfraquecer a determinação e a vontade de voar para o galho que sonhou. Tantos dias e noites ali firmes a confirmar que ia se casar com a pessoa escolhida pelo seu coração, não se lembrava de nenhum momento que mudasse a sua maneira de pensar, sempre convicta e determinada. Para ela nem tudo estava encerrado nesse encontro, não aceitava as imposições da vida. Na sua concepção como poderia acabar um sonho que não fora realizado, portanto não concretizado? E não poderia ter medo de enfrentar as grandes turbulências e os trancos que a vida poderia lhe dar. Certa de não haver, príncipe e nem princesa, apenas um homem indeciso e uma mulher com um filho de seis meses de idade para criar...
Thereza perguntou a Lira:
_ E amanhã?
_ Eu vou fazer o seguinte: Quando chegar a casa pego o menino e volto para cá, com leite ou sem leite. Se o Sílvio não me esperar onde combinei, eu venho sozinha. A irmã concordou batendo o pé na porta da entrada:
_ Iemanjá vai fazer esse casamento! Não vai minha mãe?!
Para sua irmã a noite não foi das melhores devido o corrido, mas o cansaço venceu-a e acabou dormindo. Quanto a Lira, há muito tempo não dormia bem, ver o raiar do dia se tornara uma constante. Deitou-se no sofá que a irmã tinha arrumado, sentiu falta do seu filho, mas logo se acalmou, sabia que estava bem tratado com Olinda. Desde que teve o menino, não se sentia bem instalada na casa do seu pai, mas nos seus pensamentos era provisório, assim como o berço de um banco de kombi, para seu filho era real, seus sonhos também poderiam ser e sua casa estaria em algum lugar esperando por ela.
No dia seguinte ao levantar-se da cama, ou melhor, do sofá, a menina trazia no rosto as marcas de tristeza e talvez um pouco de medo. O cotidiano a enchia de responsabilidade enquanto a paixão a revestia de sonhos, ela permanecia no meio das correntes, nenhuma das duas cedia aos caprichos da outra, na maioria das vezes o íntimo carregado de sonhos, entrelaçava-se defendendo no dia a dia com o propósito a não deixar nenhuma ferida tornar-se profunda...
Viajou no lotação, depois no ônibus. O cansaço misturava-se com os problemas, não prestava atenção em nada que ocorria dentro nem fora das conduções que pegou, não importava o céu, as árvores, nada chamava sua atenção. Quando chegou ao ponto onde deveria descer foi despertada com um “bom dia” de um vizinho. Chegando a casa, falou da sua decisão a irmã, que calada, ajudou a desmontar o carrinho do bebê, pegar as roupas dela e do o filho e quando estava pronta para deixar tudo sua irmã prontificou-se a acompanha lá com o seguinte argumento:
_ Se estou aqui somente por causa de você e do menino, que vou fazer sozinha? Detesto esse lugar! Eu era doida para tirar você daqui. Lira absorta nos seus problemas, porém não esquece que é o suporte daquela moradia.
_ Mana, assim não vai dar, não podemos deixar papai sozinho outra vez.
_ Você não acha que está na hora de tratar de você? Vamos embora antes que Norival volte do armazém. Depois eu volto e pego nossas roupas. Sentindo-se segura com a irmã, partiram e ninguém as viu, a rua inteira dormia, mas ela não deixava de pensar no pai: “Quem vai fazer a comida? Quem vai lavar a roupa?” Chorava e as lágrimas pingavam. Sorte que a irmã dava-lhe forças:
_ Não te entendo, diz que sabe o que quer e agora chora.
_ É por papai, não consigo parar de pensar no meu pai, eu também o amo demais. Não pensei nessa situação, achei que você fosse ficar.   

Quando chegaram a Campo Grande encontraram Sílvio esperando no local combinado. Lira sentiu-se mais segura. Ele pegou no colo o menino e juntos atravessaram o túnel e do outro da estação tomaram um táxi em direção à casa de Thereza. Sem muito que falar. O pai com o garoto no colo, meio sem jeito a ajeitá-lo, chegaram. Sílvio chamou Thereza e combinou que retornaria à noite para conversar com Arenil, despediu-se e foi embora. Lira, apesar das coisas estarem se encaixando sentia-se como que engasgada, pensava: “Será que vai se casar porque gosta de mim ou por causa da situação?” Thereza interrompeu os seus pensamentos:
_ Tenha fé em mamãe oxum, que agora sai. Olinda rebateu:
_ Que nada Thereza, essa boba “abestada” veio chorando igual a um bezerro desmamado por causa de papai.
_ Deixa de ser boba, você pode ir lá quando quiser e ele poderá vir aqui sempre. O importante é que você se case, até papai vai ficar contente.

À noite, depois da conversa com o cunhado, ficou acertado que o casamento se realizaria dentro de um mês, na verdade Sílvio alegou que só necessitava de quinze dias, mas Arenil insistiu em um mês, na seguinte condição: Se casassem, tudo bem, se não, poria Lira e o filho na rua outra vez. Tudo acertado. Negócio fechado. Sílvio, desse dia em diante não deixou nada faltar para a criança, leite, frutas, biscoitos...

Esse mês de espera foi monótono, sem emoções, Lira não exigiu nada, afirmou casar-se com o mesmo vestido, trocaria apenas os sapatos que tinha uma fivela igual à do sapato do Barão de “Munchausen”. Experimentava uma grande sensação de vazio em todo corpo, as carnes que revestia seus ossos pareciam soltas, por conta do sofrimento, confiante de haver feito tudo que pode fazer para o seu futuro. Ao mesmo tempo incerta, seria talvez até melhor que não houvesse casamento. Todos estavam desconfiados e a pergunta era sempre a mesma: “Será que sai?” E então alguém dizia: “Tenho minhas dúvidas, mas vamos aguardar”. Lira não tecia comentários, não traçava planos , ficou apática, atada seria a definição mais exata, pois nada dependia dos seus serviços, bastava esperar para ver como ficaria. Uma ironia do destino, no ano anterior passara pela mesma sensação. Declarou: _Que realidade é essa de ficar repetindo? Não se diz que não há como um dia após o outro, e jamais se repetiram, só se no meu calendário for um dia atrás do outro!
A única animada era a irmã que aproveitaria o aniversário do marido para fazer uma festa e convidar todos os convidados do ano anterior e só diria na hora que o casamento estava se realizando. Mas o marido alertou:
_ A idéia está perfeita para dar satisfação aos amigos daqui. E os de lá de perto da casa de Lira, como vai ser?
_ Não se preocupe, quando acabar o casamento, pego os noivos e vou à casa de papai, vou à casa de todos e se não acreditarem esfrego a certidão na cara de todos que duvidarem. Até com essa suposição Lira não se incomodou, tinha mais o que fazer, levou o seu pequeno enxoval para a casa da sogra, depois que foi apresentada ao aposento, o maior quarto da casa com os móveis antigos, adquiridos na ocasião do casamento dos pais de Sílvio. Após passar óleo de peroba e arrumar o quarto Lira chamou a sogra para ver. Ela gostou e depois de elogiar falou que ela podia arrumar a casa toda, pois seria sua também. Lira agradeceu. Enquanto conversavam na sala, munida do pano com óleo, aproveitou e limpou a cristaleira.
Sete de julho, um sábado de 1969, finalmente chegou o dia, oficializaram o casamento, como diziam os mais velhos: “O preto no branco”. Com essa decisão o casal recebeu da sociedade um vasto caminho a percorrer não importando o que tivesse acontecido, podiam sentir-se livres, em comunhão com a sociedade. Com a assinatura desse documento indissolúvel. Lira sentiu um mal estar à sensação foi que fechara a porta atrás de si. Quando rápido pensou: Largada, separada, abandonada, rejeitada, desquitada, viúva... Não podendo ser novamente solteira.
Na hora de tirar o retrato cortando o bolo fez questão de sentar o menino na mesa perto dela e do Sílvio. Olinda o segurou dizendo: Nunca vi filho tirar retrato junto do bolo de casamento da mãe. Lira ri e diz á verdade não envergonha ninguém. Ele está aqui, portanto existe...
Nesse mesmo dia, à noite, Lira acompanhou o marido. O menino ficou com suas irmãs para ir depois, mas não pareceu para Lira uma boa solução porque ao curvar-se sobre o carrinho para despedir-se dele que dormia não conseguiu conter o choro. Olinda aproximou-se dela tentando confortá-la:

_ Seja forte menina, vai e tenha pelo menos o domingo de lua de mel, na segunda você vem buscar o menino. Ou você prefere que eu o leve para você?
Lira não teve condições de responder.
Chegando à casa que agora seria a sua, pouco falou. Ela, a sogra e o marido foram recebidos pelo cunhado Walter, irmão de Sílvio, se dizendo preocupado com a demora. Nesse momento na cabeça de Lira não existia nenhuma perspectiva, vivia o momento presente e nada mais, não pensava no que viria, parecia que se não fosse desse jeito outro teria. Seu cérebro entrou numa espécie de letargia. Antes, nos dias que antecederam o casamento, durante os preparativos, ela sentiu vontade de retribuir com a mesma moeda, dizendo não. Para os parentes a coisa mais importante era o casamento, para limpeza da honra, no entanto para ela, isso não importava. Honrar a seu ver seria perpetuar, essa missão já havia cumprido, queria casar-se por uma questão muito maior, do puro sentimento amor, o qual pegou sua dose de amor conjugal com as duas mãos, na precaução virou o frasco todo na boca, não deixando uma gota sequer da preciosa essência que a ela cabia. Não havia resolvido o problema com o Sílvio de prometer e não cumprir.
Parecia pensar nos sofrimentos que ficariam incrustados no seu íntimo, por essa pressão sentiu-se culpada, até certo ponto, de não se cuidar melhor, afinal quem chega aos dezoito já passou da idade de maior risco. Contudo, ninguém ficou sabendo que Lira namorou o tempo todo convicta de que Sílvio era casado e tinha uma filha. Não que ela não quisesse se casar era apenas uma questão de se adaptar a essa nova condição... Por fim, aos poucos, muito devagarzinho, nesse novo ambiente sua cabeça aos poucos se ajustaria. Após um banho morno certamente todos os músculos tensos do seu corpo se tornariam relaxados. No banheiro pensa: “Não vou questionar, prefiro esperar para ver a reação”.Estava decidida a não mais recriminá-lo nem fazer perguntas, deixaria o marido à vontade para falar apenas o que desejasse.
Despiu-se, entrou no banho deixando a água jorrar, massageou o corpo com sabonete e pôde sentir as tensões esvaírem-se pouco a pouco refrescando as plantas dos pés, não alimentou fantasias como mulher casada preste a ir para a cama com o marido, a quem amava, porém entalada! Precisava gritar espernear, botar para fora tudo que a sufocava. No momento, era impossível, estava na casa da sogra, precisava manter a calma, se estourasse poria tudo a perder. Afinal nem tudo estava perdido, talvez apenas remendado pelos sete lados como diz sua irmã.
De volta, não acendeu a lâmpada do quarto deixou a penumbra da luz que pendia do poste e refletia na vidraça da janela a qual deixava transparecer a silhueta do Sílvio a esperá-la. Lira com o coração preso de angustia e decepção, receosa, de frente um para o outro, no silêncio, sentiu forte emoção quando suas mãos foram envolvidas, num gesto sensível de carinho que ela ainda guardava em sua memória. Sentiu que a espera não tinha sido em vão, seu corpo havia respondido ao contato intensamente. Seus desejos também foram os dele, sentiram os palpitar dos corações, o calor dos seus corpos de tal forma   no leve toque de ternura, predizia o pensamento as mais intimas vontades. Emocionados foram invadidos por imensa necessidade de amar...   


Biografia:
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