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Um retrato de Dorian Gray
Aristocracia e modernidade contemporânea na Inglaterra do século XIX
Cleyton Boson

Resumo:
Neste trabalho pretendo mostrar, a partir da leitura de O Retrato de Dorian Gray, romance publicado em 1890, como Oscar Wilde percebe e representa os grandes fragmentos do Antigo Regime que sobreviveram dentro do cenário de consolidação da modernidade contemporânea na Inglaterra da segunda metade do século XIX. O sucesso desta tarefa, depende, no entanto, de uma previa delimitação do que vem a ser essa contemporaneidade da vida moderna. Embora essa delimitação seja um exercício bastante árido, devido ao caráter de constantes mutações próprio da modernidade, adotei o momento de ascensão dos valores burgueses, e como marcos dessa ascensão a Revolução Francesa e a Revolução Industrial na Inglaterra, como ponto de delimitação inicial do que chamo de modernidade contemporânea. Considero, também, e nesse sentido faço coro com autores como Marshall Berman (2007) que essa modernidade contemporânea chega até os dias atuais. (Desta maneira, deliberadamente, passo ao largo das discussões a cerca do fim da modernidade ou de pós-modernidade).

Saraus e chibatas: a Inglaterra colonialista na Era dos Direitos do Homem e do Cidadão

        Antes, ainda, de me debruçar sobre o Retrato de Dorian Gray (WILDE, 2005), único romance de Oscar Wilde, importante escritor (sobretudo dramaturgo) irlandês da Era Vitoriana, faz-se importante um olhar, mesmo que ligeiro, sobre como se moldava a Inglaterra da época e sobre qual cenário sua sociedade atuava. Para tanto, é de grande ajuda o exercício de Edward Said (SAID, 1995) que se vale de Mansfield Park, romance da inglesa Jane Austen, para refletir sobre as estruturas de poder em que eram assentadas a sociedade inglesa do início do século XIX.
        No capítulo XIV desse romance (AUSTEN, 2008), escrito entre 1812 e 1814, Sir Thomas, o patriarca da família Crawford, está há muito tempo ausente cuidando de suas terras em Antígua. Toda a família está reunida na propriedade de Mansfield Park e a rotina de conversas e passeios já está ficando imensamente tediosa. Para tornar os dias mais animados, Tom Crawford, o bon vivant e primogênito dos Crawford,   sugere a encenação de Lover’s vows, de Kotzebue, mesmo sabendo que a peça era considerada imprópria para a moral da época e que seria uma ação impensável se seu pai estivesse presente:
        "The pause which followed this fruitless effort was ended by the same speaker, who, taking up one of the many volumes of plays that lay on the table, and turning it over, suddenly exclaimed—"Lovers' Vows! And why should not Lovers' Vows do for us as well as for the Ravenshaws? How came it never to be thought of before? It strikes me as if it would do exactly. What say you all? Here are two capital tragic parts for Yates and Crawford, and here is the rhyming Butler for me, if nobody else wants it; a trifling part, but the sort of thing I should not dislike, and, as I said before, I am determined to take anything and do my best. And as for the rest, they may be filled up by anybody. It is only Count Cassel and Anhalt." (AUSTEN, 2008)
        Isto, de certa maneira, representava uma ruptura com a autoridade que não se encontra em casa. No capítulo XX, o retorno de Sir Thomas, antes que a encenação aconteça, coloca fim a essa "pausa na ordem"(SAID, 1995):
        “It was a busy morning with him. Conversation with any of them occupied but a small part of it. He had to reinstate himself in all the wonted concerns of his Mansfield life: to see his steward and his bailiff; to examine and compute, and, in the intervals of business, to walk into his stables and his gardens, and nearest plantations; but active and methodical, he had not only done all this before he resumed his seat as master of the house at dinner, he had also set the carpenter to work in pulling down what had been so lately put up in the billiard-room, and given the scene-painter his dismissal long enough to justify the pleasing belief of his being then at least as far off as Northampton. The scene-painter was gone, having spoilt only the floor of one room, ruined all the coachman's sponges, and made five of the under-servants idle and dissatisfied; and Sir Thomas was in hopes that another day or two would suffice to wipe away every outward memento of what had been, even to the destruction of every unbound copy of Lovers' Vows in the house, for he was burning all that met his eye”. (AUSTEN, 2008)
        É um trecho que demonstra dois pontos importantes: primeiro: tratasse de uma sociedade menos liberal que conservadora que apresenta seus primeiros lampejos de fragmentação (a legitimidade desta autoridade se não é questionada diretamente, é desconsiderada nos espaços onde ela não consegue ou não pode fiscalizar). Segundo: o restabelecimento da autoridade se dá de forma vertical e violenta, demonstrando, assim, a fragilidade de seu discurso legitimador (SAID, 1995).
        Um outro ponto que, embora não esteja na superfície da narrativa, se mostra presente, nessa e em outras passagens de Mansfield Park, é a resposta para a questão: o que sustenta esta casa? Este modelo civilizatório? Resposta: Uma propriedade em Antíqua. Para entendermos a importância dessa informação é impositivo não perdermos de vista que estamos em 1814, quando as bases da Era Vitoriana (1837-1901) começavam a ficar robustas (HOBSBAWM, 2000). E como eram alimentados os músculos para a idade de ouro do poderio inglês? Com as riquezas do trabalho produzido nas colônias (HOBSBAWM, 2000), tais como as Plantation que sir Thomas tinha na América Central.
        A partir das reflexões acima, não é temerário concluirmos que todo refinamento, todos os códigos morais e sociais humanistas, toda a civilidade com que tanto enchem a boca Lord Henry e Dorian Gray (WILDE, 2005) e são tão belamente descritos por Jane Austen (AUSTEN, 2008) em seu romance, não entram em choque com a chibata e a expropriação violenta do mundo ultraeuropeu (SAID, 1995). Isso só foi possível com a internalização da idéia de eleitos, muito forte em Dorian Gray (mas também em quase toda a alta sociedade européia da época), que poderiam dispor dos corpos e das coisas dos não-eleitos a seu contento. Essa crença no direito natural de supremacia de um grupo sobre outros não está, todavia, no arcabouço de idéias da modernidade oitocentista (BERMAN, 2007). Trata-se, portanto, de um mundo fendido: onde enormes fragmentos do Antigo Regime convivem com o turbilhão de inconstâncias da vida moderna do século XIX (embalada pela máxima burguesa de liberdade, igualdade e fraternidade entre os homens), e essa fenda necessariamente levará a uma série de questionamentos. É nessa dupla-moral, que vai atravessar toda a sociedade européia do século XIX (SAID, 1995), que será forjado o homem moderno ocidental: fragmentado, multifacetado, inconstante e, por isso mesmo, um constante questionador de si e do mundo, este também fragmentado (BERMAN, 2007).


Dorian Gray: os trajes de contemporaneidade do Antigo Regime

        Wilde foi de uma inconstância e incoerência própria dos homens de sua época: a segunda metade do século XIX (BERMAN, 2007). Um homem, que longe de ser unidimensional, estava mergulhado nas discussões artísticas, científicas e políticas deste período. A Era Vitoriana não é marcada apenas pelo apogeu do liberalismo, mas também, e muito fortemente, pela crítica mordaz a sua doutrina por meio da ascensão do socialismo, comunismo e anarquismo (HOBSBAWM, 2007).
    Wilde se afirmava socialista, ou pelo menos é o que faz em sua obra, publicada em 1891, A alma do homem sob o socialismo (WILDE, 1983). Mas como um dândi pode ser socialista? Bem, o socialismo que ele apregoava deveria acabar com o capitalismo, mas não com o liberalismo. O homem deveria ir ao extremo do individualismo e para isso deveria se livrar de todas as amarras, incluindo aí religião, família e propriedade privada. O seu conceito de socialismo fica ainda mais estranho e complicado, quando ele afirma-se cristão e que o exemplo de Cristo é o ideal que deve ser seguido: Cristo não tinha religião, não se prendia a família e criticava qualquer tipo de propriedade privada (WILDE, 1983). Não é possível afirmar se ele teve contado com os escritos de Karl Marx, mas não é absurdo dizer que seu socialismo dandista (fortemente descrito em seu “A alma do homem”) tem as vestes de Saint-Simom.
        Baseando-se nas afirmações do próprio Wilde e, mais objetivamente, no cenário da segunda metade do século XIX, não é equivocado afirmar que Lord Henry, o grande mentor do protagonista de O retrato de Dorian Gray (WILDE, 2005), não passa de uma caricatura do homem moderno. Aquele homem que se deslumbra com o moderno, mas que se esparrama sobre as almofadas do Antigo Regime, fechando os olhos para as rachaduras que começam a esfacelar e a tirar do eixo a sociedade européia.
    "Money, I suppose," said Lord Fermor, making a wry face. "Well, sit down and tell me all about it. Young people, nowadays, imagine that money is everything."
    "Yes," murmured Lord Henry, settling his button-hole in his coat; "and when they grow older they know it. But I don't want money. It is only people who pay their bills who want that, Uncle George, and I never pay mine. Credit is the capital of a younger son, and one lives charmingly upon it… (WILDE, 2005)
        Nos trechos acima é notório seu posicionamento, não como homem moderno oitocentista, filho da burguesia e entusiasta do self-made man. Mas sim um clássico aristocrata que sabe se valer de seu nome de família e o usa de forma a sorver de todos os favores sociais que ele pode proporcionar. Este homem, no fim do século XIX, vê-se ameaçado pela modernidade guindada pelo liberalismo burguês. Esta modernidade que desconstrói a idéia dos eleitos (aristocracia) e centra suas forças no esforço individual, afirmando que sucesso, sofisticação e riqueza não necessariamente vem do berço, mas podem ser construídas e conquistadas. A face mais crua deste mundo moderno é a sociedade norte-americana, a qual Lord Henry odeia:
        "They say that when good Americans die they go to Paris," chuckled Sir Thomas, who had a large wardrobe of Humour's cast-off clothes.
        "Really! And where do bad Americans go to when they die?" inquired the duchess.
        "They go to America," murmured Lord Henry…
        Sir Thomas waved his hand. "Mr. Erskine of Treadley has the world on his shelves. We practical men like to see things, not to read about them. The Americans are an extremely interesting people. They are absolutely reasonable. I think that is their distinguishing characteristic. Yes, Mr. Erskine, an absolutely reasonable people. I assure you there is no nonsense about the Americans."
        How dreadful!" cried Lord Henry. "I can stand brute force, but brute reason is quite unbearable. There is something unfair about its use. It is hitting below the intellect."…
        Como um aristocrata, por excelência, não lhe é admissível um processo civilizador que não se dê de cima para baixo e, muito menos, que não tenha em seu topo homens de boa cepa.
        "My dear boy," said Lord Henry, smiling, "anybody can be good in the country. There are no temptations there. That is the reason why people who live out of town are so absolutely uncivilized. Civilization is not by any means an easy thing to attain to. There are only two ways by which man can reach it. One is by being cultured, the other by being corrupt. Country people have no opportunity of being either, so they stagnate."… (WILDE, 2005)
        Igualdade, liberdade e fraternidade não fazem parte de seu arcabouço reflexivo. O mundo se divide entre os homens que pensam e que devem possuir todos os direitos, e os outros cuja função é submeter-se aos desejos destes primeiros. E estes primeiros necessariamente adveem de boa família. Isso fica claro em várias passagens do livro, mas uma das mais cruéis é quando ele tenta explicar os motivos pelos quais Dorian Gray, ao invés de chorar, deveria brindar a morte de Sibyl Vane.
        "In the present case, what is it that has really happened? Some one has killed herself for love of you. I wish that I had ever had such an experience. It would have made me in love with love for the rest of my life. The people who have adored me--there have not been very many, but there have been some--have always insisted on living on, long after I had ceased to care for them, or they to care for me. They have become stout and tedious, and when I meet them, they go in at once for reminiscences. That awful memory of woman! What a fearful thing it is! And what an utter intellectual stagnation it reveals! One should absorb the colour of life, but one should never remember its details. Details are always vulgar."... (WILDE, 2005)
        Como todo bom defensor do Antigo Regime a desqualificação deve partir de duas esferas: origem social e gênero. Como necessidade de manutenção das relações de poder aristocrática e masculina.
        "My dear boy, no woman is a genius. Women are a decorative sex. They never have anything to say, but they say it charmingly. Women represent the triumph of matter over mind, just as men represent the triumph of mind over morals."… (WILDE, 2005)
        Se isto tudo ainda não comprovar a sua profunda valorização das tradições arisctocráticas que compuseram e que, de certa forma, em meados do século XIX, ainda compunham a sociedade inglesa. A prova dos nove é a sua invariável recusa à transformação. Ele jamais se permite dialogar com pessoas mais velhas, por isso jamais entra em embates com pessoas de sua idade ou mais vividas que ele (exceto as ilustres senhoras representantes da aristocracia vitoriana, provavelmente as tetas onde mamou todos os seu valores). Sua preferência pelos mais jovens não se trata de horror ao velho, mas sim de horror ao novo, preferindo ouvir seu próprio eco reverberado em parede lisa.
        There was something terribly enthralling in the exercise of influence. No other activity was like it. To project one's soul into some gracious form, and let it tarry there for a moment; to hear one's own intellectual views echoed back to one with all the added music of passion and youth; to convey one's temperament into another as though it were a subtle fluid or a strange perfume: there was a real joy in that--perhaps the most satisfying joy left to us in an age so limited and vulgar as our own, an age grossly carnal in its pleasures, and grossly common in its aims.... He was a marvellous type, too, this lad, whom by so curious a chance he had met in Basil's studio, or could be fashioned into a marvellous type, at any rate... (WILDE, 2005)
        E quem é Dorian Gray nessa história? Dorian é uma caricatura ainda maior do homem moderno contemporâneo, pois se trata de um arremedo de Lord Henry. Enquanto este último é tido como de grande espírito, a personalidade de Gray, se é que se pode chamar isso de personalidade, está totalmente assentada nas coisas que possui: beleza e riqueza.
        For, while he was but too ready to accept the position that was almost immediately offered to him on his coming of age, and found, indeed, a subtle pleasure in the thought that he might really become to the London of his own day what to imperial Neronian Rome the author of the Satyricon once had been, yet in his inmost heart he desired to be something more than a mere arbiter elegantiarum, to be consulted on the wearing of a jewel, or the knotting of a necktie, or the conduct of a cane. He sought to elaborate some new scheme of life that would have its reasoned philosophy and its ordered principles, and find in the spiritualizing of the senses its highest realization… (WILDE, 2005)
        É perceptível no trecho acima que, embora ele sonhe em ser um grande homem, Dorian não passa de um assessor para assuntos ligados à elegância: como se vestir, que jóias usar, como segurar uma bengala. Na verdade não passa de um deslumbrado, incapaz de escapar da influência do amigo (embora acredite que sairá a hora que quiser). Amigo este que lhe informou sobre o que se deslumbrar e a melhor forma de fazê-lo e, para tornar seu bonequinho, ainda mais parecido consigo, deu-lhe de presente um livro que lera aos dezesseis anos e que tinha lhe influenciado muito. Este livro marcará toda a trajetória de Gray.
        A partir das influências de Lord Henry e de seu livrinho, Dorian passará a se sentir um verdadeiro soberano absolutista. Senhor da vida e da morte dos, por ele considerados, inferiores. Vejamos um de seus primeiros brinquedinhos:
        A fit of passionate sobbing choked her. She crouched on the floor like a wounded thing, and Dorian Gray, with his beautiful eyes, looked down at her, and his chiselled lips curled in exquisite disdain. There is always something ridiculous about the emotions of people whom one has ceased to love. Sibyl Vane seemed to him to be absurdly melodramatic. Her tears and sobs annoyed him.
        "I am going," he said at last in his calm clear voice. "I don't wish to be unkind, but I can't see you again. You have disappointed me."... (WILDE, 2005)
        During the three terrible hours that the play had lasted, he had lived centuries of pain, aeon upon aeon of torture. His life was well worth hers. She had marred him for a moment, if he had wounded her for an age. Besides, women were better suited to bear sorrow than men. They lived on their emotions. They only thought of their emotions. When they took lovers, it was merely to have some one with whom they could have scenes. Lord Henry had told him that, and Lord Henry knew what women were. Why should he trouble about Sibyl Vane? She was nothing to him now... (WILDE, 2005)
        Sibyl foi o primeiro amor de Dorian? Lógico que não. A senhorita Vane foi a primeira tentativa desse nobre reizinho demonstrar a seus amigos o quão ele era sofisticado, pois percebeu uma jóia em uma pocilga. Uma mulher incrivelmente bela e com um talento fantástico se apaixonara por ele. E agora ele ia mostrar sua pequena jóia aos amigos. Mas seu brinquedo quebrou e o envergonhou na frente de todos. Como um jovem absolutista que era resolveu destruir o brinquedo que o humilhara na frente de seus iguais. Descobriu que por ter nome e família, nada aconteceria:
        "I would say, my dear fellow, that you were posing for a character that doesn't suit you. All crime is vulgar, just as all vulgarity is crime. It is not in you, Dorian, to commit a murder. I am sorry if I hurt your vanity by saying so, but I assure you it is true. Crime belongs exclusively to the lower orders. I don't blame them in the smallest degree. I should fancy that crime was to them what art is to us, simply a method of procuring extraordinary sensations."… (WILDE, 2005)
        Contudo, ao contrário de Lord Henry, Dorian não conseguia escapar de ver a face de sua própria decadência. Aquilo que Lord Henry afastava em grandes malabarismos e ironias, era acompanhado por Dorian cotidianamente a partir de um retrato trancado no quarto de sua infância e que mostrava a cada dia as marcas de seu envelhecimento, de sua perversidade. Em uma única idéia: de sua decreptude.
        Em sociedade Dorian não era nada além de uma caricatura daquilo que seu grupo considerava sofisticado e belo. Não aprendeu, assim, a lidar com pessoas, mas sim com coisas e com conceitos. Em casa, sozinho, percebia as marcas que esse tipo de relação provocava no seu corpo e em sua alma. Dividir com qualquer um que fosse o horror dessa vida despersonalizada, onde a individualidade foi totalmente devorada pela necessidade de aceitação social, teria como preço o expor-se a avaliação dos súditos, postar-se como homem e não mais como idéia. Decide então matar o homem.
        When they entered, they found hanging upon the wall a splendid portrait of their master as they had last seen him, in all the wonder of his exquisite youth and beauty. Lying on the floor was a dead man, in evening dress, with a knife in his heart. He was withered, wrinkled, and loathsome of visage. It was not till they had examined the rings that they recognized who it was… (WILDE, 2005)
        É interessante notar que ninguém o reconhece, mas sim seus anéis. Na verdade, não porque estivesse velho e decrépito, mas sim por que na realidade fora um homem que nunca existiu.
        O sarcasmo de Wilde nesse romance é quase todo dirigido à aristocracia da sociedade vitoriana, última trincheira do Antigo Regime inglês e obstáculo aos valores do liberalismo e individualismo tão caros ao autor. Para Wilde, ao definir comportamentos essa aristocracia decadente castra a alma humana. É um grupo que teme a própria destruição e se recusa a olhar sua própria face.

    Bibliografia:

AUSTEN, Jane. Mansfield Park. Salt Lake City, USA: The Project Gutenberg eBook, 2008 (http://www.gutenberg.org/files/141/141-h/141-h.htm).
BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido se desmancha no ar. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
HOBSBAWM, Eric J. Da revolução industrial inglesa ao imperialismo. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2000.
HOBSBAWM, Eric J. A era dos impérios. São Paulo: Paz e Terra, 2007.
SAID, Edward W. Cultura e imperialismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
WILDE, Oscar. A alma do homem sob o socialismo. Porto Alegre: L&PM, 1983.
WILDE, Oscar. The picture of Dorian Gray. Salt Lake City, USA: The Project Gutenberg eBook, 2005 (http://www.gutenberg.org/files/174/174-h/174-h.htm).


Biografia:
Nasci numa cidade grande. Goiânia, em 1974, já contava com cerca de 800 mil habitantes e polarizava outros 600 mil moradores e trabalhadores das cidades vizinhas. O bairro onde eu cresci ficava na periferia da cidade e eram necessários dois ônibus para almoçar com minha avó, aos domingos. Eu ficava impressionado com a capacidade de meu pai de não se perder naquele emaranhado de ruas e prédios e acreditava que jamais iria conseguir me guiar sozinho naquele espaço. Os pais de meus pais eram oriundos do campo e haviam migrado para Goiânia na década de 60, com a finalidade fazer fortuna. A construção civil lhes havia dado emprego, luz elétrica, água encanada e meus pais puderam freqüentar a escola. Contudo, tanto meus avós maternos quanto os paternos, bem como seus irmãos, eram saudosos dos tempos da roça: lá, pensavam, havia fartura de alimentos, as pessoas eram mais unidas, não vivíamos trancafiados em nossas próprias casas. Prometiam a si mesmos, e proclamavam aos quatro ventos, que um dia voltariam a viver no campo, trazendo assim sua felicidade de volta. Nunca cumpriram a promessa, nem quando possibilidades concretas se apresentavam diante de seus olhos. Aos 14 anos fui para Brasília, uma cidade que me espantava mais que Goiânia por ser incrivelmente veloz, populosa e solitária. Goiânia passou a representar meu paraíso perdido: um local em que os vizinhos se conhecem pelo nome e se ajudam mutuamente; joga-se bola na rua até altas horas da noite; a vizinhança se compromete com a proteção das crianças, independendo se são ou não seus filhos; e o trânsito é menos agressivo. Mas não voltei a morar em Goiânia e minhas visitas se tornam cada vez mais curtas. Os paraísos perdidos e os novos paraísos que produzimos baseados nas representações que temos da modernidade contemporânea (urbana, fragmentada, multifacetada, impessoal, instável) e das comunidades tradicionais (rurais, baseadas em laços de afetividade e solidariedade mútuas, estável, mesmo que estas características estejam em transformação) são a origem das inquietações de meus trabalhos
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