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Meu cunhado fanho
walter monteiro

Resumo:
fanho é um personagem imaginário, representante do pensamento popular sobre o voto, o descaso nas eleições e destino de sua cidade.


Não existe família sem uma briguinha de vez em quando, principalmente a minha, com cunhado palpiteiro, folgado e mandão com a irmã, minha mulher. Além disso é fanho e adora me sacanear, deturpando os nomes de quem gosto.
Já era noite quando chegou sem ser convidado: sentou na sala, esparramou as pernas e trocou o canal da televisão sem avisar, no exato momento do comunicado do governo federal.
Curioso, perguntei a mulher:
- Quem vai falar, amorrr?
E antes dela responder, ele gritou:
- É o mulaaaa!
Não tenho nada contra fanho, mas ele abusa e às vezes penso ser de propósito.
Minha mulher, sabendo como isso me irrita, veio me acalmar:
- Não liga não amor... Ele quis dizer Lula, mas infelizmente sai “Mula”, tenha paciência...
- Po Ana... O fanho sabe que sou petista roxo e gosto do Presidente, mas faz isso pra torturar!
E ele ouvindo lá da sala, justificou:
- Faço nãooo, Também gosto do “Mula” e sabe muito bem que votei nele!
- Votou nada, seu mentiroso... Levantei e fui dizer-lhe umas verdades: - você sempre vendeu o voto!
Ele, com cara de sonso, confirmou:
- Vendo mesmo! Mas só para vereador, presidente nunca vendi... Agora vou te dizer uma verdade, cunhado... Se não vender agora, depois de eleito ninguém não dá nada mesmo!
E cheio de orgulho, começou a contar:
- Já peguei grana de três candidatos ao mesmo tempo e não votei em nenhum deles: um foi o homem do celular no ouvido, outro um gordão e o terceiro nem lembro o nome.
- Mas ta errado – Contestei.
– Nós, da linha dura do PT, somos totalmente avessos a essa prática e lutamos contra esse tipo de coisa!
- Que tipo de coisa? Vai dizer que nunca pegou uns tijolinhos de político?
Ele sabe me provocar e eu, pavio curto, sempre caio nas suas ofensas. Principalmente por conhecer minha ligação com o grupo trotskista do PT e jamais faria uma coisa dessas.
- Olha só fanho... Você sabe que sou contra negociar voto, ainda acredito que essa prática vai acabar, vamos conseguir conscientizar o povo e essa corja de políticos vai sumir, nem que leve cem anos!
Ele balançou negativamente o dedinho diante do meu nariz e disse:
- Mas aqui em Maricá não acaba não...
Realmente ele estava certo, pensei... Mudar a cabeça do eleitor de Maricá não é fácil, durante anos se acostumou no “toma lá, dá cá”. No dia da eleição vende o voto por qualquer vinte reais ou troca por tijolo, caixa d’água, chinelo, dentadura, sanduíche, enfim, são poucos os que pensam no coletivo, no dinheiro público ou na probidade. Infelizmente, enquanto existir gente como meu cunhado fanho, a cidade ficará no marasmo, encravada, em pleno terceiro milênio, como um lugarejo do interior.
Mas não desisti:
- Fanho... Mas se a gente não mudar agora, isso nunca vai acabar!
- Que se dane! Respondeu com gesto brusco da mão e sentou novamente no sofá – Eu até já sei quem vai ganhar!
- É mesmo, senhor sabe tudo... Mas pelo menos essa vez dá uma chance à moral, vote em quem tem proposta, um cara sério, sem passado de corrupção.
Ele fingiu nem ouvir, foi até a cozinha, olhou as panelas e gritou para a irmã:
- Anaaaaaaaa! Vou fazer um cachorro quente pra mim!
Depois voltou lambuzado de molho, sentou em minha frente e com a boca cheia, falou:
- Olha só Petildo... – zoação por ser PT - Isso que você tá falando até acredito que aconteça, mas de outra forma:
- De outra forma como? Perguntei intrigado.
- O maricaense é um gozador nato, fala sério pela frente e faz tudo diferente por trás; você gasta seu “latim” e não consegue nada.
Mais uma vez, esquecendo que é um gozador, quis saber a sua opinião:
- Então me diz, fanho... Qual mudança pode ocorrer na Câmara dos Vereadores?
Ele foi até a pasta, retirou a listagem dos candidatos e escolhendo alguns os nomes, fez seu prognóstico:
- Cunhado... Presta atenção: depois do escândalo desse governo, o maricaense ficou mais esperto e só vota em candidato com apelido “porreta”, como esses aqui... Mostrou os nomes e continuou - Assim mesmo se um colaborar com o outro, como no caso do “homem da vassoura” que, além de dar condições ao “Hugo do lixo” limpar a Câmara, vai ajudar o “The Flash” rapidinho estender o “carpete” pelo “corredor” e aguardar a chegada da mulher cesta, anunciar o que vai fazer ali:
- Olha a empada da Zazáaaa.... Olha a empada da Zazáaaaaa!
Antes que pudesse apertar seu pescoço, saiu rapidinho rindo da minha cara...






Biografia:
Sou formado em psicologia, com vinte anos de trabalho nos presídios do Rio de Janeiro, fiz direito com propósito de ajudar as família dos encarcerados, criei uma ong e me aposentei. Escrevo cronica em jornal de minha cidade, no gazeta e sonho publicar um livro.
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Publicações de número 1 até 8 de um total de 8.


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