Era eu, desde bem pequena
Era eu que dizia a meu pai
O que comprar de presente
para o aniversário da minha mãe.
Engraçado, de alguns deles,
Lembro-me muito bem.
Um vaso tipo ânfora,
Azul, branco e dourado
Comprado ali na dona Melita,
Ao lado da Noca, a cabelereira
E na frente do Visconde,onde
minhas amigas, para estudar, iam.
Que idade eu tinha?
Pra gostar de ânforas...??
Uns trinta devia.
Mas trinta não - eu não tinha
É que lendo como lia
Em meio a ânforas,
Consoles e espelhos eu vivia.
E todos eles para minha mãe
O meu pai comigo comprou.
A sala da casa era muito sem graça,
Mas aquele console com aquele espelho
Alguma coisa mudou,
Muitas gravou e, da parede,
Meio inclinado, o meu pedido de casamento presenciou.
Por onde anda a ânfora ?
O console? O espelho?
A ânfora, sobrevivente do século passado
Em cima do mesmo balcão, num apartamento,
Que como sobrevivente a meu pai não quis,
Meio sem graça como a sala ali de cima
Olha para os que passam e tenta imaginar
Por onde daqui a algum tempo poderá estar.
O console? Dele nem idéia tenho
Mas o espelho que nossas juras de amor presenciou
Por ironia, sabedoria ou apenas alegoria...
Na casa da praia, aquela mal formatada,
No nosso quarto, mais sem graça do que
A sala sem graça, lá ele se postou.
E o aniversário da minha mãe?
É hoje!
Que tenha saúde, paz e tranqüilidade!
Os presentes?
Parece que os filhos
Uma combinação tiveram e todos,
ontem, uma blusa para ela deram.
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