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A Xícara Trincada
O cotidiano como poesia: afeto, silêncio e beleza no simples viver.
Pedro Trajano de Araujo

Resumo:
Nesse poema eu retrato a beleza e profundidade de uma rotina simples, marcada por pequenos gestos de amor e presença. Entre afazeres domésticos, responsabilidades e silêncios compartilhados, revela-se uma vida real, longe dos filtros das redes. Nela, o extraordinário se oculta no ordinário.

Quatro e pouco. Acordo antes da cidade.
A luz da cozinha acende, o cursor do notebook pisca,
o Word em branco pede versos.
Às vezes, a pia ainda carrega lembranças do jantar de ontem:
três pratos, alguns talheres — e um silêncio que respinga.
✍️
Às dez para cinco, colho couve e ora-pro-nóbis no quintal.
Faço um suco verde e entrego um copo à minha esposa.
Ela sai pra caminhar.
Eu fico — e acordo nossa filha ao som de K-pop.
✍️
O café da manhã segue um ritual: crepioca, ovos, frutas.
A liturgia do dia toca de um aplicativo.
Enquanto comemos, falamos de contas, de planos,
da vida que caminha — e também rimos.
✍️
Levo as duas: uma para aprender, outra para ensinar.
Escolas diferentes, mas o mesmo cheiro de giz.
✍️
Volto. Molho a horta. Reviso a agenda.
Olho prazos, penso nos clientes.
Se der tempo, escrevo.
A poesia ainda não me paga — mas sustenta a alma.
Às oito, saio de casa para conquistar o meu dia.
✍️
Minha rotina não é prisão — é afeto encadeado.
Uma espécie de amor em série.
✍️
Entre um afazer e outro, penso:
a vida, às vezes, é como aquela xícara trincada no armário.
A que ninguém escolhe pra visita.
Mas é nela que o café parece estar mais quente.
✍️
Nas redes sociais, o mundo vive em festa:
quase uma orgia de dopamina.
Gente em praias, brindando ao pôr do sol.
Carros caros. Filhos prodígios. Casamentos filtrados.
✍️
Mas isso é só o que se mostra.
A maioria vive como a gente:
entre o despertador e o dia lá fora,
entre boletos e pequenos milagres.
Só que isso — quase ninguém curte.
✍️
A armadilha é tomar o recorte pela realidade inteira.
E esquecer que o extraordinário — quase sempre — se disfarça no comum.
✍️
A vida simples não se exibe.
Ela sussurra.
Talvez por isso não se poste:
porque o essencial não se posta — vive.

✍️ @opoetatardio — Pedro Trajano
https://opoetatardio.blogspot.com


Biografia:
Pedro Trajano é um poeta que chegou à escrita com a bagagem dos anos e o olhar amadurecido pelas experiências da vida. Casado, pai, formado em Administração e atuante como vendedor, começou a escrever aos 44 anos, dando voz a sentimentos antigos e reflexões profundas. Assina suas poesias como O Poeta Tardio, por acreditar que nunca é tarde para florescer em palavras.
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