Logo no início de janeiro, passeando pelo centro balneocamboriuense com meu companheiro, chamou-me a atenção um sex shop com uma gaiola externa presa ao alto, exibindo uma apresentação de dois gogo boys à plena luz do dia atrás daquele cubículo alto e gradeado. Os dançarinos atraíam olhares curiosos e envergonhados dos transeuntes, por serem homens musculosos e seminus em uma performance sensual. Ou, talvez, não é para tanto, já que o recém findo réveillon ainda se manifestava na ressaca coletiva e no clima de folias desinibidas. Mas para mim, basta pouco para me impressionar nesse sentido erótico.
A estratégia de marketing daquele sex shop atingiu seu objetivo: não fosse pelos dançarinos, eu não teria razões para ter entrado naquele ambiente que exalava sexo. A porta ficava um pouco mais escondida em uma rua lateral, e assim que entramos, vimos uma antessala no térreo com uma decoração bastante sugestiva e esvoaçante, as luzes combinadas com os tons vermelhos das paredes e com o couro escuro do sofá criavam um arranjo sádico. O acesso à loja, que ficava no andar de cima, era por uma escadaria, com avisos na parede informando ser proibida a entrada de menores de idade, e conforme subíamos, deparamo-nos com objetos e ornamentos cada vez mais quentes.
A loja estava movimentada, mas não tanto. Lá de baixo eu não imaginaria, já que não tínhamos visto nem ouvido mais ninguém. Alguns casais e mulheres desacompanhadas foram às suas compras sexuais de início de ano, talvez para inovar na transa ou para ter mais sorte no amor. Assim que entramos, vimos uma árvore natalina enfeitada com plugs anais em seus galhos, cestos, caixas e prateleiras repletos de réplicas de pênis e vaginas dos mais diversos tamanhos, cores, texturas e sabores, para todos os gostos, além de lingeries nada pudicas, cremes, óleos, bonecos, vibradores e tudo o mais que possa existir no universo sexual capitalizável.
Sou muito recatada, confesso. Quando o assunto é sexo, perturbo-me sem tanta dificuldade. Mas meu lado curioso falou mais alto quando me mandou entrar naquele recinto tão deslumbrante de pecados. Não havia nem cinco minutos que estávamos na loja, e uma moça que estava atrás do balcão atendendo um casal olhou para mim, notou o espanto em meu rosto jovem e disse em minha direção e em tom alto: “ela não pode estar aqui!”. Eu disse que era maior de idade, mas ela não acreditou e pediu que eu mostrasse minha identidade, para confirmar. Até eu desconfiaria, com esse meu porte de uma menina de quinze anos, e não raro, em shows e viagens costumam pedir que eu apresente minha identidade. Sinto que ainda não fui muito bem recepcionada no mundo adulto.
Já estive em outros sex shops antes sem passar por esse problema, mas nenhum era um lugar tão ousado quanto o desse dia. Em um ambiente como aquele, eu já estava naturalmente acanhada, e depois de ela ter se lançado contra minha presença, boa parte de quem estava na loja me notou, e pareciam incrédulos comigo. Depois de conferir, a moça amenizou o tom de voz e disse que já nos atenderia, mas resolvemos sair o mais rápido possível de lá. Dou toda a razão à atendente, sex shop não é lugar de criança. Quem sabe eu ainda seja iniciante nesse mundo da lascívia para me deixar encantar desse jeito, minha pele ainda precisa amadurecer um pouco para que eu me sinta mais confortável sem que alguém me pare, e eu não passo nenhuma credibilidade sexual em minha maneira de me vestir e de me comportar em público. Sinto que encontrei a fonte da juventude à custa da retração ao prazer, e que aparentar ser uma doce adolescente está me jogando em maus e em tórridos lençóis…
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