Ontem foi o dia da saudade, mas já sinto as saudades do dia de amanhã, sinto as saudades que não existem, porquanto as saudades de um acontecimento não ocorrido, que por pouco não se deu. É esse o tipo de saudade que mais dói, o sentimento de uma omissão arrependida, de um quase que poderia ter sido. A saudade é o que torna eterno um momento, ou, como disse Mário Quintana, é o que faz as coisas pararem no tempo.
Curiosamente, minha avó materna faleceu no dia da saudade, dia 30/01/2013, quando eu recém havia completado meus nove anos de idade, e ela, seus 63. Este é o tipo de saudade que nunca se deixará de sentir, mas é a dor de uma perda, que com o tempo, evoluirá ao estágio da memória e ganhará doces contornos imaginativos. Assim, ainda que a saudade bata às vezes em nossa porta, ela estará mais amena, ante a maciez tempo que passou sem volta.
Interessante haver um dia homenageando a saudade, já que ela por vezes nos faz sofrer tanto. Quem a sente, é ferido pela nostalgia do que foi vivido, ou pior, pelas lembranças que poderiam surgir de um evento memorável e verdadeiro. Sentir saudades machuca porque nos alerta para algo muito importante, mas que frequentemente esquecemos na inércia dos dias: tudo é finito, e tudo o que iniciou terá um fim, recordando-nos que o presente deve ser bem vivido para que sintamos saudades ao invés de tristeza, embora sejam sentimentos que bebem da mesma fonte.
O destino é implacável e não se importa com as saudades sentidas, a vida passa, vivências e lembranças vêm e vão. Mas aquilo que nunca foi não tem de onde vir nem como ir, ainda assim é capaz de deixar saudades que habitam as nossas idealizações. Havia um tempo em que eu preferia não arriscar, e todo o futuro que se escreveria a partir dali existia apenas em minha mente fecunda. Hoje penso que a saudade acompanhada de remorso é um luto da imaginação que nos atormenta em razão do comportamento ataráxico. Gostaria de poder dizer que faço tudo o que eu gostaria, mas sempre penso na memória que uma decisão me acarretará, por isso me abstenho e convivo com meus pensamentos que fantasiam um futuro ausente.
Cumprimento as saudades que me povoam como amigas que me acompanham há anos, é preciso saber conviver com elas, porque as saudades dizem muito sobre o que somos e sobre o que nos é essencial. Sentir saudades é estar vivo em um mundo no qual o luto costuma ser menosprezado, é reviver apesar das outras situações que constantemente a vida nos apresenta. Sinto saudades de pessoas queridas que já partiram, saudades de pessoas que ainda não conheço, mas que um dia as conhecerei e em outro dia mais adiante irão se despedir, saudades de uma coragem que ficou no passado, e, sobretudo, saudades das saudades que ainda terei.
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