A cidade de São Paulo está arrastando um 2º turno morno. Mesmo não sendo alguém que parecia ter “a cara” de prefeito, Pablo Marçal botou fogo no parquinho, embaralhou e tumultuou o jogo de cartas marcadas, transformando os debates e sabatinas em atrações nacionais.
Incoerente com aquela imagem de quem sempre é fotografado próximo a um tumulto incendiário, Guilherme Boulos demonstra um desespero para conquistar votos. Na última semana de campanha, ele foi dormir na casa de eleitores (?), comer sanduíche de pernil com Alckmin (?) e, o mais absurdo, exibiu alguns eleitores cenográficos, que teriam votado em Marçal, prometendo votar em Boulos.
Na encenação dele preparando a mochila para dormir numa casa qualquer, fiquei confuso: foi para não perder o costume de ocupar uma casa alheia? Diferentemente, do Donald Trump numa lanchonete, nenhum jornalista contestou a obra do marqueteiro; apesar de serem obrigados a se associar, os dois mantêm-se incomodados um com a proximidade do outro como se tivessem as consistências da água e do óleo; mas a aparente aproximação ao Pablo Marçal é tão bizarra que anula os dois. A esterilização prejudica a ambos, pois eles não têm eleitores, têm fãs: a frustração atinge quem admirava o Boulos baderneiro e o Marçal malucão.
Os artistas e celebridades requentaram aquele vídeo produzido, com um pedido de voto, com o que mais sabem fazer: representar. Parafraseando Fernando Pessoa: O ator é, antes de tudo, um fingidor. A eclosão dessas figuras, populares em algum grau, sempre esconde interesses financeiros, algum parentesco com o político ou a agenda oculta fomenta diretamente seu setor profissional. Exemplos: um dos participantes do vídeo de pedido de voto em Boulos é filho da candidata a vice-prefeita; qualquer governo é um dos principais contratantes de shows — e possível futuro produtor de novelas estatais. No fim, tudo é interesse financeiro.
Estrategicamente, esses videozinhos aparecem subitamente, numa revolução 2.0, querendo derrubar o governante que não disponibiliza os cofres públicos. Agora, num tipo de geração espontânea, surgem sujeitos de outros estados “ensinando” a votar em São Paulo. Mas quem votará só quer uma calçada melhor, a rua asfaltada, o farol funcionando...
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