O Que Será Que Houve?
Segunda-feira ensolarada e quente, trânsito engarrafado e aglomeração em torno da igreja no centro da cidade. Carro dos bombeiros, psicólogos, polícia e ambulância prontos para
entrar em ação. A imprensa cobria ao vivo o acontecimento competindo pela audiência. A multidão em êxtase gritava: se atira, medrosa.
Outros, irritados pela demora, até pedra queriam arremessar na jovem em represália à sua covardia. O suicídio não acontecia e a causa era toda do padre dizendo palavras pelo megafone que pesou na consciência da suicida. O impasse se prolongava e as tentativas de resgate foram em vão.
Alguém na multidão resolveu motivar ainda mais aquele drama e ganhar dinheiro com a situação. Criou ali uma bolsa de aposta que pagava três por um ao ganhador.
Os apostadores da morte gritavam para ela saltar e os da vida faziam coro para não pular.
Parecia uma plateia esportiva. Nada acontecia, até que, em dado momento, surgiu um motoboy de aplicativo, homem maduro em torno dos 30 anos, bonitão com postura de galanteador que a seu pedido foi autorizado a falar com a suicida e olhando bem fundo nos olhos dela lhe disse: “Menina, não faça isso. Você é linda e me apaixonei por ti”. Comovida, ela desaba em choro e se desconcentra, ele aproveita e a envolve em seus braços e pede um beijo, ela concorda e ele a beija na boca, bem demorado e apaixonado salvando sua vida diante dos aplausos e gritos de casa, casa do povão.
Muitos acreditavam que eles já se conheciam.
Ele abraçado à cintura dela, lá no alto da torre da igreja sob o delírio popular, pergunta: —
Meu amor, por que queria se matar?
Ela cheia de paixão responde:
— Os meus pais não me deixam vestir de mulher, nem que me operem as bolas...
Até o momento não se sabe se ela pulou, o motoboy a empurrou ou se ambos cometeram o suicídio.
Quem sabe não casaram!
Autor: Jonas Vasconcelos.
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